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De olhos abertamente fechados

Uma multidão imensa protesta contra o governo. Os governistas explicam: são os milionários. Mas tanto milionário assim?

Do Diário do Grande ABC
11/03/2015 | 07:00
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Uma multidão imensa protesta contra o governo. Os governistas explicam: são os milionários. Mas tanto milionário assim? Não, claro que não: as senhoras estão levando a criadagem, os maridos obrigam os funcionários de suas empresas a comparecer. Mas, politicamente, isso não tem o menor significado: no fundo, é só a elite endinheirada paulista. Os governistas fingem que não veem.

Este diálogo é real e ocorreu durante as manifestações contra o governo, num clima de terrível tensão. Muito temor: intervenção de forças estrangeiras, milícias de agricultores exigindo terras, corrupção, civis pedindo intervenção militar, ameaças de golpe oposicionista, ameaças de golpe governista. Data: 1964.

O panelaço contra Dilma foi imenso. Os governistas dizem que foram os milionários, a elite endinheirada paulista; que a criadagem teve de buscar as panelas Le Creuset, que foram todos para suas elegantes varandas gourmet em bairros nobres fazer o panelaço. Os fatos, pior para os fatos: Ricardo Kotscho, lulista desde quando não era chic ser lulista, secretário de Comunicação do governo Lula, petista até seus últimos e raros fios de cabelo, diz que no Jardim João XXIII, periferia extrema de São Paulo, houve o mesmo panelaço que na cidade inteira. E houve também em outras cidades, em todo o País. Mas é engraçado falar em revolução Cashmere. É mais fácil do que pensar.
É melhor fingir que não veem.

A crise se agrava e há quem finja que não há crise. Sem acordo – e logo – o velho filme de horror pode ser reprisado. Aquele em que, no fim, a gente morre.

As razões da razão

Fernando Henrique, o mais lúcido dos tucanos, revoltou os antipetistas por se opor ao impeachment. Fernando Henrique sabe o que fala: o PT ainda tem força, mobilização, recursos para reagir. Se Dilma for afastada, por mais legal que seja o processo, vira vítima. E, na eleição para a escolha de seu sucessor, quem será o candidato mais conhecido, capaz de se transformar no vingador da vítima? O próprio Lula. Afastar Dilma para entronizar Lula? E se, em outra interpretação da lei, a decisão for seguir a linha sucessória, sem eleições? Sobe o PMDB – o vice Temer, ou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, ou o presidente do Senado, Renan Calheiros. Tirar Dilma, com todos os seus defeitos, para colocar um dos três, que alia às conhecidas características do PMDB a habilidade política? Fernando Henrique pode ser atacado por vários motivos. Mas burro é que não é.

Lula e sua ouvinta

Dilma foi panelada no domingo, vaiada na terça por operários endinheirados da elite paulista que trabalhavam nos preparativos da abertura do Salão da Construção (deve ter sido a turma do andaime gourmet), domingo enfrenta marchas em que é a personagem principal – mais ou menos no papel de Felipão depois da Copa. Fez o que tinha de fazer: chamou papai. Prometeu-lhe tudo, até deixar de ser desobedienta. É difícil: Lula gostaria de vê-la livre de Mercadante, de quem ela gosta, por ser bravo da porta para fora e muito bonzinho da porta para dentro. E de Pepe Vargas, a quem Lula só não detesta tanto quanto a Mercadante porque nem sabe direito quem é. Lula, que é Lula, é afável no trato com os adversários; Dilma, que está longe de ser Lula, é prepotenta. Tratou mal até o próprio Lula, ao afastar do governo as pessoas mais ligadas ele, como Gilberto Carvalho. Mas, por melhores que sejam os conselhos de Lula, será possível desarmar os ânimos até domingo? Ou a solução continuará sendo tumultuar tudo com os black-blocs?

Lei de Murphy

Quando algo vai mal, tudo vai mal. Diga, caro leitor: quem é o ministro da Fazenda? Errou! Diz um documento oficial de 10 de março de 2015, do Ministério da Fazenda: “Agenda do Ministro Mantega do dia 10.03.2015”.

Muda!

Dilma achou um voluntário para ocupar uma das cadeiras mais difíceis do governo: Murilo Ferreira, presidente da Vale, executivo profissional bem-sucedido e com nome no mercado, será também presidente do conselho da Petrobras. Acumula os cargos; e melhor que o antecessor, Guido Mantega, certamente será. 




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