Clássico da dramaturgia do século XX, o texto fundamenta-se na memória – e no delírio, também – de Willy Loman (Nanini), o caixeiro-viajante do título. A Morte de um Caixeiro Viajante se edifica sobre as últimas 24 horas de um norte-americano médio. Prestes a tomar uma atitude extrema – o suicídio –, Loman se encontra no início da peça em processo de desintegração pessoal, causado pela inadequação a uma sociedade que o trata como descartável apesar da importância que teve para ela.
De acordo com Nanini, é possível deslocar a peça escrita em 1949 – o tempo presente está localizado no pós-guerra – para a atual realidade social. “O texto fala sobre a impossibilidade de um homem vencer a sociedade de consumo avassaladora. Hoje se vê isso mais claramente. Não há uma crítica a um governo, mas a uma situação em que o ser humano se vê dentro de um sistema em que é obrigado a ser um vencedor, um campeão. Assim, a peça nunca perde esse espírito crítico, que independe de determinados governos”, afirma.
O texto lida com o chamado sonho norte-americano – o sucesso a qualquer preço. Protagonista de uma tragédia urbana, Loman é um homem comum, ansioso por realizar um sonho, mas impossibilitado disso por conta dos obstáculos colocados pelo sistema no meio do caminho. Instalado no olho desse furacão, o aturdido caixeiro-viajante mergulha em uma confusão mental caracterizada por contradições. “É um retrato dos conflitos do ser humano”, diz Nanini.
Mulher de Loman, Linda (Juliana) procura devolvê-lo à realidade. “Ela é uma mulher comum, de classe média, que faz uma ode ao homem comum, aquele que nunca ganhou dinheiro demais nem teve seu nome publicado nos jornais. A rubrica (indicação do autor) informa que ela é naturalmente alegre. Linda tem uma simplicidade e uma devoção e não se dá conta da própria grandeza”, afirma Juliana.
A Morte de um Caixeiro Viajante rompe com a linearidade narrativa e insere a fragmentação da memória como elemento de amplificação da ação dramática por permitir seu livre transporte no espaço e no tempo. A tradução é a de Flávio Rangel (1934-1988), que dirigiu montagens em 1962 (com Stênio Garcia) e em 1977 (com Paulo Autran). Para a atual, o texto foi mantido na íntegra. “Não cortamos porque se trata de um texto extraordinário. Há cenas antológicas, como aquela em que Loman pede aumento ao patrão”, diz Nanini.
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