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Bastidores do prisma
Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
10/12/2006 | 19:55
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Uma reunião de belas e assustadoras canções que versam sobre temas universais como insanidade, opulência e alienação. Esta é só uma entre as diversas definições presentes no livro The Dark Side of the Moon – Os Bastidores da Obra-prima do Pink Floyd (Jorge Zahar Editor, 224 págs., R$ 40 em média), do jornalista inglês John Harris.

Ápice criativo da banda, o disco The Dark Side of the Moon, o popular álbum do Prisma, foi lançado em 1973. Vendeu espantosas 30 milhões de cópias em todo o mundo, o que lhe garantiu 14 anos na parada norte-americana da Billboard. O autor estima que um em cada cinco lares britânicos tenha o álbum.

Com o objetivo de compreender esse fenômeno musical arrebatador, Harris entrevistou ex-integrantes do grupo, roadies, amigos, empresários e colaboradores. Gente que forneceu farto material.

Porém, antes de conduzir o leitor a uma viagem que o transporta às gravações do disco, o autor dedicou os capítulos iniciais do livro, recheado de fotos inéditas, à reconstituição da cena cultural londrina na segunda metade da década de 60.

Nesse período, o Pink Floyd destacou-se no mundo underground sob a liderança do guitarrista e compositor Syd Barrett, morto em julho deste ano, em decorrência de diabetes. Sensível e com tendência à esquizofrenia, o artista sucumbiu ao consumo excessivo de LSD, que provocou sua saída da banda em 1968. Mentor da estréia fonográfica do grupo, The Piper at the Gates of Dawn (1967), Barrett não comparecia aos shows e, quando resolvia fazê-lo, podia passar o tempo todo tocando apenas um acorde na guitarra.

A mudança de rota ocorreu no início de 1972, quando os músicos, já sob o comando do baixista Roger Waters, começaram a lapidar os arranjos do repertório criado na turnê do disco anterior, Meddle. Ágil e envolvente, Harris detalha o processo de criação das faixas.

A música Brain Damage, por exemplo, com melodia nitidamente inspirada em Dear Prudence, de John Lennon, foi composta em homenagem a Barrett. Fala de seu declínio precoce: “Se a represa estourar, muitos anos antes do esperado/ Se sua banda começa a tocar em tons diferentes”. Outra faixa que contém referências à loucura é Us and Them, inspirada no médico escocês Ronald Laing, que acreditava na capacidade dos esquizofrênicos de realizar coisas mais notáveis que aqueles considerados sãos.

O pianista Rick Wright revela que a sequëncia de acordes do refrão de Breathe, música que sucede a vinheta de abertura Speak to Me, contém um acorde típico de jazz, utilizado no disco Kind of Blue, de Miles Davis.

Divergências – O êxito de The Dark Side of the Moon proporcionou fortuna aos integrantes do Pink Floyd, mas representou o começo do fim da banda. “Uma vez que você chegou lá, está tudo acabado”, resumiu Waters que, apesar de ter dividido o palco com os antigos companheiros no Live 8 do ano passado, não mantém relação com Gilmour há décadas. “Não acho que temos o suficiente em comum para que valha a pena reacender qualquer coisa entre nós. Mas seria bom que pudéssemos tocar os negócios sem muitos ressentimentos”.

Curiosidades

Título
Em 1972, a banda britânica de blues rock Medicine Head preparava o lançamento de um disco chamado Dark Side of the Moon. Por isso, o Pink Floyd intitulou temporariamente o álbum de Eclipse. Como o trabalho concorrente não obteve repercussão, a trupe de Waters manteve o título original, extraído da estrofe de Brain Damage.

Cantoras
O disco contou com participações especiais de quatro cantoras para os vocais de apoio: Barry St. John, Lesley Duncan, Doris Troy e Liza Strike. No fim das gravações, a cantora Clare Torry recebeu um cachê de 30 libras para solfejar na soturna The Great Gig in The Sky. Torry pensou que seus agudos sequer seriam aproveitados e só descobriu que a banda havia gostado da atuação meses depois, ao comprar o álbum.

Beatle rejeitado
Waters distribuiu cartões com perguntas formuladas por ele a convidados da banda. Os participantes deveriam responder sobre temas como insanidade e morte. Algumas respostas foram inseridas no disco. O ex-beatle Paul McCartney foi convidado, mas sua entrevista não foi aproveitada porque, segundo Waters, “foi a única pessoa que achou necessário interpretar”.



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