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Morre o ex-presidente Joao Figueiredo
Do Diário do Grande ABC
24/12/1999 | 15:00
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O ex-presidente da República Joao Baptista de Oliveira Figueiredo, que fechou o ciclo de governos militares no país (1979-1985), morreu na manha desta sexta-feira em seu apartamento, no bairro de Sao Conrado, na Zona Sul do Rio. Figueiredo passou mal durante a madrugada e seus familiares chegaram a chamar o médico que o assiste, Aloysio Salles, mas ele nao resistiu a uma parada cardíaca e faleceu às 9h30, segundo o próprio médico. O ex-presidente, que completaria 82 anos em 15 de janeiro, sofria de problemas respiratórios, além de distúrbios renais, cardíacos e visuais.

A assessoria do presidente Fernando Henrique Cardoso informou nesta sexta que ele nao participaria nem do velório nem do enterro do ex-presidente Figueiredo, o que ficaria a cargo do comandante do Exército, Euber Vieira. O corpo do ex-presidente será velado em sua residência, localizada na Rua Prefeito Mendes de Moraes, 1.400. O enterro acontecerá por volta das 11h deste sábado no cemitério do Caju, na Zona Portuária do Rio.

O prédio em que morava o ex-presidente, no condomínio Praia Guinle, de frente para o mar, foi cercado nesta manha por policiais militares, que se queixaram pelo fato de nao serem recebidos pela família de Figueiredo.

Conhecido por sua postura rígida e frases polêmicas, ao abandonar a vida política, Figueiredo disse: "Quero que o povo me esqueça". Outra declaraçao do ex-presidente lembrada até os dias de hoje foi a resposta que ele deu a uma criança que o questionou o que faria se vivesse com um salário mínimo: "A única soluçao é dar um tiro na cabeça", afirmou. Figueiredo também já chegou a dizer: "Prefiro cheiro de cavalo ao cheiro do povo".

Vizinho e amigo do ex-presidente, o presidente da Confederaçao do Comércio, Antônio Oliveira Santos, contou que nas últimas duas semanas Figueiredo já nao andava e estava com a saúde precária. "Ele estava de cadeira de rodas", disse Santos. Segundo comentou, nos últimos seis meses o ex-presidente já nao reconhecia as pessoas "mas mantinha uma boa memória para relembrar fatos antigos".

Santos disse que Figueiredo expressou seu desejo de escrever um livro sobre suas experiências no comando do governo e na sua passagem como chefe do entao Serviço Nacional de Informacoes (SNI), mas "nao chegou a iniciar o projeto".

O irmao do ex-presidente, general Diogo Figueiredo, soube do falecimento através de parentes. As 11h45, quando foi contatado pela reportagem, disse que acabara de receber a notícia e nao quis dar declaraçoes, afirmando estar muito emocionado e nao saber de detalhes sobre a morte do irmao.

Amigos - Ex-ministro da Fazenda no governo Figueiredo, Ernani Galvêas disse que o general estava sofrendo havia muito tempo de problemas nos rins e insuficiência respiratória. Galveas lembrou que ele e outros antigos companheiros costumavam se encontrar para almoços no aniversário do ex-presidente. O último almoço aconteceu em julho, pouco antes de seu estado de saúde se agravar, contou Galvêas. "Sinto muito a morte dele, o general sempre foi um grande amigo", disse. "Ele fez um governo correto, com uma equipe coesa", afirmou Galvêas, acrescentando que Figueiredo "foi o autor da abertura política, instituiu um projeto de lei de eleiçoes diretas e ficará na História de forma positiva".

Antigo chefe da Secretaria Geral do Ministério do Exército no governo Figueiredo, o general Otavio Costa disse que conheceu o ex-presidente há 53 anos, quando ambos serviam na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende. Mas, segundo contou, ele viu Figueiredo "à distância" como chefe do Serviço Nacional de Informaçoes (SNI) e presidente da República. "Nao posso dizer que chegamos a ser amigos, nosso relacionamento sempre foi difícil, mas respeitoso e cordial", disse. "O general Figueiredo era um homem excepcionalmente inteligente e de grande caráter, de boa cultura, forte liderança militar, marcado por indisfarçável vaidade". Segundo Costa, Figueiredo tinha "temperamente imprevisível, algumas vezes explosivo, e caracterizado por só admitir amizades e adesoes incondicionais".

Costa afirmou estar convencido de que Figueiredo foi a principal liderança do movimento militar de março de 1964, "pois foi o único a dele participar do princípio ao fim". "Como tenente-coronel, foi um dos principais articuladores, como general e presidente, foi um dos responsáveis pela abertura e a figura decisiva da anistia", afirmou. Disse ainda que Figueiredo foi um "homem público sincero e impetuoso, inábil e grosseiro, e nunca chegou a ser um bom político". "Por tudo isso, e apesar de seus inegáveis méritos, é improvável que a História venha reconhecê-lo como o presidente que gostaria de ter sido", concluiu.




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