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Operação da PF contra a Kroll prende cinco funcionários
Do Diário OnLine
Com AE
27/10/2004 | 23:35
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A PF (Polícia Federal) deflagrou nesta quarta-feira a ‘Operação Chacal’ e prendeu cinco acusados em São Paulo, supostamente envolvidos numa intrincada história de espionagem empresarial, que também teria como alvo autoridades do governo. A ação policial, que contou com a participação de 90 agentes, ocorreu simultaneamente em São Paulo, Brasília, Paraná e Rio de Janeiro, e teve como objetivo cumprir 16 mandatos de busca e apreensão expedidos pela Justiça Federal contra a empresa de consultoria Kroll Associates.

A ação teve inicio em março deste ano por meio das investigações sobre a disputa do controle da Brasil Telecom pela Telecom Italia e pelo Banco Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas. A Kroll, suspeita de agir ilegalmente e cometer crimes de oferecimento de vantagem a testemunha, divulgação de segredo, quebra de sigilo bancário, usurpação de função e quebra de sigilo telefônico, teria sido contratada pela operadora de telefonia Brasil Telecom para investigar a Telecom Itália, que é acionista da empresa brasileira.

Entre os presos estão o presidente da Kroll, Eduardo Sampaio Gomide, o gerente Vander Aloisio Giordano, a investigadora Júlia Marinho Leitão da Cunha, e os funcionários Rodrigo de Azevedo Ventura e Ricardo Sanchez, ambos acusados de operar aparelhos de escuta dentro da empresa. Eles foram levados para a sede da PF para prestar depoimentos e serão indiciados por formação de quadrilha — a pena para o crime varia de um a três anos de reclusão.

Armados com marretas, fuzis e submetralhadoras, além das prisões, os agentes da PF confiscaram dezenas de computadores e documentos que comprovam a espionagem contra empresas de telefonia e fabricantes de cigarro e de bebidas e 12 malas de equipamentos de gravação que podem ser usados em escutas ilegais.

A PF queria prender Dantas e a empresária Carla Cicco, da Brasil Telecom, por suposto envolvimento com "organização criminosa", e pediu autorização à Justiça. O juiz Luiz Renato Pacheco Chaves de Oliveira, da 5ª Vara da Justiça Federal paulista, não deu permissão para a prisão de Dantas e de Carla, mas autorizou a busca e apreensão de documentos que se estendeu para outros endereços, em Curitiba, Brasília e Ribeirão Preto.

A origem da Operação Chacal está no caso Parmalat, processo criminal da 5ª Vara que apura lavagem de capitais e evasão de divisas. Durante o processo, uma testemunha, o motorista Adelson Pugliesi, que trabalhou para a presidência da Parmalat, denunciou que teria sido procurado para realizar um trabalho de arapongagem na Telecom Itália, ligada à Parmalat.

A Telecom Itália foi à Justiça e entregou um CD contendo informações sobre empresas e autoridades investigadas pela Kroll, supostamente por encomenda do Opportunity e da Brasil Telecom. Em setembro, o processo da Parmalat foi transferido para uma vara especializada em processos sobre lavagem de valores, inaugurada pelo ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos.

O juiz Chaves de Oliveira mandou abrir procedimento criminal para investigar a espionagem, uma apuração à parte da ação sobre a Parmalat. O primeiro nome apontado foi o do português Thiago Verdial, espião da Kroll. A investigação revela que Verdial teria cooptado agentes públicos para obter dados bancários, fiscais e telefônicos, protegidos pelo sigilo legal. A PF não descarta a possibilidade.

Dantas e Carla estão sob suspeita de terem contratado a Kroll. O juiz não autorizou a prisão do banqueiro e da empresária sob o argumento de que, por enquanto, existe apenas a suspeita sobre o grupo. A PF pretende indiciar criminalmente Dantas e Carla. Os prisioneiros da Operação Chacal - todos funcionários da Kroll, inclusive dois executivos - foram autuados por formação de bando e serão indiciados por espionagem empresarial, violação de sigilo bancário, de sigilo telefônico e telemático, além de usurpação de função.

Kroll - A Kroll informou, por meio de nota divulgada nesta quarta, estar à disposição das autoridades para prestar os esclarecimentos que forem necessários. A nota diz ainda que não se utilizou de práticas ilegais e que não houve espionagem de nenhum agente do governo brasileiro.

Em meados deste ano, a apuração que a presidente da Brasil Telecom, Carla Cico, pediu à Kroll para obter informações da Telecom Itália se tornou um escândalo nacional, pois envolveu o chefe da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República, Luiz Gushiken, e o presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, que tiveram e-mails e ligações telefônicas monitorados.




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