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Vaticano diz que igrejas protestantes nao sao as 'verdadeiras'
Do Diário do Grande ABC
05/09/2000 | 13:13
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Numa demonstraçao de conservadorismo, o Vaticano publicou nesta terça-feira um documento que nega a condiçao de igrejas às religioes protestantes, assumindo o risco de comprometer o diálogo ecumênico.

O documento foi publicado apenas dois dias depois da controvertida beatificaçao do Papa Pio IX, que provocou várias críticas, entre elas as dos judeus, que o consideram um antisemita.

``Existe uma única igreja de Cristo, que se perpetua na igreja católica, governada pelo sucessor de Pedro (o Papa) e os bispos, em comunhao com ele'. Portanto, ``as comunidades eclesiásticas que nao conservaram o episcopado válido (ou seja, bispos ordenados por outros católicos) nem a substância íntegra do mistério eucarístico (a comunhao) nao sao igrejas propriamente ditas', afirma a Declaraçao Dominus Jesus, aludindo à igreja anglicana e às igrejas surgidas da Reforma.

Esta declaraçao, firmada pela Congregaçao Vaticana pela Doutrina da Fé e ``aprovada' por Joao Paulo II em 16 de junho, afirma sobre as igrejas ortodoxas: ``as igrejas que, sem a comunhao perfeita com a Igreja Católica, permanecem unidas a ela por estreitos vínculos, como a sucessao apostólica e a eucaristia válida, sao verdadeiras igrejas particulares'.

A Declaraçao, apresentada pelo cardeal Joseph ratzinger, chefe da Congregaçao vaticana que substituiu o Santo Ofício em 1965, condena como ``claramente contrário à fé católica' considerar a Igreja de Cristo ``como um caminho de salvaçao entre outros'.

``Apesar de admitir que as diferentes tradiçoes religiosas contêm e propoem elementos de religiosidade procedentes de Deus', elas nao têm a ``eficácia salvadora' dos sacramentos cristaos, segundo o documento, que garante que ``de outros ritos nascem superstiçoes ou erros que acabam se tornando mais um obstáculo para a salvaçao'.

``A igualdade, condiçao do diálogo, significa igual dignidade pessoal das partes, mas nao igualdade das doutrinas, e ainda menos igualdade entre Jesus Cristo, Deus feito homem, e os fundadores de outras religioes', diz o documento.

O Vaticano justifica sua posiçao, explicando que ``a perenidade do anúncio missionário da Igreja está em perigo hoje por causa das teorias relativistas, que querem justificar o pluralismo religioso'.

A Declaraçao Dominus Jesus é ``infalível', explicou na coletiva de imprensa de apresentaçao do documento o arcebispo Tarcisio Bertone, secretário da Congregaçao para a Doutrina da Fé, recomendando que os fiéis obedeçam seus ensinamentos de maneira ``definitiva e irrevogável'.

As reaçoes a este documento foram imediatas. O arcebispo de Caterbury, monsenhor George Carey, primado da igreja anglicana, criticou a declaraçao do Vaticano, dizendo que ela ignora ``a comprensao mais profunda que se desenvolveu nos últimos 30 anos mediante o diálogo e a cooperaçao ecumênica'.

``A igreja anglicana nao aceita nem por um instante que seu ministério e sua eucaristia sejam insuficientes', e ``se considera parte de uma mesma santa, católica e apostólica igreja de Cristo'.

Por sua vez, o presidente da Federaçao Protestante da França, (FPF), o pastor Jean-Arnold de Clermont, manifestou a ``triste surpresa' dos protestantes com o documento católico.

``A afirmaçao nao é nova, mas por que sua repetiçao hoje, depois de 40 anos de compromisso ecumênico?', questionou, num comunicado publicado nesta terça-feira.

``Esta nova declaraçao do Vaticano contrasta singularmente com os conselhos sobre humildade e abertura que ouvimos da Igreja católica durante o ano do Jubileu' e ``representa um duro golpe ao trabalho ecumênico, ao confirmar as desconfianças de quem acredita que Roma nao abandonou a pretensao de simplesmente absorver as outras igrejas', disse.

Em Genebra, o Conselho Ecumênico das Igrejas lamentou nesta terça-feira o documento católico e lembrou ao Vaticano a necessidade de um ``testemunho cristao comum' para o começo do terceiro milênio.




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