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Dólar atinge maior valor em dez anos

Moeda norte-americana é cotada a R$ 2,83;
para quem vai viajar, divisa é vendida a R$ 2,97

Leone Farias
Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
11/02/2015 | 07:13
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Divulgação


Há mais de dez anos o dólar não subia tanto como agora. Ontem, o dólar comercial fechou o dia em R$ 2,83. É o maior patamar desde 8 de novembro de 2004, quando a moeda norte-americana atingiu R$ 2,82. Ruim para os consumidores, que em pouco tempo terão alta nos preços. Bom para as companhias exportadoras, que ganham competitividade no mercado internacional. Para quem pretende viajar ao Exterior, ficou ainda mais caro: o dólar turismo atingiu, em média, R$ 2,97.

A grosso modo, o cenário econômico do País em desaceleração tem apresentado risco para os grandes investidores. Esses agentes, normalmente institucionais, como bancos e gestores de fundos nacionais e estrangeiros, também se sentem insatisfeitos com a crise na Petrobras. A estatal é uma das empresas mais negociadas na Bolsa de Valores. Com isso, o grau de incertezas aumentou. O resultado foi uma fuga de capital do Brasil, em outras palavras, a retirada de dólar com a venda dos ativos, o que elevou sua cotação.

Para os consumidores, o impacto é praticamente imediato. Produtos importados que entraram na lista de despesas habituais das famílias devem ser remarcados. O varejo, antes de sair para as compras para reabastecer os estoques, se previne antecipando seus reajustes. “O efeito já está sendo visto nas prateleiras dos supermercados. O consumidor brasileiro já se acostumou, por exemplo, a comprar vinhos da região do Mercosul (em dólar). Vamos encontrar cervejas uruguaias, belgas, alemãs, que o pessoal se acostumou a consumir, mais caras, pois há um impacto direto”, avaliou o presidente da Ordem dos Economistas das Brasil, Manuel Enriquez Garcia, o Manolo.

Os eletroeletrônicos são outra categoria que deverá sofrer alta nos preços. Boa parte dos seus componentes é importada. Essa premissa faz com que os comerciantes estimem que enfrentarão inflação nas compras da indústria. Por isso, a tendência é que assumam a postura defensiva e antecipem, no quanto cobram, os reajustes. “Quem (empresário) comprou, importou e já pagou, com previsão de demanda correta, deverá aumentar os preços porque já vai pensar em reposição mais cara”, avaliou o especialista em varejo da FIA (Fundação Instituto de Administração) Nuno Fouto. Ele destacou que a única situação em que o varejista, talvez, segure seus preços, é se ele estocou muito além da demanda. “Quem vai realmente regular isso, no fim, são as vendas.”

Manolo acrescentou ainda que as tarifas aéreas também deverão encarecer. “Se ele (turista) vai viajar, tanto em voos nacionais como internacionais, em que os preços já são em dólar, geralmente o querosene (combustível dos aviões) é importado. Então os preços das passagens devem subir.” Neste caso, a cotação usada é a do turismo. Quem já voltou de férias no Exterior e a fatura do cartão de crédito ainda não foi liquidada, provavelmente terá surpresas. O câmbio utilizado, neste caso, é o comercial do dia do pagamento, e não nos períodos em que o plástico foi utilizado.

EMPRESAS - As companhias exportadoras veem com bons olhos o dólar na faixa dos R$ 2,80, mas a dúvida dos dirigentes empresariais é se esse nível da taxa cambial vai se manter pelos próximos meses. “Não há garantia de que vai permanecer durante muito tempo, porque o governo não tem interesse, vai tentar baixar para controlar a inflação”, afirma o presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro.

O dirigente acrescenta que a continuidade do patamar elevado é importante para dar previsibilidade às empresas, para que possam selar contratos, principalmente no caso de vendas de manufaturados (como veículos e autopeças) ao Exterior. Ele explica que o momento do fechamento do contrato de venda ao Exterior não é o mesmo em que a indústria recebe, já que é preciso produzir e embarcar, o que leva no mínimo três meses. “Ainda está muito volátil (com altos e baixas), não dá para dizer se vai se manter (nesse patamar)”, diz o vice-diretor da regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Diadema, Anuar Dequech.

Além disso, apesar da melhora da taxa cambial, os custos elevados no País, por exemplo, de encargos trabalhistas e tributos, continuam sendo entrave para a competitividade das fabricantes nacionais, assinala o vice-diretor da regional do Ciesp de São Caetano, William Pesinato.  




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