O chefe do tráfico na Rocinha, Luciano Barbosa da Silva, o Lulu, foi morto nesta quarta-feira em confronto com agentes do Bope (Batalhão de Operações Especiais) no alto do morro, numa área conhecida como Terreirão. De acordo com a assessoria de imprensa da Polícia Militar, também morreu outro traficante que estava com ele, Ronaldo Araújo da Silva, o Didão, responsável pelos pontos de mototáxi da Rocinha. Com eles foram encontradas 5 armas.

O confronto ocorreu entre 15h e 16h, quando houve tiroteio intenso no alto da Rocinha. Outros 23 homens, suspeitos de pertencer ao bando de Lulu, foram presos. A notícia da morte de Lulu, que se espalhou rapidamente antes de ser confirmada pela polícia, às 17h30, foi recebida como uma tragédia por moradores da Rocinha.

Lulu era visto como um benfeitor, um homem moderado que trouxe 'paz' à Rocinha. Em contrapartida, o traficante Eduíno Eustáquio de Araújo, o Dudu, cujo bando invadiu a favela na madrugada de sexta-feira para tentar recuperar seu controle – perdido quando ele foi preso, em 1995 – é tido como um 'sanguinário'.

Repercussão – "É uma má notícia", reagiram moradores à pergunta sobre o que significava a morte de Lulu. "Ele representava a estabilidade, a tranqüilidade que tivemos nos últimos dez anos", disse a pedagoga de uma escola de educação. "Com a morte dele, começará uma guerra pelo controle da favela." Muitos moradores não escondiam a estima por Lulu. "Ele ajudava a comunidade a resolver os problemas", disse uma moradora. "É um homem moderado", garantiu um taxista.

A iniciativa mais apreciada de Lulu foi a criação de uma "ouvidoria", que funcionava toda segunda-feira, atendendo moradores que tivessem alguma desavença com um vizinho ou alguma outra queixa. Um "ouvidor" do bando de Lulu intercedia e dava a solução. "Nem no Judiciário vi maneira tão tranqüila de resolver as coisas", elogia um estudante de direito, morador da Rocinha.

Além disso, o bando de Lulu lavava dinheiro na favela, impulsionando o comércio e a construção civil da Rocinha, que começa a ter prédios e casas de melhor padrão. Lulu era sobrinho de Denir Leandro da Silva, o Dênis da Rocinha, cuja prisão, em 1987, causou protestos de moradores.

Em contraste, Dudu foi preso numa noite em sua casa, depois de ser delatado por moradores. Na disputa entre os dois, a comunidade tende a ver Lulu como pertencente a ela, e Dudu – cuja volta tem o apoio da facção criminosa Comando Vermelho – como alguém de fora.

Vários moradores testemunham que, quando comandou o tráfico, na primeira metade dos anos 90, Dudu aterrorizou a comunidade. Além de mortes, há vários casos de estupros atribuídos a ele.