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Eleição municipal, com decisão estadual
Beto Silva
Do Diário do Grande ABC
03/04/2011 | 08:55
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A confusão gerada pelo prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), com o PMDB municipal escancarou uma prática que será corriqueira até a eleição do ano que vem: a busca por votos será em âmbito municipal, mas as definições serão na esfera superior. Os apoios e definições de alianças serão definidos pelas executivas estaduais dos partidos e os diretórios das cidades ficarão ao léu das discussões.

Na quarta-feira, Marinho teria reunião com integrantes da direção paulista do PMDB para selar parceria até o fim deste mandato e para o pleito de 2012. O diretório municipal da sigla não foi avisado do encontro, tampouco dos rumos que a conversa tomaria. Resultado: o diálogo entre o petista e os peemedebistas foi cancelado e as lideranças são-bernardenses ficaram revoltadas com a situação.

A manobra pode garantir adesão da agremiação partidária. Mas, na prática, pode não resultar em votos. Isso porque a legenda estará formalmente num arco de aliança, porém, os puxadores de voto no município (candidatos a vereador) e militantes (cabos eleitorais) podem não trabalhar efetivamente para conquistar os eleitores ao pleiteante ao Paço. A reação se daria por retaliação ao fato de a decisão ter sido tomada ‘de cima para baixo', sem consulta às bases locais.

Esse quadro de influência da estadual sobre a municipal é possível pela fragilidade dos partidos nas cidades, que na maioria das vezes possuem comissões provisórias na direção, sem poder de decisão. "Principalmente os pequenos, mal conseguem sobreviver nos municípios. A política brasileira tem como norma valorizar lideranças, pessoas de maior expressão. Os diretórios municipais servem apenas para chancelar a situação", analisa o cientista político Rui Tavares Maluf.

Em São Bernardo, há outros exemplos de que as definições serão concretizadas pela direção estadual dos partidos - apesar de a atividade estar presente na maioria das cidades. O PSB tem três vereadores na oposição e dois no bloco de centro.

Os contrários à gestão petista querem continuar na configuração. Os centristas visam ter flexibilidade para poder pender a qualquer lado e garantem ter ‘carta branca' do presidente estadual, Márcio França (secretário de Turismo do Estado).

A solução virá da executiva estadual socialista. "Estamos agendando reunião com a direção paulista do PSB. Estamos confiantes de que manteremos nossa posição", afirma o vereador oposicionista de São Bernardo Ary de Oliveira (PSB).

Outras legendas de menor expressão na cidade passarão pelo mesmo processo. Verão os acordos serem estabelecidos pelas executivas estaduais em detrimento às municipais.

Como ocorreu em 2008 com o DEM. Eleito prefeito em outubro, Luiz Marinho procurou o presidente municipal e estadual do Democratas, Gilberto Kassab, para avalizar a mudança de lado da sigla, que havia disputado o pleito como adversária do petista. Conversa realizada, acordo selado. E o governo, que iniciaria o mandato em minoria no Legislativo foi reforçado e equilibrou as forças (na ocasião, ficou com 11 aliados e dez contrários).

Os diretórios municipais de grandes legendas, como PT e PSDB, dificilmente sofrem intervenções das executivas estaduais, porque ou encabeçam as chapas ou são representados por candidatos a vice-prefeito.

Poucas siglas têm autonomia para resolver suas situações

Além dos partidos de expressão, poucas siglas têm autonomia para resolver suas situações internamente. É o caso do Psol. Mas a circunstância é peculiar, já que o espaço para manobra da legenda é restrito.

O Psol tem direcionamento de esquerda e invariavelmente coliga-se com agremiações de mesma ideologia, como PSTU, PCB e PCdoB. Assim, são escassas as possibilidades de composição com demais siglas, ainda que de centro-esquerda.

"Somente com propostas sólidas e claras presentes isso se torna viável, mas vemos pouco disso no Brasil. Normalmente os partidos são abertos a contradições", discorre o especialista Rui Tavares Maluf.

O PPS de São Bernardo também é exceção. O crescimento político do partido e de sua maior liderança regional, o deputado estadual Alex Manente, lhe confere independência para que as decisões sejam locais.

Fato que comprova essa leitura é o prefeito Luiz Marinho ter procurado o parlamentar para tentar reeditar em 2012 a parceria efetivada a partir do segundo turno da eleição de 2008. As movimentações são acompanhadas pelo presidente estadual do PPS, Davi Zaia, mas não há ingerência no processo.

No pleito do ano passado, Alex Manente foi o candidato a deputado estadual mais votado na cidade, com 68.127 votos. E em 2008, disputou a Prefeitura como terceira via, ficando na terceira colocação (49.440 sufrágios, ou 12,24% dos votos válidos), mas tendo participação importante para a vitória petista no segundo turno.




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