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Locadoras mudam perfil para resistir às dificuldades
Vinicius Gorczeski
Especial para o Diário
03/04/2011 | 07:55
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O mercado de locadoras de vídeo bebe da tecnologia a fim de ganhar sobrevida. Tudo porque, desde 2007, o nicho já amargou o fechamento de 60% das lojas no Grande ABC, segundo levantamento da locadora 100% Vídeo, e do presidente do Sindemvideo (Sindicato das Empresas Videolocadoras do Estado de São Paulo), Luciano Tadeu Damiani.

Também nesses quatro anos, 40% das lojas no Brasil encerraram as atividades. A estimativa do diretor de franchising do grupo, Carlos Augusto, é de que o índice representa 10 mil estabelecimentos. E perdas anuais de R$ 30 milhões.

E foi pouco antes desse cenário de quedas que a rede 100% Vídeo começou a pensar na inovação do setor. Em 2005, a empresa começou o desenvolvimento de um software que permite ao consumidor levar os filmes para casa, no pendrive. Depois do prazo de locação, de 24h ou 48h, o filme é bloqueado para novos acessos.

Se quiser assistir de novo, basta alugá-lo novamente, que uma chave é liberada. O dinheiro investido no início foi de R$ 350 mil. Mas o empenho demandou montante de R$ 2,9 milhões.

A ideia surgiu após constatarem que o cliente internauta já tinha o hábito de levar seus arquivos no dispositivo de armazenamento. "O cliente quer comodismo. O software permite que ele leve os filmes que quiser. É uma tecnologia inédita no mundo todo", afirma Augusto. A distribuição de filmes usa o Gestor Digital de Direitos (DRM, na sigla em inglês), como forma de travar o acesso depois do prazo contratado pelo consumidor.

Tudo já foi testado e a expectativa é colocar o serviço no mercado neste semestre, em 100 pontos comerciais. Entre aeroportos, shoppings, supermercados, cafeterias etc. Augusto tem desejo de ampliar para 20 mil os pontos de distribuição, dentro de cinco anos. Mas a expansão vai depender da reação dos clientes.

A maior responsável pelo sabor azedo no setor é a pirataria. Damiani diz que os aluguéis caíram de 40% a 60% no Estado, desde 2007. "Nessa época sofria com a pirataria de rua. Hoje ainda compito com a internet. Apesar de termos a pior banda larga do mundo, os downloads prejudicaram muito o setor", diz ele.

O proprietário da Opus Vídeo Locadora, em São Bernardo, José Mauro Del Castillo, reclama da concorrência desleal. "Não conseguiremos nada se as autoridades do Grande ABC não tomarem providências. Já fechei duas lojas e estou em vias de fechar a terceira." Ele diz que viu o faturamento recuar 60% desde 2008. Também afirma que em qualquer esquina da região hoje é possível encontrar mercadorias falsificadas. "Está pior do que em São Paulo", completa. Ele cita a rua Carijós, em Santo André, como exemplo de local recheado de vendedores ilegais. "É uma afronta a qualquer pessoa do bem."

Região lidera maior fechamento de lojas nos últimos quatro anos

O setor de videolocadoras do Grande ABC representa uma das maiores perdas do nicho no Estado, segundo balanço do diretor da 100% Video, Carlos Augusto. Nos últimos quatro anos, 60% das lojas quebraram. E as cidades campeãs de reclamações na região são Santo André, São Bernardo do Campo e Diadema, segundo o representante. E para ele, o destaque em termos de combate ao mercado paralelo é São Caetano.

O proprietário da Speed 21 DVD, Robon Alves da Silva, atesta a análise. "É a única cidade da região que não tem tanto problema com isso. Em Santo André, onde você for tem, mas em São Caetano é mais escondido", define.

A prefeitura de São Caetano afirmou que as secretarias de Administração e Gestão e de Controle Urbano fiscalizam o município para coibir o comércio de ambulantes ilegais. Outro exemplo foi lei aprovada no fim de 2010 afim de inibir atividade pirata.

O Paço de Diadema informou que a Polícia Civil e Federal são as principais empenhadas nesse combate, mas que também faz blitz contra a ação. Para evitar que pessoas atuem na pirataria, a administração visita diariamente comércios para confiscar mercadorias ilegais. No ano passado 150 mil CDs e DVDs piratas foram confiscados e doados para reciclagem.

Blue-ray reverte queda das locadoras

A evolução tecnológica foi o ingrediente que faltava para o setor de locadoras de filmes. A chegada do blue-ray - uma mídia que irá substituir os famosos DVDs, tal como aconteceu com o fim das fitas K7 - fez com que os empresários do ramo comemorassem. O disco não pode ser copiado.

O presidente do Sindemvideo (Sindicato das Empresas Videolocadoras do Estado de São Paulo), Luciano Tadeu Damiani, afirma inclusive que o inovação já animou o setor, pois houve crescimento em 2009 contra o ano anterior. "Foi bem pequeno, mas houve", diz ele, que não dispõe dos dados fidedignos.

A Monkey Vídeo Locadora, cuja proprietária é Aline Simões Ferrarezi, está indo de vento em popa, segundo a dona. Ela já viu retornar aos caixas investimentos de R$ 20 mil que fez há cerca de um ano, por exemplo.

E o sucesso foi conseguido justamente por conta da nova mídia, em que investe mensalmente, junto às demais ofertas, R$ 2.500.

Mas não foi sempre assim. Em março de 2010, quando anunciou que compraria o estabelecimento, foi taxada de "louca", pelos conhecidos. "Comprei a locadora quebrada, não tinha nada de blue-ray, apenas DVDs. Comecei a investir esperando o pior, para ser sincera. Todos diziam que a pirataria tinha tomado conta de tudo", explicou Aline.

Quando focou no público-alvo das classes A e B - que dispõem de TV de alta definição e prefere essa mídia para usufruir de mais qualidade nas imagens -, segundo ela, além de ter criado um site da loja, viu os negócios prosperarem.

"Meu público também é na maioria homens, que preferem filmes de comédia e ação. Depois de tudo isso, as locações subiram 60%", comemora. Aline afirma ainda que seguirá investindo, tanto nos serviços de entrega quanto na infraestrutura e filmes.

O dono da Speed 21 DVD, Robson Alves da Silva, disse que os blue-rays ainda têm espaço para crescer dentro do mercado, já que ainda representam 10% de tudo o que aluga. Depois que investiu na tecnologia, já comemora crescimento, que ocorreu após mau momento, há um ano e meio.

MULTISSERVIÇOS - Há ainda quem atira para vários lados para atrair novos clientes. Silva conta com uma pizzaria, junto com a locação de filmes.

O dono da Opus Vídeo Locadora, de São Bernardo, José Mauro Del Castillo, também oferece serviços de cafeteria e sorveteria, por exemplo. Apesar dos problemas, investe 40% do que fatura na loja, ao mês, especialmente no blue-ray.

A expectativa é de que, com a popularização da mídia e dos aparelhos que rodam esse formato, o setor volte a crescer. Damiani dá exemplo de como uma TV Full HD - capaz de rodar as imagens mais detalhadas - tiveram corte de quase a metade do preço de 2010 para 2009. Ou seja, custo médio de até R$ 6.000 para R$ 2.500. E o mesmo ocorreu com aparelhos de blue-ray. Começaram salgados há dois anos, custando R$ 1.000, e hoje já são encontrados por cerca de R$ 500 no varejo.

"Se houver massificação, com certeza esperamos um crescimento", diz Damiani.

Games são estratégia para impulsionar negócio

Outro filão que enche os olhos dos empresários do ramo de videolocação são os video-games. Os novos consoles, como o Playstation 3, da Sony, o Wii, da Nintendo, e o Xbox, da Microsoft ajudaram a enfraquecer a pirataria, já que suas mídias não podem ser copiadas ou têm acesso mais restrito nos comércios ilegais.

"Depois de uma semana o indivíduo já completou todas as etapas do jogo. É mais vantajoso alugar novos do que comprar", diz o diretor da 100% Vídeo, Carlos Augusto que indica a alta desse nicho, em que muitas locadoras o têm como "menina dos olhos".

O dono da Speed 21 DVD, de São Caetano, Robson Alves da Silva, é um exemplo desse perfil. Tanto que, apesar de os DVDs ainda representarem boa fatia do que aluga, já conta com os games pesando mais do nunca no leque de opções.

Eles já representam 35% dos serviços. "Se não fossem os jogos acho que já teria fechado as portas", estima ele, que investiu R$ 50 mil na modalidade, junto com os blue-rays. Tanto que já cresceu 20% desde dezembro. Esperamos manter essa taxa até o fim do ano.




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