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Greenhalgh é contra reabertura do caso Celso
Raymundo de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
07/07/2002 | 20:54
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Conhecido por ser um ferrenho defensor de investigações sobre denúncias de irregularidades administrativas em todas as esferas do poder público, crimes contra os direitos humanos e entidades de esquerda como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, deputado federal pelo PT de São Paulo, afirma que é totalmente contrário à reabertura das investigações sobre a morte do prefeito Celso Daniel (PT), seqüestrado e assassinado em janeiro deste ano.

Em entrevista exclusiva ao Diário, o deputado disse que o assassinato de Celso Daniel está elucidado e as investigações sobre o crime não são alvo do Ministério Público, que apura as denúncias de um suposto esquema de cobrança de propina em Santo André. Greenhalgh acompanhou as investigações sobre a morte de Celso e disse ter feito várias reuniões com membros da família Daniel, como os irmãos de Celso, João Francisco Daniel e Bruno Daniel.

DIÁRIO – O ex-secretário de Governo de Santo André Gilberto de Carvalho afirmou no depoimento que prestou à CPI (que investiga as denúncias de irregularidades na administração de Santo André) que o último encontro que manteve com o oftalmologista João Francisco Daniel, irmão do prefeito Celso Daniel, foi na casa do senhor. O senhor confirma este encontro e o que foi discutido nesta ocasião?
GREENHALGH – Quem convidou o Gilberto de Carvalho para ir até minha casa fui eu. E convidei também o João Francisco (Daniel) e o Bruno (José Daniel Filho), irmãos do prefeito Celso Daniel. Desde o início das investigações sobre a morte do prefeito Celso Daniel, eu fiz todo esforço para colocar a família dele e o prefeito João Avamileno informados sobre os rumos do inquérito. Fiz várias reuniões com membros da família na minha casa. Num sábado de manhã, por exemplo, estiveram presentes na minha casa o João Francisco, o Bruno Daniel e suas respectivas esposas e eu fiz como faço com qualquer cliente, fui dar informações sobre o caso. Isto eu fiz quando cheguei à conclusão de que o caso estava elucidado, que não era crime político, que não tinha a possibilidade de ter tido um mandante e que o caso era de um crime comum.

DIÁRIO – Como foram estes encontros?
GREENHALGH – Num dos encontros que tive com o Bruno Daniel, o João Francisco e o Gilberto de Carvalho, eu informei a eles o andamento das investigações desde quando eu comecei a acompanhar o caso. Depois eu chamei o João Francisco, o Bruno e o Gilberto de Carvalho até minha casa e fiz um relatório minucioso para os três de toda a investigação.

DIÁRIO – E o que aconteceu depois?
GREENHALGH – Quando terminei, o João Francisco disse que não tinha condições técnicas para avaliar o que eu estava dizendo, mas que achava difícil não ter havido um crime político e que não tivesse mandante, porque havia interesses contrariados em Santo André. Eu disse a ele que tinha plena certeza e segurança sobre o que foi investigado e aconselhei que eles, a família, contratassem um advogado de confiança para acompanhar o caso. Houve uma exaltação entre João Francisco e o Gilberto e acabei acalmando os dois. Marquei uma entrevista coletiva na Prefeitura de Santo André na segunda-feira e voltei para Brasília, depois de 50 dias cuidando deste caso, para retomar minhas atividades como parlamentar.

DIÁRIO – O senhor acha que o crime foi mesmo comum?
GREENHALGH – Eu acompanhei a investigação, passo a passo. E fiz isto de maneira séria, como faço quando desempenho meu trabalho. Não foi crime político, não foi problema de administração. O crime está elucidado. Eu considero uma atitude de má-fé qualquer autoridade querer usar as declarações sobre denúncias de irregularidades administrativas na prefeitura para tentar reabrir o caso do assassinato de Celso Daniel. As declarações do João Francisco sobre as denúncias de irregularidades na prefeitura devem ser investigadas e estão sendo investigadas. O prefeito João Avamileno mandou 60 mil documentos para o Ministério Público e contratou uma auditoria internacional para cuidar do caso. A prefeitura está facilitando as coisas para os promotores investigarem. O que eu sou contra é que, a pretexto de denúncias, se estabeleçam procedimentos irregulares como os que vêm sendo adotados pelos promotores. Os promotores abriram um processo contra a prefeitura e a administração pediu vistas (prodimento jurídico para ter acesso ao processo de investigação feito pelo Ministério Público) e o pedido foi negado. O Klinger (Klinger Luiz de Oliveira Sousa, vereador e ex-secretário municipal Serviços Urbanos) também pediu vistas ao processo e também teve o pedido negado. E foram os próprios promotores que divulgaram a denúncia para a imprensa. O Klinger não tem direito de ver o processo, porque o MP negou. O João Francisco faz um depoimento dizendo que ouviu A e B (Miriam Belchior, ex-mulher do prefeito Celso Daniel e secretária municipal de Inclusão Social, e Gilberto de Carvalho) e isto é divulgado para a imprensa.

DIÁRIO – Como o senhor avalia esta situação?
GREENHALGH – Acho que há interesses políticos absolutamente identificáveis. Eu não vou permitir que denigram a memória do Celso. Querem investigar as supostas irregularidades da prefeitura, tudo bem. Mas não podem reabrir o caso. O que eles querem na verdade é fazer uma devassa na Prefeitura de Santo André. O processo sobre a morte do prefeito não foi reaberto, portanto é uma mentira a hipótese de que não seria um crime comum. Primeiro, o Ministéio Público não tem competência constitucional para investigar crime. O assunto “morte do prefeito” é pretexto para fazer uma devassa na prefeitura. Quando o Lula (Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT à Presidência da República) e o Zé Dirceu (José Dirceu, presidente nacional do PT) me pediram para acompanhar as investigações sobre a morte do prefeito eu disse que era para acompanhar doa a quem doer. Ninguém tem dúvida sobre o caso. Só querem reabrir o caso para a imprensa. Quando mais turva a água, melhor para eles.

DIÁRIO – Como o senhor analisa a repercussão das denúncias contra a Prefeitura de Santo André nas campanhas petistas?
GREENHALGH – Eu acho que serão usadas na propaganda eleitoral dos nossos adversários. Tenho dúvidas se elas já não foram feitas com este fim.

DIÁRIO – O senhor acha que isto pode influenciar a decisão dos eleitores?
GREENHALGH – Sempre influenciam. O problema é que o resultado das investigações sobre as denúncias de irregularidades só sai depois das eleições, quando o mal já estiver feito. As denúncias vão causar malefícios para o PT.

DIÁRIO – O que o senhor acha que levou João Francisco a fazer as denúncias de um suposto esquema de cobrança de propina para a campanha do Lula ao MP de Santo André?
GREENHALGH – Não sei. Acho que qualquer denúncia de irregularidade administrativa, sobre qualquer prefeitura, governo de estado ou federal, do PT ou não, tem de ser investigada, precisa ser investigada. Agora, eles ficam futricando a prefeitura, mas não reabrem o caso do assassinato porque sabem que as investigações são a verdade. Eu até gostaria que reabrisse porque iria desmascarar todos eles. Eu acompanhei as investigações do crime mais do que todos os promotores e delegados. Eu não tenho nada com o João Francisco, com a briga do secretariado ou qualquer dos outros envolvidos nestas denúncias.

DIÁRIO – O senhor é contra a reabertura de investigações sobre a morte do prefeito Celso Daniel, mesmo depois das denúncias sobre a suposta cobrança de propinas por parte de funcionários do primeiro escalão da prefeitura de empresários de ônibus?
GREENHALG – A única coisa que eu quero é que não mexam nisto em homenagem à memória do Celso Daniel. Briguem, se matem (sic), mas deixem o Celso em paz. Eu não participaria de uma farsa, um inquérito que fosse uma mímica.




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