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Transportadoras perdem 12% do lucro com roubo de cargas
Do Diário do Grande ABC
19/06/1999 | 15:51
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O crime que mais cresce no Estado de Sao Paulo, o roubo de cargas, é responsável hoje por perdas de 10% a 12% do faturamento bruto das transportadoras. Em 1991, esse índice era inferior a 3%. Além de um inevitável repasse no custo dos fretes (nao calculado pelo setor), o roubo acabou causando o fechamento de muitas companhias, segundo o Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas de Sao Paulo e Regiao (Setecesp). Para tentar evitar o crime, as transportadoras armam estratégias e investem cada vez mais em tecnologia.

Segundo o secretário de Segurança Pública, Marco Vinício Petrelluzzi, o roubo de cargas é a atividade na qual o crime organizado mais age, atualmente. De janeiro a abril, foram praticados 615 assaltos, 62% mais que no ano passado, quando ocorreram 379, no mesmo período. A maioria deles na capital. Ao crime organizado o delegado Benedito Costa Pimentel, diretor da Divisao de Investigaçoes Sobre Furtos e Roubos de Veículos e Cargas (Divecar), que chefia na capital o combate a esse tipo de ladrao, credita 60% do total de roubo de cargas no Estado. Nos outros 40%, segundo ele, há a conivência dos motoristas dos caminhoes.

Nos últimos três meses, os policiais chefiados por Pimentel prenderam 101 ladroes de cargas e 61 receptadores (pessoas acusadas da compra de mercadorias). Entre os presos, 29 estao condenados pelo mesmo crime. A polícia recuperou cargas avaliadas em R$ 17 milhoes e muitos caminhoes.

As cargas mais roubadas sao de remédios, cigarros, eletrodomésticos, equipamentos eletrônicos, alimentos, limpeza, confecçoes, autopeças e produtos agrícolas.

O delegado tem realizado blitze na companhia de fiscais da Secretaria da Fazenda do Estado, que estao descobrindo notas fiscais frias usadas por empresas para "esquentar" as mercadorias roubadas.

As seguradoras, em 1998, pagaram cerca de R$ 200 milhoes às transportadoras e às empresas vítimas dos ladroes de cargas. O grande volume de roubos e a falta de estrutura da polícia têm provocado a fuga das seguradoras desse mercado. Das cem empresas do setor no país, somente cinco fazem a apólice da carteira de cargas.

Firmas - Os criminosos montaram empresas voltadas exclusivamente para o roubo e o desvio de cargas. Sao chamadas pela polícia de "firmas de ladroes". Os grupos conseguem, em pouco tempo, mandar as mercadorias roubadas para outros Estados. "Com o passar dos anos, eles estao aperfeiçoando o esquema dos roubos e da venda das mercadorias e têm dificultado o nosso trabalho", afirmou o delegado Frederico Vesentini.

Um dos chefes da equipe responsável pelo combate aos ladroes de cargas na capital, Vesentini calcula que haja na Grande Sao Paulo mais de 5 mil depósitos e galpoes utilizados pelo crime organizado da carga. Ele critica as imobiliárias, que nao se preocupam em saber quem está alugando os imóveis. "Ao apurar, ficamos sabendo que os documentos de identidade e de informaçoes usados sao falsos e isso atrapalha nosso trabalho".

Frágil - O assessor de Segurança da Federaçao e do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas de Sao Paulo e Regiao, coronel da reserva do Exército Paulo Roberto de Souza, afirma que a estrutura da polícia para impedir os ladroes de cargas é frágil e está "aquém das necessidades". A delegacia especializada em identificar e prender as quadrilhas e os receptadores de cargas tem apenas 3 delegados e 28 investigadores. Os meios materiais para o trabalho também sao precários: faltam carros, rádios de comunicaçao, telefones e computadores.

Os policiais queixam-se, ainda, da falta de colaboraçao efetiva das Polícias Rodoviária Estadual e Federal. Mas a maior reclamaçao é quanto ao fato de os fabricantes nao identificarem os produtos na nota fiscal. "Quando apreendemos uma carga nos depósitos dos receptadores, pedimos informaçao ao fabricante e ele sempre alega nao saber para quem vendeu", diz Vesentini. "Assim fica difícil continuar a apuraçao".




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