O BC (Banco Central) aumentou na quarta-feira a Selic para 11,25% ao ano. O acréscimo foi de 0,50 ponto percentual. E, segundo nota divulgada pela autarquia monetária, a medida é considerada o início de processo para segurar a inflação.
O consumidor sofrerá algumas consequências pela decisão do Copom (Comitê de Política Monetária do BC). No curto prazo, o crédito ficará mais caro, ou seja, os juros dos empréstimos vão subir.
Conforme estudo do vice-presidente da Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), Miguel José Ribeiro de Oliveira, a taxa média de juros mensal nas operações de crédito aos consumidores deve, em poucos dias, passar de 6,79% para 6,83%.
Para o professor de macroeconomia e cenários econômicos da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras) Silvio Paixão, a medida foi correta. "O maior veneno de qualquer economia é a inflação", afirma.
Ele explicou que a renda do trabalhador tem valor reduzido quando a inflação sobe. "Eu estou valendo R$ 1.000. Se os preços sobem, eu perco poder de compra com os meus R$ 1.000." Além disso, Paixão ressalta que quanto menor a renda do consumidor, maior é o efeito do veneno.
CONTENÇÃO
O professor de Economia Sandro Maskio, que ministra aulas na Universidade Metodista de São Paulo, diz que o aumento da Selic é a principal ferramenta do BC para conter a inflação no curto prazo. Como é a taxa básica, a sua elevação vai surtir efeito em todas as outras taxas de juros do País.
"Ela funciona como a base que norteia a formação de todas as taxas da economia. Portanto se um banco, por exemplo, vai vender crédito e o comprador diz que só pode pagar 10% ao ano de juros, a instituição responde que não fará a negociação. Isso porque o governo, agora, vai pagar 11,25% pelo crédito", explica Maskio. Ele acrescenta que o risco de emprestar ao governo é bem menor do que para qualquer pessoa ou empresa. E a consequência é os bancos aumentarem suas taxas.
O pesquisador do Instituto Assaf Fabiano Guasti Lima brinca que a Selic é como a bandeirada do taxi. "Antes de começar a corrida já tem um preço mínimo."
PROCESSO
Os especialistas explicam que com o aumento da Selic, que encarece o crédito, o BC tem como objetivo desestimular o consumo interno. "E é a lei da oferta e da procura. Reduzindo a demanda, a tendência é que os preços diminuam ou parem de subir", destaca Maskio.
Segundo o especialista em finanças pessoais André Massaro, a autarquia monetária também se preocupa com o endividamento das pessoas. "Se aumentar muito, pode comprometer a saúde do Sistema Financeiro Nacional."
Ele destaca os investimentos no País poderiam reduzir se qualquer banco apresentasse problemas. "Os investidores observariam isto como um sistema financeiro frágil. É como aconteceu no rombo do Banco PanAmericano. A maioria dos bancos acabaram sofrendo com a notícia, pois suas ações caíram na Bolsa de Valores", conta Massaro.
ELEVAÇÃO PROPORCIONA RISCO DE DESEMPREGO
Mesmo com papel de controlar a inflação, a medida tomada pelo BC de elevar a Selic pode estimular problemas no longo prazo, como aumento da taxa de desemprego no Brasil.
O professor de Economia da Universidade Metodista de São Paulo Sandro Maskio explica que a redução do consumo interno pode impactar no crescimento econômico. "E isso acarretaria em diminuição de emprego no País", afirma.
Por outro lado, a pressão inflacionária também proporciona reflexos na economia. "A inflação alta, a longo prazo, pode atingir o otimismo da indústria, que por sua vez reduz os investimentos, como consequência, a taxa de emprego cai", explica o professor.
O pesquisador do Instituto Assaf Fabiano Guasti Lima acrescenta que se os juros aumentam, o interesse dos investidores por renda variável cai, o que prejudica o setor privado nacional. "A renda fixa pública garante retorno mais interessante."
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