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Filho de Covas ameaça processar quem o difama
Do Diário do Grande ABC
19/03/2000 | 21:06
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Zuzinha partiu para a briga. Cansado de ver os adversários do pai - o governador de Sao Paulo Mário Covas (PSDB) - lançarem seu nome no centro de escândalos de corrupçao na Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), o advogado Mário Covas Neto, o Zuzinha, rompeu um silêncio de cinco anos e três meses e distribuiu carta-desabafo de duas páginas.

Em 34 linhas, Zuzinha revela seus motivos, diz que "o dano causado à sua imagem é grande", que sua reputaçao "está em causa", que sempre foi "avesso à idéia de se manifestar publicamente a respeito das acusaçoes", e admite o temor de que "esse assunto seja objeto de exploraçao indevida nas próximas eleiçoes municipais".

Sete mil cópias da carta estao na praça. Políticos, correligionários, cabos eleitorais, colaboradores das campanhas de Covas, tucanos de carteirinha, empresários, advogados e prefeitos - saudados com um singelo "prezado companheiro" - receberam o texto produzido por Zuzinha. "Processarei todos que me difamarem", avisou. "Mas isso nao basta, a minha imagem já está arranhada e conto apenas com a Justiça e com a minha consciência".

A carta de Zuzinha alvoroçou os tucanos e pôs em estado de alerta a tropa de choque do Palácio dos Bandeirantes - formada por assessores do primeiro escalao de Covas e parlamentares que têm a missao de sufocar iniciativas de investigaçao sobre os negócios da CDHU. Havia receio de que o gesto do filho do governador pudesse alimentar a polêmica sobre a estatal que conduz o principal projeto social do PSDB e dá sustentaçao às campanhas eleitorais do partido.

Decisao pessoal - "Foi uma decisao pessoal", afirmou Zuzinha, que tem 40 anos e é piloto de stock car nas horas vagas. "Mostrei a carta ao meu pai apenas para que nao ficasse sabendo por terceiros; nao perguntei a ele o que achava, nao fui consultá-lo nem pedir sua aprovaçao porque esse gesto é meu, nao é dele", explicou. O advogado disse que resolveu dar "uma satisfaçao" aos amigos. "Incomodo o governo do meu pai à medida em que meus detratores me colocam num mundo que nao é meu".

Zuzinha explicou que as freqüentes citaçoes ao seu nome - vinculando-o a setores endinheirados da administraçao pública - deixaram-no numa situaçao constrangedora. Disse que vai processar o ex-prefeito Paulo Maluf (PPB), um dos que o acusam de integrar esquema na CDHU. "Eu fico me questionando até mesmo se devo ir ou nao a algum evento com meu pai; nao posso viver assim", quexou-se.

"As pessoas tendem a acreditar no envolvimento de homens públicos com a corrupçao, mas isso nao vale para o caso do meu pai", acrescentou. "A oposiçao insinua ligaçao do tal Zuzinha com vários órgaos estaduais, como alguém poderoso e que arquiteta esquemas em favor de empresas".

Tejofran - Zuzinha acredita que o conceito do pai - "absoluta correçao, conduta moral e ética acima de qualquer suspeita" - provoca os ataques. "Uma vez que o governador nao pode ser acusado, busca-se alguém próximo a ele, virei a figurinha das coisas ruins", protestou. "Parece verossímil que possa beneficiar-me de uma rede de corrupçao no governo, há vários exemplos de parentes envolvidos em esquemas escusos".

Os opositores sustentam que a empresa Tejofran Saneamento e Serviços Gerais é beneficiada por contratos generosos do governo Covas. O diretor-presidente da Tejofran é o empresário Antonio Dias Felipe, padrinho de casamento de Zuzinha. Dizem ainda que ele tem forte influência na CDHU - presidida até janeiro por Goro Hama, amigo de Covas e réu em seis açoes por improbidade administrativa e atos lesivos ao Tesouro. "Sou amigo do Goro, qual é o problema?"

Na carta, Zuzinha cita o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), ex-ministro da Justiça, que o teria acusado em carta ao presidente Fernando Henrique Cardoso de tê-lo pressionado para favorecer a "empresa do seu padrinho".




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