Um grupo de pelo menos 12 trabalhadores da pizzaria Micheluccio, em São Bernardo, alega ter sido "abandonado" pela empresa num alojamento no bairro Baeta Neves. Eles vivem sem energia elétrica e alimentação, além de não receberem salários desde o último dia 21, quando a unidade da rede no Grande ABC foi fechada para reforma. A maior parte desses trabalhadores veio do interior de São Paulo e de Estados do Sul.
Segundo avaliação do Sindicato dos Empregados no Comércio Hoteleiro e Similares de São Bernardo e Região, o grupo vive sob regime de trabalho semi-escravo. A empresa é acusada por sindicalistas e trabalhadores de irregularidades no processo de contratação, não pagar os salários devidos e manter uma jornada de trabalho diária superior a 12 horas.
Sexta-feira, o procurador do Ministério Público do Trabalho da 2ªRegião, Daniel Augusto Gaioto, realizou uma vistoria no local, mas não se manifestou sobre o assunto. O sindicato já entrou com nove ações individuais na Justiça do Trabalho de São Bernardo para recuperar direitos trabalhistas de funcionários.
O diretor jurídico da rede Micheluccio, Roberto Amorim, não concedeu entrevista ao Diário, mas informou, por meio de funcionários da administração da rede, que irá se reunir com o sindicato na próxima segunda-feira para regularizar a situação dos trabalhadores.
"Nós vamos ter de fazer o que eles quiserem, sem saber o que vai acontecer. Não temos dinheiro nem para comer nem para voltar para a nossa casa. Não recebemos salário há quase um mês", afirma Jair de Jesus Niihl, 25 anos, vindo da cidade de São João, no Paraná, que trabalhava como garçom. O alojamento, que chegou a possuir 30 trabalhadores, era custeado em parte por mensalidade de R$ 30 por funcionário, além de contribuição para o pagamento da água, de R$ 24 mensais.
Os trabalhadores foram recrutados por agências de emprego que atuavam regionalmente, mas mantinham ligações com sedes na cidade de São Paulo. Chegaram à região com proposta de salários superiores a R$ 500, que era anunciada em rádios locais.
"Para nós, no interior, sem perspectiva de emprego, um trabalho que pague isso, em São Paulo, numa grande rede de pizzarias, é uma ótima proposta. Ouvi no rádio o anúncio e logo fui procurar o emprego. Quando cheguei aqui vi que a coisa era bem diferente, mas aí já não tinha volta", afirmou Vilmar Teodoro da Silva, 20 anos, que morava em São Lourenço do Oeste, em Santa Catarina, e também trabalhava como garçom.
Segundo os funcionários, a empresa teria informado, mais de uma vez, que iria transferi-los para outras unidades da rede, na cidade de São Paulo. "Toda hora falam que vão transferir a gente para outras unidades, mas isso nunca acontece. Chegaram até a marcar a nossa transferência para a última terça-feira, mas ninguém veio buscar a gente", afirmou Kelli Alessandra Neves Lara, 20 anos, que veio de Juquiá, interior de São Paulo, e trabalhava como ajudante de cozinha.
Semi-escravidão – Na avaliação do presidente do sindicato dos trabalhadores, Luiz Parente Dias, a situação dos funcionários caracteriza trabalho semi-escravo. "Essas pessoas vieram sem saber ao certo o que iriam encontrar, têm jornada muito além da convencional e são obrigadas a viver nos alojamentos. Além disso, não recebem regularmente seus salários e, na maioria das vezes, ficam sem carteira de trabalho, apesar da proposta de registro feita pela empresa."
Os 12 trabalhadores do alojamento entregaram a carteira para a rede de pizzarias, mas apenas alguns conseguiram confirmar o registro trabalhista, com salários inferiores aos anunciados.
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