A primeira coisa que se nota ao ver Daniel Ferreira, 21 anos, de São Paulo, é sua simpatia. Só depois, percebe-se que usa os pés para pegar objetos e, por último, que não tem braço esquerdo e o direito tem má formação. Ele nasceu assim. Foi vítima da talidomida que a mãe tomou sem saber que estava grávida. O médico até sugeriu aborto, mas os pais não aceitaram. Daniel também foi recusado na escola, porque a diretora disse que não tinha condições de ensiná-lo. "Meus pais sempre quiseram que estudasse em colégio do Estado para não me sentir deficiente e nunca me trataram como coitado. Ainda bem."

Foi na AACD que descobriu as cores e desenvolveu pintura com os pés. "O professor Elias percebeu que podia fazer mais. O primeiro quadro saiu aos 12 anos e, com a ajuda da tia Help, fiz rifa para vendê-lo." Daniel aprimorou técnicas com tinta a óleo, acrílica, guache e pastel.

Em 2007, foi aprovado na Associação de Pintores com a Boca e os Pés. Hoje dá palestras sobre sua história e já ganhou concurso de arte, em que era o único com deficiência. "É gratificante. Tenho independência financeira e física. Só preciso de ajuda para pentear o cabelo. Quando não tem ninguém, uso boné. Parecem coisas pequenas, mas são conquistas."

Além de tirar carteira de motorista de primeira - Daniel tem carro adaptado - o garoto leva vida normal. Adora sair com os amigos, se vira para ir onde quer e já namorou. "Como é impossível esconder a deficiência, já mostro logo como sou." Ele sofreu preconceito, mas tenta passar por isso também. "Mato dez leões por dia. Perdi minha mãe há pouco tempo e ela sempre me fez sentir capaz. Nunca pensei que não fosse conseguir."