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'O Amor Custa Caro' é o novo filme dos irmãos Coen
16/10/2003 | 20:14
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No segundo encontro entre os personagens de George Clooney e Catherine Zeta-Jones em O Amor Custa Caro, o advogado de sucesso, especialista em divórcios litigiosos, assedia a ex-mulher do cliente que defende. Catherine quer tirar o máximo dinheiro possível do homem com quem esteve casada durante cinco anos. Clooney vai impedi-la, em uma manobra de última hora no tribunal. Mas isso vai ocorrer depois e agora é óbvio que existe uma química, uma atração entre eles. Recitam versos de peças de Shakespeare.

O diretor Joel Coen e seu irmão, roteirista e produtor, Ethan, não perdem uma boa piada. A frase quente é quando Clooney pede dois tornados e pergunta se Catherine é carnívora. A resposta vem célere: “E como!”. Catherine, como Clooney, é uma predadora. Derrotada por ele, armará uma engenhosa vingança. A rigor, na sua manifestação mais simples e essencial, o novo filme dos irmãos Coen é isto – uma história de vingança servindo a uma reflexão sobre um tema velho como o cinema, a guerra dos sexos. Se é velho, o que faz a graça e até a novidade de O Amor Custa Caro? É um conjunto de fatores que inclui o diálogo brilhante – taco no taco –, o brilho dos atores e, claro, a esperteza e inteligência da direção. Talvez se deva definir O Amor Custa Caro, já que estamos nos domínios do humor, como o filme mais ’marxista’ dos irmãos Coen.

Marxista no duplo sentido. O de Groucho, rei do humor verbal, e o do velho Karl, já que a corrida, aqui, é pelo dinheiro e o conceito marxista da mais-valia faz-se presente. Passa pelo corpo de Catherine, que vira um objeto do desejo de Clooney. Não representa pouco o fato de ele ser um advogado declaradamente capitalista, que chega a criar um dispositivo legal chamado “a cláusula de Massey” (é o nome do personagem) para favorecer os ricos na hora da partilha dos bens. Aliás, com a cláusula Massey não existe partilha e os ricos ficam protegidos da ofensiva das cavadoras de ouro. Protegidos em termos, pois com uma predadora como Catherine (no filme, ela se chama Marilyn), os ricos e poderosos estão sempre descobertos, como Massey/Clooney vai descobrir na pele.

Talvez seja excessivo querer ver em O Amor Custa Caro um subtexto sobre a era George W. Bush, mas a verdade é que ele existe e mais dois fatores devem ser considerados: 1) George Clooney foi talvez o primeiro astro a manifestar-se contra a guerra no Iraque e a manter a opinião mesmo sob o risco de ser considerado antipatriótico; e 2) os irmãos Coen estão longe de ser republicanos, tendo até um prazer perverso em expor o ridículo dos republicanos sulistas (o milionário texano interpretado por Billy Bob Thornton é a prova). Tudo isso é relevante, mas o bom mesmo é a forma como Joel e Ethan (re)criam velhos códigos hollywoodianos.




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