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Charretemaníaco
Marcelo Monegato
Do Diário do Grande ABC
16/02/2011 | 07:29
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Tiago Silva/DGABC




O que dizer de uma pessoa que trabalha para uma das maiores montadoras do mundo, viveu durante nove anos em Detroit, berço da indústria automobilística, e que tem um filho de 3 anos nascido em Dearborn, cidade norte-americana onde Henry Ford escreveu sua rica história? Que no mínimo é um aficionado por carro! Bom, talvez não seja bem assim. Wilson Martins, 47 anos, se encaixa perfeitamente no perfil descrito acima, mas sua paixão não são os automóveis, mas as charretes.

Paulistano de nascimento e morador de Santo André por opção, o analista de sistemas é mais que um simples maluco - no bom sentido - por este meio de transporte. É um colecionador deslumbrado. São 23 charretes, das quais 16 estão muito bem guardadas na garagem do prédio onde reside e outras sete ficam na casa do pai, no interior de São Paulo.

"Desde que me conheço por gente sou apaixonado por tração animal", relembra Martins. "Meu pai (Nelson) trabalhava com charrete vendendo frutas e batatas", exalta o entusiasta, sempre acompanhado do elétrico e inteligente filho Murilo.

Em seu rico acervo - que um dia pretende transformar em museu -, Martins tem peças únicas. Uma delas foi construída para corridas em 23 de dezembro de 1890, em Chicago, Estados Unidos. "Na época paguei US$ 525 (aproximadamente R$ 875) nessa Race Sulky. Ela veio montada do jeitinho que está dentro de um contêiner, pois eu tinha medo de desmontá-la".

Entre as preferidas estão duas da marca Miquelino, feitas na Penha, Zona Leste da Capital. "A Miquelino é a Ferrari das charretes", explica Martins. "Hoje elas não são mais fabricadas, apesar de algumas pessoas ainda produzirem réplicas".

Também saltam aos olhos os modelos que seguem o estilo italiano e a escola portuguesa. Há ainda a brasileira de corpo e alma Tico-tico, utilizada pelo colecionador para passear nos fins de semana pelas ruas e avenidas do Grande ABC. Cada uma traz detalhes específicos que as tornam especiais. Diferentes das restantes. Únicas.

Além das brasileiras e norte-americanas, ele tem charretes da Argentina e do Canadá. Mas, como todo colecionador, ele sente falta de alguns modelos. "Ainda quero restaurar um carroção com freio a manivela e uma charrete modelo francês", diz Martins, que na casa do pai abriga cerca de 400 miniaturas.

Uma das paixões é a troller - charrete estilo diligência antiga dos filmes de faroeste - de 1900, adquirida em Detroit. "As lanternas são a vela e existe um sino (espécie de buzina) acionado com os pés, já que as mãos seguram as rédeas. Também tem um bagageiro, onde médicos colocavam seus equipamentos", detalha Martins. "O curioso é o estojinho no qual se colocava carvão para esquentar os pés do charreteiro".

No cantinho da garagem, ocupando boa parte das cinco vagas a que Martins tem direito, está uma charrete para seis ocupantes. Toda reformada, transformou-se em um dos xodós. "Subi em um muro em Ilhabela e a encontrei abandonada. Perguntei para o dono por quanto ele vendia, já que servia de dormitório para os cachorros dele. Paguei, na época, US$ 1.000", relembra.

Incrível como em tempos de automóveis movidos a eletricidade, com sistemas híbridos de propulsão ou mesmo equipados com os ‘beberrões' motores V8, as charretes ainda encantam. Conquistam.




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