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Navio carregado com plutônio pode passar pelo Brasil
Do Diário do Grande ABC
21/07/1999 | 17:11
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Dois navios carregados com plutônio fazem uma arriscada viagem da Europa ao Japao, nas próximas três ou quatro semanas, e uma das rotas alternativas passa pelo Brasil. O primeiro navio deixou o porto de Barrow, na Inglaterra na segunda feira (19), com um atraso de 12 horas provocado por protestos da organizaçao ambientalista Greenpeace. O segundo navio saiu nesta quarta-feira do porto de Cherbourg, na França, apesar da presença de três navios do Greenpeace - o Rainbow Warrior, o M.V. Greenpeace e o Sirius - nas proximidades.

O carregamento de plutônio seria suficiente para construir 60 bombas atômicas, que ficariam prontas em, no máximo três semanas. Um milionésimo de grama do plutônio, se inalado, mataria uma pessoa. Qualquer acidente ou vazamento coloca em risco toda a vida dos oceanos na rota escolhida. O plutônio é um subproduto do processamento do urânio e segue para um novo tipo de usina nuclear japonesa, de reprocessamento rápido.

Policiais franceses abordaram um dos navios dos ambientalistas, o Sirius, que foi expulso das águas territoriais. "Chega a ser obsceno que o Greenpeace seja atacado no lugar dos governos da França, Inglaterra e Japao, responsáveis por expor todo o Planeta ao risco de um desastre com um carregamento de plutônio", declarou Bruno Rebelle, do Greenpeace França. O cabo-de-guerra entre os ambientalistas e a indústria nuclear chegou aos bancos: a British Nuclear Fuels obteve o bloqueio das contas do Greenpeace em Amsterda, na Holanda, desde terça-feira (20) à noite, "para cobrir eventuais danos causados pela açao ambientalista". Apesar do bloqueio, os ambientalistas permaneceram no porto até a saída do segundo navio, que leva canhoes a bordo e está sob forte esquema de segurança.

De acordo com Ruy de Góes, do Greenpeace Brasil, há três rotas alternativas para os navios chegarem ao Japao: uma passa pelo canal do Panamá, outra dá a volta pelas costas do Brasil e Argentina, contornando o Cabo Horn pelo Chile e a terceira segue pela Africa, dobra o cabo da Boa Esperança e passa próximo da Nova Zelândia. "Os navios sao bombas flutuantes, porque, além do plutônio e dos canhoes, carregam grande quantidade de combustível, já que nenhum país permitiria escalas para reabastecimento", disse Góes. "A carga também é altamente suscetível a ataques terroristas, interessados no plutônio".

Protestos - Os países caribenhos (Caricom) divulgaram um documento, dia 16 de julho, contra a passagem dos navios pelo Canal do Panamá e contra o uso do mar do Caribe como via de transporte para lixo e combustível nuclear, protestando contra Inglaterra, França e Japao por ignorarem decisoes anteriores dos governos caribenhos sobre o assunto. A Nova Zelândia também assumiu publicamente posiçao contrária a qualquer carregamento nuclear que se aproxime de suas águas e vem trabalhando de forma ativa para a assinatura de tratados de transporte internacional que impliquem consentimento prévio dos países costeiros.

Brasil, Argentina e Chile ainda nao se posicionaram publicamente neste caso. Em 1995, o mesmo navio Pacific Pintail, que deixou nesta quarta-feira o porto de Cherbourg, levou lixo nuclear da Europa para o Japao, na mesma rota agora tida como alternativa. Passou próximo de Fernando de Noronha e ao largo das 200 milhas marítimas brasileiras, apesar dos protestos do governo federal e seguiu pela Argentina e Chile, ignorando ameaças e protestos de ambos.

Carga - Agora o carregamento é mais letal. Bem distribuídos, cinco quilos deste plutônio seriam suficientes para acabar com a vida no Planeta. E o Greenpeace estima que haja 446 quilos nos dois navios. "É inaceitável que se coloque uma parcela considerável do Planeta em risco para alimentar um programa nuclear decidido por três países", afirma Ruy de Góes. "Acidentes marítimos acontecem, por mais precauçoes que sejam adotadas".




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