A forte estiagem que atingiu o Brasil neste final de ano vai prejudicar a safra agrícola de 2000. Um levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que os produtores reduziram em 0,58% a área plantada para a próxima safra com medo de novos problemas climáticos. "Se o cenário atual se confirmar, os produtos agrícolas vao continuar pressionando a inflaçao no ano que vem" previu o chefe do Departamento de Agricultura do IBGE, Carlos Alberto Lauria.

O levantamento do instituto sobre a área plantada para a próxima safra toma como base os nove principais produtos. O principal problema deve ocorrer no plantio de milho, que responde por cerca de 39% da safra total. Lauria ressalta que a falta de chuva comprometeu a produçao, pois houve atraso no preparo do solo e na semeadura.

Ele lembra que algumas regioes do país, como o Paraná e cidades do Centro-Oeste, plantam milho mais cedo, por isso, tiveram mais problemas com a estiagem. "O produto serve como alimento para frango e suínos, e um aumento no preço acaba repassado para toda a cadeia", ressalta.

Produtos básicos na mesa do brasileiro também vao sofrer no próximo ano. Os dados do IBGE revelam que os produtores vao diminuir em 7,44% a área plantada de arroz, em 6,31% a de feijao e de 5,77% de batata-inglesa. Já produtos mais voltados para a exportaçao, como soja, mostram uma recuperaçao.

A intençao é elevar em 1,28% a área plantada do produto na safra de 2000. O estudo indica também que a importaçao brasileira de algodao vai diminuir no ano que vem. Os produtores planejam aumentar em 11,46% a área plantada.

Lauria nao espera uma repetiçao em 2000 da safra recorde de 82,4 milhoes de toneladas verificada este ano. Em dezembro, o IBGE divulga a primeira projeçao para a produçao total de graos no país. "Ainda é cedo para se traçar um quadro geral da situaçao, mas as informaçoes preliminares indicam que algumas áreas já foram prejudicadas pela estiagem prolongada", explica.

A desvalorizaçao cambial é outro entrave ao crescimento da safra. Lauria afirma que o bom desempenho do setor nos últimos anos refletiu um aumento de produtividade obtido por meio de fertilizantes mais potentes.

A base desses produtos é de insumos importados, que ficaram mais caros após a depreciaçao da taxa de câmbio. "Os produtores devem ter gasto menos esse ano com fertilizantes." "Isso deve reduzir os ganhos de produtividade", estima.