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Morales pode ser o 1º indígena a chegar à Presidência boliviana
Da AFP
17/12/2005 | 15:40
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Evo Morales, líder dos indígenas e plantadores de coca bolivianos, está perto de assumir a Presidência da Bolívia, cargo reservado, nos últimos 180 anos de história, a brancos e, excepcionalmente, mestiços.

A um dia das eleições, Morales, um índio aimara "negro, amarelo e feio", como ele mesmo se descreve, lidera com 36% as pesquisas de opinião, com até 8 pontos percentuais à frente do principal rival, o ex-presidente conservador Jorge Quiroga.

Se a tendência se confirmar nas urnas no domingo, Morales chegará à Presidência apenas 53 anos depois de os índios bolivianos (aimaras, quíchuas e guaranis, entre outros 34 grupos), submetidos desde 1825 à escravidão, terem sido libertados por uma revolução nacionalista.

Candidato pelo Movimento ao Socialismo (MAS), o agricultor Morales propõe "descolonizar" e "refundar" a Bolívia, onde 60% da população de 9,3 milhões de habitantes são de origem indígena.

Convertido em líder dos plantadores de coca do Chapare, epicentro da convulsão boliviana entre 1988 e 2002 e da luta contra as drogas no país andino, Morales já havia concorrido à Presidência boliviana em 2002, quando perdeu a disputa para o empresário Gonzalo Sánchez de Lozada.

Morales sintetiza a vida de um indígena na Bolívia. Nasceu sem assistência médica, água potável ou eletricidade, em Orinoca, povoado isolado nos Andes, no dia 26 de outubro de 1959, filho de pai aimara e mãe quíchua, dois agricultores pobres.

Cresceu em uma casa pequena, e quatro de seus seis irmãos morreram antes de completar 2 anos de idade. Acabou emigrando, como fazem sete em cada 10 camponeses bolivianos, devido à seca no início dos anos 80, que devastou a agricultura no planalto boliviano.

Uma geada que destruiu as plantações expulsou a família de Orinoca para o Chapare, onde o narcotráfico se instalava nessa floresta tropical localizada no centro-leste do país. Ali, entre milhares de trabalhadores aimaras e quíchuas demitidos da falida empresa de minerais estatal, tornou-se líder dos plantadores de coca e, mais tarde, de 30 mil famílias pobres ligadas à plantação da estigmatizada folha.

O Chapare tornou-se o principal centro produtor de cocaína do país. Aos poucos, Morales tornou-se popular, graças à capacidade de convocação de seus protestos e rebeliões sociais, e postulou sua candidatura.

O salto para a fama se deu em outubro de 2003, quando promoveu a queda de Sánchez de Lozada. Esse opositor das políticas "imperialistas" dos Estados Unidos — país que o acusa de ser um aliado dos presidentes de Cuba e Venezuela — ganhou o Prêmio Kadafi para os Direitos Humanos em 2000, e concorreu ao Nobel da Paz em 1995. "Não ganhei por falta de uma campanha do governo de La Paz", afirmou.

Esse boliviano, que jamais veste terno e gravata e prefere calçados esportivos, diz que seu país precisa de mudanças com urgência, pois "para um punhado de pessoas, há dinheiro, e para outras, repressão".

Líder antineoliberal, Morales busca que as 20 petroleiras que controlam os hidrocarbonetos bolivianos dividam os lucros "meio a meio" com a Bolívia. Na qualidade de candidato favorito para vencer as eleições presidenciais, quer a nacionalização do gás, principal riqueza do país, que está nas mãos do capital privado, e sua industrialização.



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