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Brasil sobrevive à tempestade, mas o prognóstico continua prudente
Do Diário do Grande ABC
21/01/1999 | 15:27
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O Brasil parece ter sobrevivido à tempestade que, em uma semana, causou uma desvalorizaçao do real em mais de 30%, mas os prognósticos dos economistas norte-americanos sobre a recuperaçao a longo prazo das economias brasileira e latino-americana permanecem incertos.

``Se o programa de reduçao orçamentária nao for aplicado rapidamente, as pressoes sobre o real nao vao diminuir', afirmou José Barrionuevo, chefe de economia da firma de corretagem nova-iorquina Brothers.

``Nas próximas semanas, as variaçoes das taxas de câmbio vao colocar em teste a capacidade do governo brasileiro', estimou Barrionuevo.

Os mercados reagiram bem até o momento da decisao de deixar o real flutuar, mas ``medidas para reduzir o déficit orçamentário e conter a inflaçao serao necessárias para limitar o eventual contágio dos parceiros comerciais do Brasil', afirmou nesta quinta Alan Greenspan, presidente da Reserva Federal americana.

``No entanto, se acreditava que as taxas de juros baixariam depois da aplicaçao do plano orçamentário. Agora é muito provável que qualquer queda das taxas de juros leve à inflaçao', acrescentou Barrionuevo.

Apesar da desvalorizaçao do real em relaçao ao dólar, que agora flutua livremente, beneficiar as empresas exportadoras brasileiras também provoca taxas de juros elevadas porque é o único meio de evitar uma desvalorizaçao mais pronunciada da moeda nacional.

A economia brasileira entrou, além disso, em recessao e a demanda interna vai diminuir. ``Chegará um momento em que, nao tendo mais acesso às fontes de renda e ao capital, as empresas e os bancos serao incapazes de cumprir com seus compromissos nos prazos previstos', advertiu Arturo Porzecanski, chefe economista do banco ING-Barings, em Nova York.

Várias economias latino-americanas como as da Venezuela e do Chile dependem dos preços de suas matérias-primas (metais e petróleo) exportáveis, mas ``os preços sao muito baixos e, em certos casos, estao em seus mais baixos níveis históricos', enfatizou o economista, que acrescentou que as condiçoes meteorológicas (fenômeno do El Niño, catástrofes naturais) nao favoreceram nem o Brasil isoladamente, nem a América Latina como um todo nos últimos anos.

A desvalorizaçao do real também é uma ameaça para Argentina, principal parceiro comercial do Brasil.

``As empresas argentinas concorrem com as brasileiras que vao vender (seus produtos) cerca de 30% mais barato e enfrentarao tempos difíceis', indicou David Chon, responsável pela América Latina da Bear Stearns, outra firma de Wall Street.

O peso argentino está atrelado ao dólar através de um conselho monetário. Com esse sistema, qualquer diminuiçao das reservas financeiras, em conseqüência da liquidez monetária, provoca uma alta imediata das taxas de juros.

Buenos Aires tem reservas suficientes para defender sua moeda, enfatizou Barrionuevo, mas ``a última coisa em que se deve acreditar é em um governo que diz que nao vai desvalorizar sua moeda', afirma David Rothkopf, presidente da Newmarket Company, firma norte-americana especializada em mercados emergentes.

Apesar do Brasil ter a vantagem de contar com um novo governo, vários países latino-americanos terao eleiçoes antes do ano 2000.

``Os problemas sociais vao dominar o cenário, mas o que nao sabemos é se vamos ter soluçoes adequadas', indica Arturo Porzecanski.

Os dirigentes políticos poderao concluir que o que é melhor para Wall Street nao é o que permitirá que sejam reeleitos. Em conseqüência, deverao chegar a algum tipo de compromisso', afirmou David Rothkopf.




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