Tem gente que fica com vergonha de abrir o sorriso e mostrar a janelinha. Outros não ligam. A troca de dentes ocorre com todas as pessoas apenas uma vez. É quando a dentição decídua - nome correto dos dentes de leite, chamados popularmente assim por serem muito brancos - cai, dando lugar à permanente.

Durante a infância, os humanos têm 20 dentes. A mudança começa entre 5 e 7 anos. Primeiro, são trocados os oito da frente (quatro em cima e a outra metade embaixo). Os demais são substituídos até o início da adolescência.

Os adultos têm entre 28 e 32 permanentes. A variação é porque nem todos possuem os quatro dentes do siso, que ficam no fundão da boca (um em cada canto). Quem os tem, em geral, opta por tirá-los, principalmente quando o dentista percebe que, ao nascer, entortarão os demais. Pode parecer estranho, mas há adultos com dentes de leite. Isso só ocorre quando o permanente não se forma.

Esse dente que é substituído não tem raiz. Fica preso à pele da gengiva; por isso, vai amolecendo aos poucos e pode ser retirado em casa. No entanto, é necessário ir ao dentista quando o permanente nasce antes do decíduo cair.

FADINHA - Lucas Galindo Montanhini, 7 anos, de São Bernardo, nem percebeu essa troca. O primeiro encontrou sobre a cama ao acordar. O outro desgrudou enquanto brincava de morder a almofada. Agora, aguarda o aparecimento dos permanentes.

Assim como Lucas, Giovanna Guerra Lazzareto, 7, coloca os dentes que caem embaixo do travesseiro para que a Fada do Dente apareça à noite e os leve, deixando um dinheirinho em troca. "Ela deixou R$ 20. Guardei e vou juntar com os outros para comprar um vestido de festa", diz. (Consultoria de Maria Cecília Buschinelli Daros, odontopediatra e ortodontista)

Cuidado garante saúde

Leonardo Tadeu Brito Pedro, 7, dá os dentinhos que caem para a Fada do Dente. Facilita o trabalho, deixando-os perto da janela. No entanto, o menino acredita que ela só leva embora os que estão bem-cuidados.

Dentes limpinhos ajudam a manter a saúde do corpo. É que algumas doenças são provocadas por problemas na boca, como a endocardite bacteriana, que ataca o coração. Por isso, deve escová-los após cada refeição e ao acordar. Recomenda-se passar fio dental e não usar pasta com flúor até os 6 anos, porque o produto pode causar manchas nos permanentes.

Também é fundamental comer frutas, verduras e legumes para que eles cresçam saudáveis. Mastigar alimentos duros, como maçã e cenoura, ajuda a desenvolver os ossos da face. Doce só de vez em quando para não provocar cáries.

Jogador de hóquei se dá mal e tem de trabalhar como fada

Derek Thompson não é do tipo bonzinho. Jogador de hóquei, é chamado pelos fãs de O Fada do Dente, título do filme que estreou sexta-feira nos cinemas. Sabe por que tem esse nome? Arranca o dente dos adversários nos jogos. Também adora acabar com os sonhos das crianças, dizendo que não se realizarão. Mas se dá mal.

Derek recebe carta informando que terá de trabalhar como Fada do Dente de verdade. Ele acha que tudo faz parte de um pesadelo quando, de repente, surgem asas nas suas costas. Assim, vai parar diante da exigente Lily, que o acusa de assassinado em 1º grau de fantasias e de espalhar a descrença.

O jogador ganha roupa parecida com a de bailarino e materiais especiais -como pó de amnésia e pomada de encolhimento - para buscar os dentes colocados embaixo do travesseiro. Ele se mete em muitas confusões engraçadas.

No entanto, se redimir com o reino encantado não é o único desafio de Derek. Há outros, como reconquistar a confiança e o amor da namorada Carly e dos filhos dela, além de voltar a ser a estrela do hóquei.

Banco bem diferente

Quem não quiser entregar todos à fada, pode doá-los ao Banco de Dentes Humanos da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. Criado em 1996, o local precisa deles para serem utilizados no transplante de dentes de leite, nas aulas do curso de Odontologia e no desenvolvimento de pesquisas. Sem esse material, não dá para estudar.

Para doar é necessário levá-los ao Banco de Dentes (Avenida Professor Lineu Prestes, 2.227, São Paulo, tel.: 3091-7905) e o responsável preencher uma autorização. O material é registrado, passa por limpeza e é guardado em recepiente com água ou soro fisiológico para não estragar.

Animais também trocam a dentição

A maioria dos mamíferos possui dentes de leite, que são substituídos pelos permanentes. No entanto, o tatu e o bicho-preguiça têm apenas uma dentição durante a vida toda. Já o tamanduá é desdentado. Alimenta-se de insetos, capturando-os com a longa e pegajosa língua.

Jacarés, crocodilos e tubarões são sortudos. Quando perdem algum, o novo nasce naturalmente no lugar, quantas vezes isso acontecer.

A dentição é adaptada ao tipo de alimento que comem. Os carnívoros (lobo, cão, gato, leão, tigre) têm dentes pontiagudos e afiados para ajudar a cortar a presa. Se ficar sem dentes, morrem porque não conseguem comer. Os dos herbívoros (cavalo, boi, girafa, veado, rinoceronte e hipopótamo) são achatados para facilitar a mastigação de folhas. Os onívoros, como ursos, têm dentes parecidos com os dos humanos: os do fundo são achatados para triturar vegetais; os da frente pontudos para cortar carne.

As presas dos elefantes são dentes especiais, utilizados para defesa e como ferramenta para cavar o solo à procura de água e derrubar árvores. Os dois dentes da frente dos roedores (rato, esquilo, capivara) também são diferentes. Crescem sem parar a vida toda; por isso, eles têm de comer sementes e raízes duras para gastá-los.

Os animais domésticos (cães e gatos) precisam ter a dentição escovada com regularidade para não desenvolverem doenças. Os selvagens não necessitam porque, ao comerem a presa, arrancam pedaços de ossos, que ajudam a mantê-los limpos. (Consultoria do biólogo Guilherme Domenichelli)