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Bioterrorismo coloca especialistas em alerta no Brasil
Maria Teresa Orlandi
Do Diário OnLine
21/11/2001 | 10:51
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Apesar de considerada remota, a possibilidade de a onda de bioterrorismo que vem amedrontando os Estados Unidos chegar ao Brasil colocou autoridades nacionais em alerta e vem sendo tema de estudo de especialistas, principalmente no que diz respeito a potenciais armas biológicas além do antraz — que causou quatro mortes nos Estados Unidos desde os atentados de 11 de setembro. O Ministério da Saúde e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) formaram uma comissão para estudar o risco de reaparecimento da varíola, apontada com uma das maiores ameaças do bioterrorismo, e a possibilidade de a vacinação ser retomada.

Segundo o diretor do Centro Nacional de Epidemiologia da Funasa, Jarbas Barbosa, das doenças que podem ser usadas intencionalmente, a varíola é apontada como de risco número um pelos especialistas devido ao seu grande poder de propagação. “Seria uma arma ameaçadora pelo seu potencial de disseminação, por causar uma doença grave e pela vacinação ter sido suspensa em todo o mundo no final da década de 70”, explica.

O estudo começou em toda a América Latina depois do alerta da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) de que a região deveria se preparar para enfrentar possíveis ataques bioterroristas. No Brasil, a comissão avalia estratégias de prevenção, detecção e bloqueio da doença, erradicada em 1977, e cujo vírus ainda é conservado em dois laboratórios — nos EUA e na Rússia. “Estudamos primeiro se existe um risco real de uso intencional do vírus. Havendo o risco, discutiremos qual estratégia adotar. Aí pode entrar a possibilidade de vacinação”, afirma Barbosa.

O Brasil é um dos cinco países das Américas com condições de produzir a vacina, segundo o especialista. Dois laboratórios — Biomanguinhos (RJ) e Butantan (SP) — já a fabricaram no passado e poderiam retomar a produção, se necessário. Estados Unidos (que já voltaram a produzir), Argentina, Colômbia e Cuba são os outros países americanos com a mesma capacidade.

De acordo com Barbosa, ainda não há cálculos sobre o custo da vacina ou tempo de produção, o que depende da definição de quais tecnologias seriam utilizadas e de estratégias de vacinação. “Não se espera que seja custoso. O preço alto em vacinas é associado a patentes ou tecnologias de ponta, o que não é o caso.”

A Funasa descarta a possibilidade de ser iniciada uma vacinação em massa sem que haja um perigo evidente de contaminação. “Os efeitos colaterais da vacina eram graves no passado. As definições de novos padrões e controles de qualidade visam aumentar a segurança. Mas ainda não é possível, no atual momento, assegurar completamente essa questão”, diz Barbosa. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), que rejeita o imediato reinício da vacinação, reações adversas podem matar uma pessoa em um milhão.

O especialista lembra que a erradicação da doença não se deveu somente à vacina. “A varíola foi erradicada com vigilância, rápida detecção e bloqueio”. Segundo ele, no caso de reaparecimento do vírus, a primeira medida a ser adotada seria submeter a vítima à quarentena (isolamento). “Se um novo caso surgir, medidas extremas devem ser tomadas, que são a quarentena e a vacinação.”




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