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Trabalhadores buscam qualificação
por meio de estudo da madrugada
Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
18/09/2011 | 07:36
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Dormir quatro horas por dia não é mais problema para a estudante de Pedagogia Nedir da Conceição Pereira, 40 anos. Moradora de Diadema, ela acorda às 3h30, de segunda-feira à sexta-feira, para se aprontar, pegar o ônibus e entrar na aula às 5h45, que segue até às 8h30. Seu sonho é trabalhar como educadora infantil, mas enquanto não realiza esse desejo, atua na área como estagiária, durante a tarde, e faz bicos de cabeleireira e manicure nas horas vagas. "A vida continua. No fim das contas, se eu dormir antes das 23h é motivo para comemorar", brinca Nedir.

Parece conto, mas a história de Nedir é parecida com a de vários outros moradores da região que buscam qualificação para melhorarem suas posições no mercado de trabalho, seja dentro da própria empresa, seja em outro emprego.

Esta dedicação é vista com bons olhos, afirma a diretora de Recursos Humanos da Manpower, Márcia Almström. "Eu acho que vale a pena essa busca pela academia, independentemente se é noturna ou em horários alternativos. O fato dela estar estudando tem significado de autodesenvolvimento", avalia a especialista.

E no cenário atual do mercado de trabalho, no qual o ensino superior é requisito básico para suprir a demanda das empresas, os estudantes da madrugada acabam ganhando seu valor. "Ver uma pessoa que tem dedicação, trabalhando durante o dia e no estudo noturno, é sinal que ela tem garra", destaca Márcia.

A técnica administrativa de São Bernardo Sheila Tadeu da Costa, 29 anos, também acorda de madrugada para fazer o curso de Análise de Desenvolvimento de Sistemas. "A empresa em que trabalha é do ramo de informática. E tento me qualificar mais, porque quero seguir nesta área. E também desejo desenvolver programas no futuro", afirma. Depois de encarar a madrugada de estudos e o dia inteiro no trabalho, mais o adicional do trânsito por trabalhar em São Paulo, Sheila estuda cerca de 1 hora a cada noite.

A gestora de responsabilidade social da Gelre, Maria de Fátima e Silva, destaca que que na hora da seleção de candidatos à vaga de emprego são avaliadas as competências e habilidades do individuo, e não a instituição em que ele cursou.

Já a gerente de negócios da Across, Daniele Mendonça, discorda. "Como o mercado de trabalho está cada vez mais competitivo, é necessário investir em ensino de qualidade, em escolas renovadas. Eu vejo pessoas que fazem cursos que cabem em seus horários, sem primar pela qualidade, e têm muitas frustrações", diz.

 

Período alternativo tem desconto de 40%

 

O comerciário de São Caetano Wagner Luiz Pierri Évora pensou bem antes de entrar no curso da madrugada de gestão de recursos humanos da UniÍtalo. Mas o desconto de 40% na mensalidade foi determinante em sua decisão. Ele buscava qualificação para melhorar sua atuação no trabalho. "Sou gerente de uma farmácia e já lido muito com pessoas", diz.

Évora acredita que pagaria cerca de R$ 450, em horário normal, pelo seu curso. "Mas gasto apenas R$ 211", conta. E o desconto é comum, afirma o pro-reitor de marketing da UniÍtalo, Hélio Athia. "A carga horária é a mesma, mas eles têm a vantagem de pegar menos trânsito e pagar menos", garante.

Hoje, a instituição de ensino pioneira nos cursos da madrugada conta com cerca de 3.000 alunos nos períodos alternativos, após três anos do início dessas atividades. E a maioria desse grupo está no período entre as 5h45 e 8h30. "Temos também cursos das 23h30 até às 1h30. Mas nesse horário são apenas 20% dos alunos", conta Athia.

A ideia de criar o horário alternativo surgiu quando Athia, em viagem ao Rio de Janeiro, perdeu o voo de volta. E durante a madrugada, sem sono, conversou com alguns garçons, que jogavam pelada às 3h. "Eles disseram que era o horário mais fácil para eles jogarem", lembra. "Sugeri os horários ao reitor e desenvolvemos os cursos. No começo as aulas atravessavam a noite, mas percebemos que a maior demanda era pelos horários das 5h45 e das 23h30", explica.

Athia afirma que os professores, nos horários alternativos, possuem maior graduação, como os doutores. "Até o reitor dá aula."




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