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Venda de carros
importados triplica
Alexandre Melo
Do Diário do Grande ABC
21/09/2011 | 07:24
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Para não correr o risco de pagar mais caro pelo sonhado carro importado, a trabalhadora rural Alzita Maria Teixeira, 50 anos, enfrentou 400 quilômetros de Águas de Santa Bárbara até Santo André para comprar seu Chery Face. Após o anúncio do governo de elevar o Imposto sobre Produtos Industrializados em até 30% para esses veículos na semana passada, as vendas nas concessionárias da região chegaram a triplicar.

Alzita planejava comprar o veículo apenas no fim do ano, usando o 13º salário de entrada, mas com a perspectiva de alta do IPI, o valor não caberia no orçamento. "Paguei R$ 32.990. Dei uma entrada e financiei o restante em 48 vezes. É um absurdo o carro nacional custar mais caro que o importado completo", diz.

Alguns gerentes dizem que o corre-corre às concessionárias desde o fim de semana mais parece shopping na véspera do Dia dos Pais. Na revendedora BMW de São Bernardo, as vendas tiveram desempenho fora do comum. Segundo o supervisor Wilson Pedroso, 60 unidades foram comercializadas, o triplo de um fim de semana comum.

"No dia seguinte ao anúncio contatamos os clientes para fazerem negócio antes do aumento. Muitos também vieram à concessionária. Temos 70 carros no estoque e ainda não sabemos qual será o impacto nos preços. A diretoria da empresa se reúne todos os dias para discutir o assunto", pontua Pedroso. A única certeza é que os veículos encomendados serão faturados com valor novo.

O showroom andreense da chinesa Chery também registrou alta nas vendas. O vendedor Toni Joma afirma que os funcionários nem tiveram o trabalho de contatar os clientes, pois a procura foi espontânea. A média de comercializações na unidade dobrou no último fim de semana, totalizando pouco mais de 30 veículos. "Foi um de nossos melhores resultados", destaca.

DISPONIBILIDADE - As concessionárias que tiveram estratégia de ligar para os consumidores com negócios pendentes pedindo que fossem às lojas fechar a compra deu certo. Um funcionário da chinesa JAC Motors, que preferiu não se identificar, diz que os consumidores querem saber dos preços e efetivam a compra. "Muitos clientes estão revoltados com a medida do governo."

Ainda em Santo André, a revendedora da coreana Kia tem estoque de 70% dos modelos. O gerente geral de vendas da filial Tom Pessoa, se impressiona com o movimento do fim de semana. Entre sábado e domingo foram negociadas 20 unidades, sendo que a média é no máximo 12 veículos.

Concessionárias cogitam reajuste dos preço

Mesmo antes da nova remessa de automóveis chegar às lojas, algumas concessionárias estudam reajuste nos preços. O Chery QQ - considerado o carro importado mais barato do País - pode ter seu preço reajustado de R$ 23.990 para R$ 25.990, diz o vendedor da unidade andreense Toni Joma.

"Estamos vendendo os carros a preço oficial de tabela porque o estoque está alto, mas isso pode mudar", explica o vendedor da marca chinesa. Entre outrasmontadoras a expectativa é a mesma. Na coreana Kia, os clientes não conseguem mais barganhar descontos de até 5%. "Após o anúncio de que o IPI para os importados vai aumentar estamos praticando somente o preço da tabela", destaca o gerente geral de vendas de Santo André, Tom Pessoa.

Os modelos mais vendidos Cerato e Soul, que têm versões a partir de R$ 54 mil, por exemplo, tinham desconto de até R$ 2.700. Os consumidores que precisarem encomendar um veículo poderão desembolsar até 15% a mais. Ou seja, o valor pulará para R$ 62,1 mil, que na ponta do lápis representa R$ 8.100 de diferença. "Tanto a Kia quanto os concessionários deverão perder um pouco de margem para não afastar o consumidor. Um aumento de 30% é inviável", diz Pessoa.

Vale lembrar que a elevação do imposto não vale para as importações do México e do Mercosul, com os quais o Brasil possui acordo automotivo. Números da Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores apontam que em 2010, dos 606.147 unidades importadas, 19,75% foram de marcas associadas à entidade.

 

Com medida, comercialização terá desaceleração neste ano

As vendas de veículos importados por empresas que não possuem fábricas no Brasil devem recuar nos próximos meses. Em agosto, as companhias que integram a Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores comercializaram no País 20.420 unidades, ante 18.346 em julho e 10.007 em agosto do ano passado. "Devemos voltar para média mensal em torno de 15 mil veículos", afirmou José Luiz Gandini, presidente da entidade.

A estimativa de 185 mil veículos comercializados em 2011 está mantida. De janeiro a agosto, a entidade contabilizou 129.281 unidades vendidas pelas importadoras associadas.

Este volume de comercializações, segundo a Abeiva, garantiu expansão de 112,4% sobre o total de 60.868 unidades em igual período do ano passado.

PARTICIPAÇÃO - Com o resultado de agosto, a participação dos importados no mercado total nacional passou a 6,64%, contra 6,37%, em julho. Ante o mesmo período no ano passado, porém, houve aumento de 104,1%.

As 27 marcas filiadas à entidade devem encerrar o ano com 1.092 concessionárias. Hoje, essas empresas respondem por cerca de 800 pontos de atendimento em todo o País. Esses estabelecimentos geram cerca de 27,5 mil empregos diretos, afirmou a Abeiva.




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