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Ativista chinês Liu Xiaobo ganha Prêmio Nobel da Paz
Da AFP
08/10/2010 | 08:15
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O dissidente chinês Liu Xiaobo, que está preso, foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz 2010 por sua "longa luta não violenta pelos direitos humanos na China", informou nesta sexta-feira em Oslo o Comitê Nobel, que irritou as autoridades chinesas com sua decisão.

O governo chinês declarou que a escolha de Liu, que é professor universitário e jornalista, "viola" a integridade do Prêmio Nobel da Paz.

"O Prêmio Nobel da Paz deveria ser concedido àqueles que trabalham para promover a harmonia étnica, a amizade internacional, o desarmamento e os encontros de paz. Estes eram os desejos de (Alfred) Nobel", declarou em um comunicado Ma Zhaoxu, porta-voz do ministério das Relações Exteriores chinês.

"Liu Xiaobo foi condenado por violar a lei chinesa e sentenciado à prisão pelos órgãos legais chineses", destacou. "Suas ações vão contra o propósito do Prêmio Nobel da Paz. Entregando o prêmio a esta pessoa, o comitê Nobel violou e ultrajou o prêmio".

O ministério chinês das Relações Exteriores chegou a convocar o embaixador da Noruega em Pequim, a quem expressou seu descontentamento pela concessão do prêmio a Liu Xiaobo.

Liu, de 54 anos, foi detido pela primeira vez após os célebres protestos do movimento estudantil na praça da Paz Celestial, em Pequim, em junho de 1989, violentamente reprimidos pelo governo.

Entre 1996 e 1999, foi mantido em um campo de "reeducação pelo trabalho" por defender a reforma política e a libertação dos estudantes que participaram dos protestos de 1989 ainda presos.

Liu foi preso novamente em 2008 por ter sido um dos 10.000 signatários da Carta 08, petição formulada para exigir reformas políticas no regime comunista chinês.

Em dezembro de 2009, foi condenado a 11 anos de prisão por "subversão", em um julgamento que gerou uma onda de protestos por todo o mundo.

"Estou tão feliz, estou tão feliz, não sei o que falar", disse à AFP por telefone Liu Xia, mulher do dissidente, que ficou sabendo da premiação através de amigos.

"Quero agradecer a todos por apoiar Liu Xiaobo. Quero agradecer ao Comitê Nobel, a Vaclav Havel, ao Dalai Lama e a todos aqueles que defendem Liu Xiaobo", afirmou, referindo-se ao ex-presidente tcheco e ao líder tibetano, que apoiaram a candidatura do dissidente ao Nobel.

"Peço firmemente que o governo chinês o liberte", acrescentou Xia, informando que a polícia disse que a levaria no sábado para a província de Liaoning, onde seu marido está preso, para contá-lo sobre o prêmio.

Ao anunciar o prêmio, o presidente do Comitê Nobel, Thorbjoern Jagland, afirmou que a China, segunda maior economia mundial, deveria assumir "mais responsabilidades" devido a seu cada vez mais importante papel no cenário internacional.

Segundo Jagland, a escolha do dissidente foi motivada "por sua longa e não-violenta luta pelos direitos humanos e fundamentais na China".

"Faz muito tempo que o Comitê Nobel da Noruega considera haver um estreito vínculo entre os direitos humanos e a paz", acrescentou.

Vários países ocidentais, ONGs e o Dalai Lama se uniram para pedir a libertação do dissidente.

O presidente americano Barack Obama, que recebeu no ano passado o prestigioso prêmio, pediu que Pequim "liberte Liu o mais rápido possível", saudando a atribuição do prêmio a um "porta-voz eloquente e corajoso da causa dos valores universais defendida por meios pacíficos e não violentos".

O líder espiritual dos tibetanos no exílio, o Dalai Lama, Prêmio Nobel da Paz 1989, pediu a libertação imediata do dissidente chinês, além da de "outros prisioneiros políticos que foram encarcerados por terem exercido sua liberdade de opinião".

Em uma de suas últimas entrevistas, Liu disse ter esperança de assistir à progressiva democratização da China.

"Vamos avançar muito lentamente, mas não será fácil conter as demandas de liberdade, tanto das pessoas comuns quanto de membros do Partido (comunista)", estimou.

O Prêmio Nobel da Paz é tradicionalmente entregue em Oslo no dia 10 de dezembro.

"Quem estará presente na cerimônia? Ainda não sabemos", indagou o presidente do Comitê Nobel.

Stefenn Seibert, porta-voz do governo alemão, expressou o desejo de seu país de que Liu seja libertado para comparecer à cerimônia de entrega do prêmio na Noruega.

Shang Baojun, um dos advogados de Liu, declarou nesta sexta-feira que espera uma libertação rápida do dissidente, agora que ele foi premiado com o Nobel da Paz.

"Espero que, graças a esta decisão, ele seja rapidamente liberado, embora seja ainda cedo demais para dizer se isto vai de fato acontecer", ponderou.

"Espero que a China se abra ainda mais com este evento, e que suspendam as restrições à liberdade de expressão", indicou.

Dias antes do anúncio do prêmio, a China havia advertido que, se Liu fosse escolhido, consideraria um "gesto inamistoso" caso o governo norueguês o felicitasse.

A ameaça, no entanto, não intimidou o primeiro-ministro deste país nórdico, Jens Stoltenberg.

"Quero parabenizar Liu Xiaobo, que obteve o Prêmio Nobel da Paz por seu compromisso com a democracia e os direitos humanos", indicou Stoltenberg em um comunicado.

Para a organização RSF (Repórteres Sem Fronteiras), a atribuição do Nobel ao dissidente chinês é uma "lição para todos os governos democráticos que se submetem a Pequim".

"As ameaças de represálias das autoridades chinesas não foram suficientes para atemorizar o Comitê Nobel e as autoridades norueguesas", elogiou a RSF em um comunicado.




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