Cultura & Lazer Titulo
Som do campo na cidade
Cristie Buchdid
Do Diário do Grande ABC
16/09/2010 | 07:05
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"Das músicas sertanejas, a de raiz é a que mais toca o coração e a alma das pessoas, porque mexe com histórias de vida". Essa é a observação do maestro da Orquestra de Violeiros e Berranteiros de Mauá, João Aletto, sobre o estilo predominante no CD O Rio e a Paineira - Volume 3, que será lançado pelo grupo amanhã, às 20h, no Teatro Municipal de Mauá.

Sons de pássaros, reproduzidos com instrumento chamado piu, iniciam a primeira faixa, Paineira, na tentativa de trazer a paz do campo para a cidade grande.

Ouvir o álbum é um alívio em meio ao corre-corre urbano, pois resgata o som da roça em muitas faixas. "Vemos muita gente buscando a vida do interior. Onde quer que esteja, a música traz à mente essas coisas boas e bonitas", acredita Aletto. Músicas folclóricas, poesias e clássicos sertanejos também estão entre as 16 faixas.

O evento de lançamento do CD terá convidados no palco: Orquestra de Viola Caipira de São Bernardo; Orquestra Sertaneja Nossa Senhora do Paraíso, de Santo André; Orquestra de Violeiros São Sebastião, de Rio Grande da Serra; Orquestra de Violões Especial, de Mauá; além da Orquestra de Flauta Doce, de Mauá, tocando o Hino Nacional. "Cada grupo apresentará quatro ou cinco músicas. A Orquestra de Violeiros e Berranteiros de Mauá tocará sete. No encerramento, todos se reúnem no palco. São 200 violeiros executando oito clássicos da música de raiz. É o momento de grande emoção. Será a noite de gala da música caipira", diz Aletto.

Para quem não conhece, o grupo anfitrião é formado por 90 músicos e cantores de idades variadas, de crianças a idosos, de ambos os sexos. Entre os instrumentos estão berrante, viola caipira, violão, acordeão, flauta, piu de pássaros e percussão. A turma provará hospitalidade ao levar café e bolo de fubá ao evento para servir ao público após o espetáculo, com duração prevista de 2h30.

MÚSICAS
O CD O Rio e a Paineira - Volume 3 é um marco para a Orquestra de Violeiros e Berranteiros de Mauá. "A partir desse trabalho, a gente começa a escrever parte da história da cidade nas músicas", diz João Aletto. A obra também reúne poesias de autores locais e tem capa decorada com pintura de Clineu Grosso, do município.

O título do CD revela as duas faixas principais, compostas por Antenor Aparecido de Oliveira, que também canta e toca violão e viola caipira na orquestra. A primeira música, Paineira, é homenagem à árvore que é referência no município. "Ela fica na Praça da Paineira, no Centro. A memória oral da cidade diz que foi plantada em 1917.

A música conta a história real da paineira, inclusive quando quiseram retirá-la, na década de 1980, porque a área seria vendida, mas a natureza venceu. Foi feito panelaço e pessoas abraçaram a árvore em ato simbólico", lembra João Aletto, que participou da manifestação. "A cidade tem carinho muito grande pela paineira, que foi marco de resistência do povo na década de 1980", completa o compositor da música.
A outra faixa de Oliveira é Tamanduateí, em homenagem ao rio que nasce na Gruta Santa Luzia, em Mauá. "E que teve importância muito grande para o desenvolvimento da cidade", explica Oliveira, que faz solo na música, cantada por toda orquestra.

Sertanejo de raiz aparece em composições próprias, como Ruraleiro (Francisco Bessa), e em regravações de clássicos como Brasil Caboclo, Tristeza do Jéca, Velho Pai, Casa de Caboclo, Velhas Cartas e Luar do Sertão, além da famosa O Menino da Porteira. "São músicas eternas. Daqui a 100 anos estarão executando-as", acredita Aletto.

Três poesias são declamadas no CD. "Velha Paineira é da poeta Mariana Canova, que tem 70 anos, mais de 1.000 poesias escritas e toca na orquestra. Ela fala sobre árvore de Monte Sião, onde morou na infância", diz Aletto. As outras poesias são Berrante, Cultura na Cidade e Saudade da Roça.

Músicas dos folclores do Nordeste e do Amazonas estão presentes. Produção independente, o CD será comercializado pela orquestra por R$ 15.

Lançamento do CD ‘O Rio e a Paineira - Volume 3' - Orquestra de Violeiros e Berranteiros de Mauá. Música. No Teatro Municipal de Mauá - Rua Gabriel Marques, 353, Centro, Mauá. Tel.: 4555-0086. Amanhã, às 20h. Ingr.: R$ 5.


Resgate histórico continua
A história de Mauá continuará sendo contada no próximo CD da Orquestra de Violeiros e Berranteiros da cidade, previsto para o fim de 2011. Para isso, o maestro João Aletto encomendou músicas a Antenor Aparecido de Oliveira, compositor e integrante da orquestra. "Escolho temas pela importância histórica, para que não sejam esquecidos. A música tem o poder de fixar fatos na memória", explica Oliveira, que já tem cinco faixas aprovadas. Uma delas é Gruta Santa Luzia, que será apresentada amanhã no evento no Teatro Municipal de Mauá.

Festas na Matriz resgata histórias da igreja da cidade. "Lembra procissões, quermesses, o coreto que não existe mais. Fala da banda Imaculada Conceição, que tocava na igreja, das Filhas de Maria, meninas que se vestiam de branco e acompanhavam procissões segurando velas e terços", explica Aletto. (Cristie Buchdid)

A música mais triste, segundo o maestro, é A Capelinha, que conta a história da Capela Nossa Senhora e São Sebastião, construída em 1915, no bairro Sertãozinho, em Mauá. "Era patrimônio histórico-religioso. A capelinha foi vendida e o novo dono a demoliu há dois anos. Foi um momento de muita tristeza e revolta para toda comunidade católica", lembra Aletto.

O Trem conta a história da construção da estrada de ferro. Para completar, a música Praça 22 de Novembro resgata o espaço do Centro. "Tinha concha acústica, fonte luminosa. Quando eu era menino, passeava lá. Era bem familiar e lotava nos fins de semana. Ela foi destruída e parte transformada em rodoviária. Outra parte foi reconstruída", diz Aletto.

 

 




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