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Trash, quando a
fábula brota do lixo

Combinando a dura realidade e o alívio dos
contos, o filme impressiona pela qualidade

Andréa Ciaffone
09/10/2014 | 07:00
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Divulgação


Infâncias destruídas pela pobreza e pelo descaso, garotos armados, policiais violentos, políticos corruptos, missionários desiludidos, mistério e perseguições nas vielas das favelas cariocas. Tudo isso já foi visto em filmes brasileiros e também faz parte do roteiro de Trash – A Esperança Vem do Lixo, que estreia hoje, mas mesmo assim o filme surpreende, é original e empolgante.

O longa combina o melhor das fitas de ação com a moral das fábulas. Ao colocar o bem contra o mal e os garotos no meio do embate, mostra a força da juventude e da teimosia, e conquista a plateia. A ação é desenvolvida pelos garotos estreantes Rafael (Rickson Tevez), Gardo (Eduardo Luís) e Rato (Gabriel Weinstein).

Uma das credenciais visíveis no cartaz do filme é a presença de dois dos atores mais badalados do cinema: Wagner Moura (Tropa de Elite 1 e 2) e Selton Melo (Meu Nome não É Johnny, Mulher Invisível e O Palhaço), que interpretam, respectivamente, o mocinho e o bandido. O elenco de luxo vai além: traz o norte-americano Martin Sheen (o presidente dos Estados Unidos na série The West Wing), além de vários nomes do primeiro escalação do cinema brasileiro, como Stephan Necessian e Nelson Xavier (Chico Xavier).

Mas é nos créditos de produção, direção e roteiro que a estirpe de Trash se revela com brilho. A direção é do inglês Stephen Daldry, que dirigiu Billy Elliot, As Horas, O Leitor, Tão Forte, Tão Perto, filmes que somaram 19 indicações ao Oscar e que levaram duas estatuetas para casa.

O roteiro foi desenvolvido por Richard Curtis, famoso pelas comédias Quatro Casamentos e Um Funeral, Um Lugar Chamado Notting Hill e O Diário de Bridget Jones, entre outras e, quando os produtores decidiram que o português seria o idioma dominante, o roteirista Felipe Braga foi chamado para pôr Fernando Meirelles (Cidade de Deus) para dar um toque de autenticidade nos diálogos. Aliás, já na primeira cena há referência ao sucesso de Meirelles.

A intervenção faz sentido numa produção tão internacional quanto o currículo de Andy Mulligan, autor do livro em que o filme se baseia, que já foi professor no Brasil, Índia, Filipinas e Malásia e criou no seu livro um lixão que poderia ser em qualquer um destes países.

A decisão do produtor Kris Thykier, Working Title, de ter como coprodutoras a PeaPie Films e a O2 teve a ver com a experiência da equipe de Meirelles, responsável pela Cidade dos Homens da TV, em trabalhar com atores de comunidades. E também com o fato de o Rio ter apoiado a filmagem. Na soma de talento, sensibilidade e experiência é um filme acima da média. Precioso. 




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