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Sexta-Feira, 3 de Maio de 2024

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Em São Bernardo
Polícia investiga morte de mãe e bebê no Hospital da Mulher

Óbitos ocorreram na segunda semana deste mês no equipamento; denúncias de negligência chegam a seis no município

Thainá Lana
21/04/2024 | 07:00
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Adriano e Giovanna em 9 de março (FOTO: Arquivo Pessoal)


 A Polícia Civil apura as mortes de mãe e bebê no Hospital da Mulher de São Bernardo. Os óbitos ocorreram no início deste mês no equipamento de saúde e estão sob investigação do 1º DP (Distrito Policial) do município, por meio de inquérito policial. O viúvo Adriano Batista de Lima, 30 anos, denuncia possível negligência no atendimento da sua mulher, Giovanna Bianchi Dinalli, 29, na UBS (Unidade Básica de Saúde) Jardim Farina e na unidade hospitalar.

Lima explica que a gestante estava com 30 semanas quando deu entrada no hospital com fortes dores na barriga e nas costas, no dia 8 de abril. Giovanna foi internada com pressão alta, e a equipe médica informou à família que ela estava com pré-eclâmpsia, complicação médica que ocorre durante a gravidez e é caracterizada por hipertensão arterial (pressão arterial elevada) e disfunção de órgãos, como o fígado e rins.

A gestante ficou internada por cinco dias enquanto recebia medicamentos para baixar a pressão. O marido conta que a família não sabia da condição médica e que não foi apontado na última consulta de pré-natal realizada na UBS Jardim Farina, cerca de um mês antes, no dia 8 de março. 

“Todo acompanhamento na unidade foi realizado por enfermeiros e por um clínico geral, nunca passamos com um obstetra. Em nenhum momento foi informado que ela estava com pré-eclâmpsia, ela tomava remédio para ansiedade e estava um pouco acima do peso. A equipe médica do hospital disse que o pré-natal dela estava errado, que ela precisava tomar remédios para sua condição e por conta disso o sangue coagulou”, pontua.

No dia 13 de abril, Giovanna teve hemorragia e passou por uma cesária de emergência para retirada do bebê, que nasceu morto. A causa da morte foi asfixia perinatal (falta de oxigenação no cérebro). O viúvo ressalta que durante os dias que a esposa estava internada foi realizado ultrassom e os resultados mostraram que as criança estava em boas condições de saúde. “Por que não tiraram meu filho antes? Poderiam ter feito a cesária para tentar salvar o bebê, ele estava com 1.290 gramas. Se tivessem feito a cirurgia, a Giovanna não teria tido hemorragia”, questiona Lima.

Após o parto, a gestante foi levada para UTI (Unidade de Terapia Intensiva) com excesso de potássio e magnésio no sangue, hemorragia e falência dos rins. Segundo o marido, Giovanna passou a receber diuréticos para tratar os rins. 

“Ao invés de fazerem hemodiálise para limpar seu sangue, ficaram apenas nos medicamentos. Ela não recebeu também nem uma transfusão de sangue, apesar da hemorragia. Na madrugada do dia 15 de abril ela faleceu de parada cardíaca, dois dias depois do nosso filho”, lamenta o marido.

Em uma semana, Adriano Batista de Lima perdeu toda sua família. Ele enterrou o filho Antony no domingo (14) e a mulher na terça-feira (16), no Cemitério Vila Paulicéia. “Não consegui voltar para casa, estou morando com a minha sogra. Quando estiver melhor vou procurar um lugar para mim, agora é tentar continuar vivendo”, finalizou

A família já acionou o advogado e diz que aguarda os laudos e prontuários da paciente para seguir juridicamente com o caso. Segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo), vítimas e testemunhas já foram ouvidas, e os laudos do IML (Instituto Médico Legal) serão encaminhados para análise policial.

Assim como nas demais denúncias de casos de negligência contra gestantes no Hospital da Mulher, a Prefeitura de São Bernardo não respondeu os questionamentos sobre o assunto. 

SÉRIE DE CASOS

A primeira denúncia de negligência no Hospital da Mulher de São Bernardo foi publicada pelo Diário no dia 14 de abril, no domingo passado. O caso da jovem Raissa Falosi Santos, 20, que teve uma compressa esquecida por 19 dias em seu corpo após o parto, revelou série de outros episódios de possível violência obstétrica no equipamento de saúde, que funciona há menos de um ano na cidade. A unidade foi inaugurada em julho de 2023 com objetivo de oferecer atendimento humanizado às gestantes, conforme descreve o site da Prefeitura.

Com o relato de Adriano Batista de Lima, que perdeu a mulher e o filho, esse é o sexto caso exposto em apenas uma semana. Além da investigação da Polícia Civil, outras medidas foram adotadas diante das ocorrências denunciadas. 0 diretor da unidade hospitalar, Rodolfo Strufaldi, teria sido demitido na quinta-feira (18), segundo informou a Prefeitura à imprensa, porém, até o momento, sua exoneração não foi publicada no Diário Oficial do Município, ou seja, em tese ele ainda continua à frente do cargo.

Essa é a segunda vez que Rodolfo Strufaldi é demitido após problemas na saúde de São Bernardo. A primeira vez ocorreu em 2019, quando o gestor foi exonerado do cargo de gestor da rede básica ao vivo, durante reportagem do jornal Bom Dia São Paulo, da TV Globo, que exibia espera de mais de quatro horas na UBS Jardim Ipê.

Para tentar conter à crise na saúde, a gestão do prefeito Orlando Morando (PSDB) também criou um comitê técnico, com profissionais de fora do hospital, para investigar os casos divulgados. A médica Mônica Carneiro, diretora do Hospital do Câncer de São Bernardo Padre Anchieta, coordena a comissão, que iniciou na sexta-feira o trabalho no hospital. 




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