Início
Clube
Banca
Colunista
Redes Sociais
DGABC

Sexta-Feira, 17 de Maio de 2024

Aniversário - Rio Grande da Serra
>
Aniversário de Rio Grande da Serra
Moradora rio-grandense sonha ser primeira astronauta negra do Brasil

Vitória Marques, 21 anos, estuda engenharia aeroespacial na UFABC

Da Redação
03/05/2024 | 08:15
Compartilhar notícia
FOTO: André Henriques/DGABC


Aos 21 anos, a jovem de Rio Grande da Serra, Vitória Marques da Silva, é aspirante a astronauta. Estudante de engenharia aeroespacial da UFABC (Universidade Federal do ABC) sonha ser a primeira mulher negra a alcançar o posto no País. 

Moradora da Vila Niwa, Vitória continua a quebrar barreiras para alcançar o objetivo. No mês passado, participou de sua primeira conferência internacional. A pesquisa acadêmica Confiabilidade do Pouso em Marte do Rover Perseverance foi selecionada pelo comitê organizador para participar da XIV Colage (Conferência Latinoamericana de Geofísica Espacial), realizada entre os dias 8 e 14 de abril, em Monterrey, no México. O congresso reuniu cientistas e estudantes de diversos países para debater projetos da área de geofísica espacial.

Com a participação no evento, Vitória se tornou membro, por quatro anos, da Colage e recebeu premiação de melhor apresentação por seu trabalho. 

Para viver esse sonho, a jovem contou com a ajuda de muitos desconhecidos. Semanas antes de embarcar para o México, Vitória criou vaquinha on-line para arrecadar fundos para custear a viagem. No total, 104 doadores participaram do financiamento coletivo e foram arrecadados R$ 10.632,46 – a meta era R$ 10.500. 

“O congresso foi incrível, conheci muitas pessoas da área e fiz ótimos contatos que poderão virar grandes oportunidades profissionais. Sou o reflexo do apoio e incentivo que todos me deram”, disse a jovem. 

NO CAMINHO

“As pessoas não enxergam a atividade de astronauta como uma profissão. Associam muito a um desejo de criança, então falam que devo desistir e escolher algo que seja rentável e mais possível de alcançar”, afirmou Vitória. A estudante sabe das dificuldades para alcançar seu propósito, principalmente no Brasil, onde não há curso de formação de astronauta – o atual senador Marcos Pontes (PL) é o primeiro, e até o momento, o único astronauta e cosmonauta brasileiro.

Os estímulos negativos e a falta de apoio são utilizados pela jovem como combustível para alcançar seu principal objetivo. Cursando o terceiro ano, Vitória já desenvolveu duas pesquisas: a primeira sobre a reutilização das estruturas aeroespaciais após seu fim de vida, e a segunda é a que foi apresentada no congresso. Neste ano, ela começou a iniciação científica no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) sobre a atomização de sprays de combustíveis para foguetes.

Além do objetivo pessoal, a estudante quer contribuir com o setor aeroespacial nacional. “Somos o futuro do País, e estamos empenhados para que o Brasil avance cada vez mais. Quando pensamos em astronautas logo vem a Nasa ou a SpaceX em mente, mas seria incrível se tivéssemos o nosso próprio centro de treinamento”, afirma. “Quem sabe não me torno a primeira astronauta negra brasileira”, sonha a estudante do Grande ABC.

Jovem enfrenta dificuldades diárias 

Devido à situação socioeco-nômica da sua família, a trajetória de Vitória até o ensino superior foi marcada por diversos obstáculos, e a estudante precisou da ajuda de pessoas pelo caminho. “Recebi apoio de muita gente para pagar matrícula de vestibular, meus óculos de grau, entre outras coisas. Reconheço que sem esse suporte talvez não estaria aqui lutando pelo meu sonho”, diz.

O acesso à universidade federal foi apenas a primeira etapa; o desafio é a permanência. Além da bolsa de iniciação científica e do auxílio financeiro oferecido pela UFABC, Vitória recebe o benefício alimentação, que permite a ela fazer as refeições, sem nenhum custo, no refeitório da instituição.

De segunda-feira a sábado, ela enfrenta maratona para estudar. Saindo da Vila Niwa, em Rio Grande da Serra, até o campus São Bernardo, são quatro horas no transporte público, sendo duas na ida e outras duas na volta. “Além disso, quando chego na sala de aula encontro uma turma majoritariamente de homens brancos. Engenharia aeroespacial é um curso muito elitista. Então, como mulher negra, preciso ser duas, até três vezes melhor, porque o meu erro parece que pesa muito mais”.

“Já ouvi que quero viver uma vida que não me pertence, que não é para pessoas como eu. Com tantos obstáculos, poderia desistir, mas escolho continuar e ocupar cada vez mais espaços”, finaliza ela.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.