Política Titulo ARTIGO
Medos terrenos, desassossegos voadores
Marli Gonçalves
04/03/2024 | 07:01
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Está fácil não, viver. Os medos se multiplicam. Pode ficar tranquilo com essa história da dengue, dos malditos insetos que não vemos nem para lhes dar vassouradas? Vemos seus bebês se multiplicando nas águas paradas. Mas tem mais, muito mais, do que dengue.

Chego à janela para uma refrescada e capto a aproximação de um mosquitinho voador volitante. Pavor. Pra mim ele é preto e branco, com listinhas, e o afugento. Ufa. Nem sei se era o tal Aedes aegypti, o famoso. Odeio insetos em geral. Podem me enumerar teses científicas da importância deles para qualquer coisa que não vai adiantar comigo. Esses sujeitos podem acabar com a humanidade. Odeio. Mosquitos, aranhas, traças, cupins, baratas e variações. Mariposas me angustiam, fico ‘psíquica’, como gente simples define.

Estamos vivendo o real e o pavoroso? Esse mundo quase invisível para o qual pouco adianta se armar, praticar tiro ou fazer cursos de apertar o spray da lata de inseticida? Procurar e destruir qualquer lugarzinho de água parada, sabendo que logo ali pode ter mais. Qualquer lugar. Larvas rebolantes crescendo. Qualquer lugar, tampinha, buraquinho. Sem vacina para todos. Não adianta usar máscaras. Nem beber repelente. Se as pessoas não conseguem nem comprar filtro solar!

Surgiu uma nova noia de nome apavorante, vinda do Amazonas, a tal febre Oropouche. Essa pode vir de infernais bichinhos mais comuns, maruins ou mosquitos-pólvora e os pernilongos. Se picarem alguém infectado, pumba, passam a ser transmissores. O filme de terror, agravado com as mudanças climáticas, só aumenta. Que tal a infestação de mortais escorpiões amarelos que vêm sendo encontrados? Viva as galinhas!

Ficou psíquico também? Pois, então, mais motivos, o que comemos, se ultraprocessados, envenenados, cancerígenos; enchentes, raios faiscantes, choques em fios nos postes de ruas com buracos gulosos; assaltos à luz do dia, golpes sem qualquer amor; balas perdidas.

Ah, e balas encontradas. Granadas. Fuzis, metralhadoras, muita pólvora. Não! Não estou falando do crime organizado. Podem pode estar na casa do seu vizinho, como em Campinas onde explodiu o apartamento e o prédio onde morava todo bonitinho um, sei lá, bem aposentado militar. Boom! Esse ‘cidadão’ foi preso imediatamente? Não! Saiu andando. Apareceu depois, de coitadinho que teria tentado suicídio.

Eu ia escrever sobre nós, mulheres, que o Dia da Mulher, 8 de Março, vem aí, cada vez mais vilipendiado e comercial. Falaria também sobre medos e sobressaltos. Todos os dias cruelmente assassinadas. Como se não bastasse a violência geral, a perda de alguns poucos direitos nossos tão duramente conquistados nas últimas décadas, temos que guerrear contra os malditos mosquitinhos.

Marli Gonçalves é jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo e autora do livro Feminismo no Cotidiano.




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