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Domingo, 28 de Abril de 2024

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À espera de uma família
Fila de adoção na região tem 1 criança para cada 15 famílias

No total há 57 menores e 844 pretendentes; especialista atribui sobrecarga de demandas nos fóruns e restrições de adotantes como causas para desproporção

Thainá Lana
Do Diário do Grande ABC
29/05/2022 | 07:00
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Arquivo Pessoal


A cada criança que espera para ser adotada nos abrigos da região, existem 15 pretendentes aguardando na fila da burocracia. Segundo dados do TJ-SP (Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo), até abril, as 18 unidades de acolhimento distribuídas pelas sete cidades abrigavam 455 crianças e jovens, sendo que 57 desses menores estão disponíveis para serem adotados e aguardam por nova chance para recomeçarem, pois já foram destituídos das suas famílias biológicas, seja por casos de maus-tratos, rejeição, abandono ou até violência física, psicológica e sexual. Do outro lado estão 844 famílias dispostas a acolher – veja dados por cidade abaixo.

Moradora do bairro Campestre, em Santo André, a comunicóloga Aline Siqueira, 43 anos, está na longa fila de espera para adotar uma criança e aguarda há mais de três anos para poder aumentar a família. Para ela, o processo de adoção, que iniciou na Vara da Infância da Capital e foi transferido para Santo André, vem sendo bem conduzido, porém, gera bastante expectativa. “A ansiedade é enorme. Cada etapa concluída é um dia a menos longe da criança”, desabafa Aline.

O expressivo número de adotantes perante o de crianças desimpedidas está relacionado com a sobrecarga de demandas nos fóruns regionais, a falta de profissionais para atender os processos e também pelas restrições impostas pelos próprios adotantes, conforme explica Ariel de Castro Alves, advogado, integrante do Instituto Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente e da Comissão da Criança e do Adolescente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo.

“Existe muita morosidade nos processos de adoção em razão da análise criteriosa do poder público para identificar se os adotantes possuem condições sociais, econômicas, psicológicas e afetivas para adotarem. A falta de equipes técnicas nos fóruns para realizarem as entrevistas, visitas domiciliares e estudos psicossociais também é outro fator predominante para a demora na liberação”, declara o especialista.

Foram sete longos anos de espera para que o são bernardense Deivid Almeida, 37, pudesse, finalmente, abraçar seu filho. O pequeno Pietro, 3, chegou somente neste mês à família, que conta também com outro pai, Fabiano de Araujo, 33. Para segurar a ansiedade durante esse tempo, Deivid levou à risca frase dita por uma assistente social. “Em 2015, quando fui pela primeira vez ao fórum, a assistente disse para não ficar alimentando esperança e para esperar que minha hora iria chegar. E chegou!”, conta Deivid.

MAIS VELHOS

Entre as restrições de perfil apontada pelo advogado como possíveis impeditivos para atraso na adoção, a faixa etária das crianças aparece entre as principais causas. Dos 57 menores livres para adoção no Grande ABC, mais da metade são maiores de 12 anos. Os jovens representam 56% do total, seguido por crianças de 8 a 12 anos e as de 3 a 8 anos – apenas quatro crianças menores de três anos estão aptas para adoção.

“Muitos adotantes querem adotar crianças brancas, do sexo feminino e com menos de 3 anos – perfil que é minoria nos abrigos e nos casos de destituição familiar. Quando os jovens completam 18 anos, infelizmente, são praticamente expulsos dos abrigos. Alguns casos, após a expulsão das unidades de acolhimento, os jovens vão morar com os próprios familiares ou padrinhos voluntários, e caso não consigam se manter sozinhos vão para as ruas”, explica Ariel.

Para incentivar a adoção tardia, o Tribunal de Justiça promove a campanha Adote um Boa Noite. A iniciativa busca ampliar o número de adoções de crianças maiores de 7 anos e, para isso, disponibiliza no site do órgão uma página com fotos e histórias de alguns jovens nessa faixa etária – a página apresenta três menores de Santo André. “Adotar adolescentes e crianças com mais de 7 anos é a maneira mais rápida de realizar o sonho de ser pai ou de ser mãe”, alerta a campanha. Veja o passo a passo para adoção abaixo.

Adoção uniu destino de mãe e filho inseparáveis

Rostos já conhecidos do público, a dupla de torcedores do palmeiras (que ganharam projeção internacional após a mãe aparecer narrando uma partida de futebol para o filho no estádio), se encontraram e vivem, desde então, grande história de amor e união. Nascidos em Mauá, Silvia Grecco, 52 anos, e Nickollas Grecco, 15, tiverem seus destinos traçados em 2007, quando ele tinha apenas 4 meses de vida. O sentimento materno tomou conta no momento em que ela segurou o pequeno nos braços e, assim como nas histórias cinematográficas, ela já sabia que o menino estava destinado a ser seu filho.

Nickollas nasceu prematuro e, por conta disso, sua retina não conseguiu ser formada, fator que ocasionou a perda de visão. Logo após o nascimento, o bebê precisou ficar internado e, ainda no hospital, foi destituído da sua mãe biológica. Automaticamente ele entrou no processo de adoção. Antes de Silvia, 12 pretendentes negaram o pequeno por falta de compatibilidade com o perfil desejado. “Acredito que já estava escrito, ele já era meu filho, por isso não deu certo com mais ninguém”, relatou Silvia.

A decisão de adotar surgiu de forma natural e, com o apoio dos familiares, Silvia iniciou o processo na Vara da Infância e Juventude de Mauá – ela já tinha uma filha biológica, Marjore Grecco, 35. Após a regularização dos documentos e as entrevistas técnicas, a espera foi de apenas um ano – a flexibilidade no perfil da criança pode ter contribuído com a agilidade no procedimento.

“Não coloquei nenhuma restrição no perfil, é um filho e não uma mercadoria. Quando a criança é gerada o que as pessoas falam? Que venha com saúde! Não especificam as características físicas que o bebê deve ter e por que na adoção deveria ser diferente?”, desabafou.

Aos cinco anos Silvia se deparou com outro desafio: Nickollas foi diagnosticado com autismo em grau leve. A mãe precisou aprender, na prática, a lidar com os desafios impostos devido à condição do menino. Silvia conta que o caminho não foi fácil, mas que devido ao amor que ela sentia pelo filho foi um período de adaptação onde ela mais aprendeu com ele do que ao contrário.

Hoje, Silvia atua como secretária da Pessoa com Deficiência da prefeitura de São Paulo, posição que também ocupou no Paço de Santo André, e luta por mais inclusão, garantia de direitos e acessibilidade para as pessoas com deficiência. “Gostaria de deixar um recado para quem quiser adotar: adoção não é ato de caridade é um ato de amor. Os pretendentes precisam estar preparados para cuidar e criar uma criança, porque, caso contrário, vai causar mais traumas tendo que devolver para casa de acolhimento”, finalizou. 



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