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Não bastasse o megatrânsito enfrentado para chegar à Estância Alto da Serra, em São Bernardo, no último domingo, os chicleteiros, fãs e seguidores da banda baiana Chiclete com Banana, têm outro motivo para reclamar. O grupo interrompeu a festa com pouco mais de uma hora de apresentação porque a parte de trás do palco cedeu. Os músicos desistiram de fazer a micareta para cerca de 20 mil pessoas por medo que a estrutura inteira desabasse.
Indignados, os foliões do carnaval fora de época pedem o dinheiro do ingresso de volta. E fazem campanha no site de relacionamentos Orkut em prol de um boicote à empresa organizadora do Camaleão Fest seja boicotada, chamada nas comunidades de protesto de Vergonha Fest 2006.
Os abadás - camisetas que valem como o ingresso para a micareta – custavam de R$ 75 a R$ 95, e se esgotaram em poucas horas depois de colocados à venda. Muita gente comprou de cambistas, e não pagou menos de R$ 120.
A festa começou por volta das 14h, com a apresentação de outras bandas de axé. Por volta das 19h, o Chiclete com Banana começou o show mais aguardado do dia, para interrompê-lo cerca de uma hora e meia depois. O vocalista do grupo, Bell Marques, disse ao público que os fundos do palco havia cedido. A organização tentaria resolver o problema e a micareta poderia voltar em alguns instantes.
Por volta das 20h30, Bell retornou pedindo desculpas. Afirmou que não havia como garantir a segurança dos músicos, por conta da estrutura precária montada no Estância. Sozinho no palco, cantou mais duas músicas. E encerrou a apresentação, que tradicionalmente ultrapassa quatro horas de folia.
A Estância Alto da Serra não quis comentar o acidente e afirma que só cedeu o espaço ao evento, organizado pela empresa Atrás do Trio, que ainda comercializou os abadás.
Procurado durante toda a tarde e início da noite de segunda-feira, o empresário Maurício Prado, um dos sócios da Atrás do Trio, não respondeu aos pedidos de entrevista do Diário.
O sumiço dos responsáveis pela organização do Camaleão Fest não deixou apenas os jornalistas sem informação. Os telefones disponíveis para contato não atenderam ao público, que exigia explicações sobre o término antecipado da micareta.
“Paguei R$ 140 no meu abadá, para ver uma hora e pouco de show do Chiclete. Quero o meu dinheiro de volta. Me senti enganada. O show ia muito mais longe. O Bell (vocalista) estava constrangido de parar. Mas não teve jeito”, conta a metalúrgica Fábia Jerônimo dos Santos.
Ela afirma ser freqüentadora da Estância, e que é a primeira vez que um show acaba sem que ninguém da casa apareça para fazer propaganda das próximas atrações. “Nessas horas. ninguém dá as caras”, reclama.
Outra chicleteira que saiu decepcionada com a micareta foi a estudante Bruna Souza, 22. “Pagamos uma fortuna em ingresso. Pra onde foi o dinheiro? Nem o palco agüentou”, protesta. Ela também tentou entrar em contato com a organização. Mas foi atendida durante todo o dia por uma secretária eletrônica. “É a maior falta de respeito.”
Direitos – Especialistas em direito do consumidor afirmam que a empresa tem obrigação de ressarcir os foliões, porque o serviço prestado esteve aquém do prometido.
A advogada Selma do Amaral, da Fundação Procon de São Paulo, diz que, no mínimo, os pagantes têm de receber parte do dinheiro gasto na compra do abadá. “Se o show foi interrompido por falta de condições de segurança, o cliente foi lesado. Porque pagou para ver a apresentação toda, mas só viu um pedaço. Por isso, pode exigir devolução do valor, mesmo que parcial”, afirma.
Na avaliação da advogada do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) Maíra Feltrin, a empresa é responsável pelo fiasco da micareta. E deve propor modos de compensar o público, seja por ressarcimento ou até na realização de outro show do Chiclete. “Quem se sentiu prejudicado deve procurar o Procon. A empresa pode ser multada”, explica.
Caos – A interrupção do show coroou a série desastrosa de acontecimentos que marcou a festa na Estância e transformou diversão em “inferno” para muitos.
A via Anchieta registrou engarrafamento de três quilômetros, da estrada Névio Carlone, entrada da casa de shows, até a fábrica da Volks. O trânsito, comumente estressado nos dias de evento na Estância, piorou por conta das obras no trevo do Riacho Grande, na altura do km 29 da Anchieta. O acesso ao bairro foi entupido e chegou a levar três horas.
Para os motoristas com destino à micareta, a fila gigantesca de carros se transformou em corredor para todo tipo de irregularidades e crimes. Batedores de carteira e celular, ladrões de veículos, vândalos, encrenqueiros, usuários e traficantes de droga, todos agiam livremente, aos olhos do policiamento, insuficiente para conter o tumulto.
Uma das liderança do bairro Riacho Grande, José Carlos Ricci, formaliza nesta terça-feira ao Ministério Público o pedido de intervenção no caso. “Queremos que até o fim das obras no trevo os shows na Estância sejam proibidos. Ou que se encontre uma alternativa para se chegar até lá. Nós estamos impedidos de ir e vir”, reclama.Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.