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Quando o presidente Fernando Henrique entrou no estúdio 3, acompanhado do vice Marco Maciel, dos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, e de oito ministros de Estado, mais de 300 convidados aplaudiram a sua chegada. Do empresário Antônio Ermírio de Moraes, o homem mais rico do país, ao arcebispo metropolitano Dom Cláudio Hummes, que fez voto de pobreza como religioso franciscano, todas as personalidades da sociedade paulista ali estavam representadas.
O banqueiro Roberto Setúbal, dono do Banco Itaú e presidente da Federaçao Brasileira das Associaçoes de Bancos (Febraban) foi obrigado a interromper uma entrevista que dava sobre a oscilaçao do dólar, às 10h55, quando o jornalista Carlos Nascimento, o mestre de cerimônias, anunciou a chegada da comitiva presidencial. Nenhum minuto a perder. Dadas as boas-vindas em nome da família Marinho, a TV Globo projetou num telao um vídeo de dois minutos e meio com flashes do trabalho de seus repórteres na cobertura dos acontecimentos mais importantes do país, especialmente os de Sao Paulo.
O público aplaudiu com entusiasmo o documentário que mostrava cenas de um jornalismo ``independente, abrangente, urgente e exato, sempre fiel à defesa do regime democrático e da livre iniciativa', como Roberto Irineu Marinho diria em seguida, no primeiro dos três discursos do dia. O presidente da Rede Globo lembrou que o prédio que estava sendo inaugurado na Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, na Zona Sul da cidade, é fruto de um sonho de 30 anos atrás. Foi quando um incêndio destruiu as instalaçoes da emissora, desde entao inquilina de um velho prédio, ``um verdadeiro labirinto' da Praça Marechal Deodoro. Roberto Irineu brincou que os 600 jornalistas e técnicos que passam a trabalhar nos mais modernos estúdios da América Latina já começam a sentir saudade da Marechal Deodoro.
``Esta obra foi erguida em menos de dois anos e corresponde a mais uma demonstraçao da nossa absoluta confiança no país, confiança que nao se deixa abalar mesmo em momentos de crise. Trata-se de mais um capítulo da história das Organizaçoes Globo, uma história de coragem e de disposiçao de enfrentar e vencer desafios. Essa história se estende por quase 75 anos e vai se prolongar, assim confiamos, pelas geraçoes sucessoras de Roberto Marinho e de nós três, seus filhos', afirmou Roberto Irineu, rendendo uma homenagem ao pai. O jornalista Roberto Marinho e sua mulher, Lilly Marinho, assistiam a festa ao lado do presidente da República, que eles acompanhariam mais tarde numa rápida visita às principais dependências da televisao.
O orador seguinte seria o vice-governador Geraldo Alckmin, mas ele nao falou. Em vez de seu discurso, a Globo exibiu um depoimento do governador Mário Covas, que havia passado pela emissora antes da chegada dos convidados. Em recuperaçao de uma cirurgia à qual se submeteu em 14 de dezembro para retirada de um câncer na bexiga, o governador passou 40 minutos na nova sede da emissora. Nao deu entrevistas, mas gravou um depoimento de três minutos. Emocionado, Covas agradeceu o investimento que a Globo fez em seu estado. ``Esse é um casamento peculiar, um casamento de quem tem pressa. A Rede Globo tem pressa, Sao Paulo tem pressa e, portanto, desta uniao decorre a vontade de trabalhar, a vontade de rapidamente atingir seus objetivos', disse o governador, lembrando que, menos dois anos atrás, havia gravado o programa Bom dia, Sao Paulo, num cenário improvisado debaixo de uma lona. Covas citou com admiraçao os números que nasceram no descampado em que a emissora ergueu seus estúdios - 16 mil metros quadrados de construçao, instalaçoes envolvendo a mais moderna tecnologia, com 600 profissionais, 19 ilhas de ediçao, 45 equipes externas. ``Que ninguém diga, no futuro, que nao se tem informaçao', disse Covas, com a pose de um garoto-propaganda.
Fernando Henrique, que discursou de improviso, começou falando do Rio. ``As Organizaçoes Globo têm um ponto em comum comigo: ambos somos cariocas de nascimento, mas hoje somos paulistas', afirmou o presidente, acrescentando que, estando em Sao Paulo, se sente em casa. O presidente aproveitou a referência que Roberto Irineu havia feito à crise, alguns minutos antes. ``A crise existe, mas nós nao podemos deixar que ela nos domine. Quantas dificuldades a Rede Globo enfrentou - e hoje está aqui. Quantas dificuldades nós já enfrentamos no Brasil - e avançamos', observou o presidente, convidando os brasileiros a ``enfrentar mais dificuldades com realismo, sem fechar os olhos à existência delas'.
Enquanto a comitiva presidencial percorria os estúdios da emissora ciceroneada por Roberto Irineu, os convidados acompanharam todos os seus passos pelo telao. O show se encerrou com uma apresentaçao da baiana Gal Costa, que cantou Sampa, de Caetano Veloso, num palco iluminado pelos holofotes. Na saída, a assessoria de imprensa do Palácio do Planalto improvisou uma tribuna para FHC falar aos jornalistas. A entrevista acabou dando mais ibope do que o discurso.
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