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Sao Paulo tem buraco na camada de ozônio
José Carlos Pegorim
Da Redaçao
18/03/2000 | 17:24
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Um grupo de pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista) encontrou um buraco na camada de ozônio sobre a regiao tropical de Sao Paulo. Segundo os cientistas, o buraco é temporário e pode ser observado nos meses de outubro e novembro, quando um fenômeno natural favorece o surgimento de correntes de convecçao, induzindo uma maior concentraçao sobre o território paulista do CFC (gás clorofluorcarbono), um gás usado principalmente em refrigeraçao industrial que destrói a estrutura molecular do ozônio presente naturalmente na atmosfera. O fenômeno ainda nao tem explicaçao.

O buraco é pequeno e ainda pode ser considerado uma estreita atenuaçao da camada de ozônio sobre Sao Paulo, em nada comparável ao buraco muito mais famoso que aparece sobre a Antártida. No entanto, ele foi detectado nos últimos três anos seguidos, gerando preocupaçao entre a equipe de pesquisadores do Grupo de Lançamento de Baloes do IPMet (Instituto de Pesquisas Meteorológicas) da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Bauru, responsável pela descoberta.

Os pesquisadores detectaram a alta concentraçao do CFC sobre Sao Paulo - em outras palavras, a reduçao da camada de ozônio - analisando dados coletados durante uma campanha de lançamento de baloes realizada em 1997. Eles queriam determinar a composiçao da atmosfera sobre a regiao tropical paulista.

Os dados revelaram que, acima de 15 km de altura, há uma concentraçao de CFC 25% maior do que no sul da França. "Isso foi muito surpreendente - nós achávamos que ela era menor", afirma o coordenador da pesquisa, o cientista vietnamita radicado no Brasil Ngan André Bui Van, 61 anos.

A pesquisa foi parcialmente publicada em junho do ano passado nos anais de um simpósio da ESA (Administraçao Européia de Espaço, em inglês). Uma segunda campanha de lançamento de baloes deve ser realizada no fim do ano para tentar encontrar uma explicaçao convincente para a concentraçao do CFC sobre Sao Paulo.

Rota dos ventos - A faixa acima de 15 km de altura é denominada de regiao de transporte global dos ventos, por onde trafegam de um ponto ao outro do planeta as partículas lançadas na atmosfera pelo homem ou pela natureza. O transporte global poderia explicar como o CFC chega à Antártida. "É provável que tudo o que estamos observando vá para a Antártida", diz Bui Van. Por outro lado, a descoberta dos pesquisadores da Unesp mostra que a rota do transporte global passaria sobre o território paulista.

Segundo Bui Van, isso poderia indicar que o CFC que se concentra sobre Sao Paulo pode ser originado dos países de Primeiro Mundo que ainda usam o gás, já banido no Brasil, trazido por correntes de ar que descem do hemisfério Norte. Essa hipótese, porém, ainda precisa ser testada nos programas que analisam as emissoes atmosféricas do Norte para o Sul, instalados em computadores de centros de pesquisa na Alemanha e no Japao.

Sem importância - A descoberta do buraco foi feita acidentalmente quando o cientista analisava dados coletados por um satélite europeu de um consórcio internacional para mediçao do ozônio em todo o planeta: "Estava procurando dados sobre o buraco na Antártida e verifiquei o fenômeno em Sao Paulo". Em Bauru, há um equipamento de calibragem do radar.

Os dados do satélite foram consolidados com as mediçoes de monitores instalados no chao, que, por sua vez, foram refinados com os dados coletados pelos três baloes lançados durante a campanha de 1997, que deram um perfil muito mais preciso das concentraçoes de ozônio numa determinada área. O problema é o custo: US$ 20 mil por vôo, fora o custo do próprio balao. "É quase uma operaçao militar", compara Bui Van.

Para o pesquisador vietnamita, porém, apesar de os dados serem públicos e estarem disponíveis há pelo menos dez anos, nunca houve muito interesse dos grandes centros de pesquisa em analisá-los para a latitude de Sao Paulo: "O mundo nao dá muita importância para o CFC no Brasil".




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