Ushuaia – palavra yamana cujo significado é “baía que mergulha no poente” – é a maior cidade da Ilha Grande da Terra do Fogo. Localizada ao norte do Canal de Beagle, é um santuário de maravilhas naturais cercado pelos Andes, que desabam no Atlântico, formando fiordes.

A paisagem é fantástica: picos de neve eterna, glaciares, icebergs e ilhotas emolduram e servem de hábitat para multidões de gaivotas, leões-marinhos e pingüins. Durante o inverno, bosques – os últimos antárticos da Terra – escondem-se sob o manto da neve; na primavera, porém, flores de rara beleza quebram a alva monotonia, explodindo em cor. Regalo para os olhos do visitante e para os animais que por lá circulam, como o guanaco, um tipo de lhama pequeno, e o zorro, espécie de raposa. As lengas, árvores típicas de Ushuaia, contribuem com o vermelho das folhas para a aquarela argentina.

Estes bosques abrigam uma das maiores atrações da região: o Parque Nacional da Terra do Fogo. Criado em 1960, protege 63 mil hectares do extremo austral da Cordilheira dos Andes. A topografia não poderia ser mais caprichosa: montanhas escarpadas, lagos e rios rasgam em vales a região, desenhando paisagens variadas que reúnem cerca de 20 espécies de mamíferos e 90 de aves.

A natureza descortina-se não menos pródiga em outro recanto de Ushuaia: o Lago Escondido, a cerca de 15 km da cidade. O lago vem sendo coberto por turfa, um aglomerado de musgos que pode ser explorado comercialmente como substrato para orquídeas. Estas, no verão, atapetam os campos encharcados, dificultando a caminhada de quem por lá se aventura.

Outro símbolo de Ushuaia é o Farol do Fim do Mundo, que inspirou o romance de Júlio Verne e onde, hoje, funciona um dos mais impressionantes complexos de esqui do mundo. No inverno, a região chega a rivalizar com Bariloche e Las Leñas, estações mais próximas conhecidas pelos brasileiros.

Imperdíveis, ainda, são os museus da cidade. O Museu Marítimo, por exemplo, ocupa o prédio do Presídio de Ushuaia, construído no fim do século passado e desativado entre 1947 e 1950. As luzes das pequenas celas só se acendem quando o visitante entra, revelando surpresas: bonecos de cera representam os antigos prisioneiros, vigiados por outros bonecos que fazem as vezes de guardas nos estreitos corredores. O frio na espinha fica por conta das biografias de alguns dos prisioneiros famosos que lá se hospedaram, de assaltantes a assassinos e presos políticos, como anarquistas do começo do século.

Também interessante é o Museu do Fim do Mundo, perto do porto de Ushuaia, que exibe animais da região empalhados (alguns, quase extintos, como o pingüim-rei, que chega quase à altura de uma pessoa) e objetos de colonizadores, como proas de navios esculpidas em forma de mulher.

Já no Museu de Maquetes, a atração é um mergulho na vida dos nativos fueguinos, primeiros habitantes da região. Cenas do passado são reproduzidas e levam o turista a uma pitoresca viagem no tempo.

Boas opções para o visitante, aliás, não faltam em Ushuaia. Desde os anos 70, a cidade vem atraindo turismo e, hoje, com pouco mais de 60 mil habitantes, oferece confortáveis hotéis e pousadas, além de deliciosos restaurantes. Na rua mais movimentada do local, a Simon Bolívar, lojas, rotisserias, restaurantes e confeitarias esbanjam charme e animação. Perfeito para quem deseja encerrar o dia degustando iguarias regionais ou fazendo hora em um café.