Turismo Titulo Nordeste
Recife de Francisco Brennand

A bela capital nordestina, além do mar, proporciona um ‘banho de arte’ em oficina de cerâmica

Luiz Carlos Fernandes
08/11/2018 | 07:00
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Luiz Carlos Fernandes/DGABC


Se você já ouviu falar que Recife é uma das mais belas cidades brasileiras, tenha certeza disso quando visitar a capital de Pernambuco. Sua arquitetura, suas esculturas, suas pontes, seus jardins, suas praias, suas águas e o maravilhoso encontro do rio com o mar. Mesmo um daltônico consegue ver a cor diferenciada do mar, de um verde intenso. Fácil adivinhar por que o nome do lugar é Recife. Basta olhar a maré quando abaixa e mostra as pequenas montanhas de recifes próximas às areias da praia, formando piscinas naturais. Por muitas horas pela manhã, o banho nelas não necessita preocupação com tubarões, muito comuns nas redondezas.

Mas as belezas do Estado não se restringem às praias. Os visitantes podem também tomar um banho de arte. E, para isso, basta pequeno deslocamento até o sítio do pernambucano Francisco Brennand, 91 anos. Viajar ao Recife e não conhecer a oficina de cerâmicas do artista plástico é como ir a Barcelona e não ver as obras de Antoni Gaudí, ou conhecer o Rio de Janeiro e ignorar o Cristo Redentor. Viajar a Florença e não apreciar o Davi de Michelangelo Buonarroti.

Olaria construída pelo pai de Brennand, Ricardo, em 1917, foi herdada e reconstruída com esculturas enigmáticas, como seres mitológicos e sexuais, muito particular denominada pelo artista de Bosque Sagrado, que começou a erguer ainda aos 44 anos. Se tudo o que você leu até agora já provocou encanto, então é preciso conhecer Olinda, que fica mais ou menos a uma hora do Centro de Recife e. como o próprio nome diz, Oh Linda.

Magistral e obsceno FB
Pintor mundialmente famoso de Recife? De bate-pronto diz-se que é Romero Brito. Velho de longa barba branca, pernambucano e também famoso na capital nordestina? Vem logo à mente o educador, pedagogo e filósofo Paulo Freire. Pessoa moderna e de vanguarda de Recife? É Lenine. Porém, o brasileiro sempre carente de Educação e Cultura necessita conhecer Francisco Brennand, que é tudo isso: um artista completo. Pintor, escultor, ceramista e também mundialmente famoso, dono de inacreditável acervo a céu aberto, além de enorme galeria de pinturas a óleo. Um senhor de 91 anos e também de longa barba branca, nascido na cidade pernambucana em 11 de junho de 1927. Casado pela quarta vez e pai de cinco filhos.

Para visitar a oficina do artista é preciso tempo. Uma manhã é pouco para ver tudo. E quando você acha que já conheceu todas as obras, passando pelo muro do outro lado você se depara com espécie de serpente brotando da terra e, a poucos passos, uma galeria com quadros a óleo, desenhos e aquarelas. Fica difícil acreditar que um ser humano possa produzir enorme quantidade durante uma só vida. Até Egon Schiele tiraria o chapéu para o nível da pintura. São inúmeros retratos de jovens nuas ou semi, lembrando o tema do pintor austríaco.

Abertas ao público, as visitas são constantes e podem ocorrer algumas surpresas, como a de uma velha senhora que foi com a sobrinha que desejava comprar uma cerâmica. A idosa ao se deparar com as obras, disse: “Valha-me Deus, Nossa Senhora, estou diante de um museu de horrores, uma carnificina”. Brennand, quando soube do comentário, considerou que foi a primeira pessoa que soube olhar com exatidão aquilo que ele fazia. Segundo ele, o ato sexual é uma violência para quem assiste de fora, e, olhar um parto, por mais normal que seja, é uma carnificina.

O artista observa: “Essa reação de me chamarem de obsceno, pornográfico etc... Apenas a palavra não está bem usada, é um tema que eu deveria ter mais cuidado, mas desde que comecei a lidar com o barro me permiti essa liberdade.”

Em novembro de 1971, o artista começou a reconstruir a velha cerâmica São João da Várzea, fundada pelo seu pai em 1971. Esse conjunto, encontrado em ruínas, deu início a um colossal projeto de esculturas cerâmicas.

Em 1975, quando houve uma cheia catastrófica na cidade do Recife, caiu uma ponte que ligava o sítio à cidade. Brennand ficou isolado e a solidão fez com que ele enveredasse por formas que tivessem uma morfologia ligada exatamente a uma sexualidade primitiva. Na época, ele ainda não tinha assinatura definitiva, marcava as obras com as iniciais FB. A criatividade é tamanha que cada obra tem a sua peculiaridade e não cansa quem aprecia.

Hoje, Francisco Brennand não faz mais esculturas. Ele se dedica às pinturas, passa a maior parte do tempo no escritório da oficina e não são raras as vezes em que um visitante tem a oportunidade de encontrar o artista nos corredores da oficina para tietar. No sítio, fome não é problema. Ali mesmo tem o Brennand Café. LCF

Multicolorida Olinda
Oh, Linda! Suposta exclamação atribuída ao fidalgo português Duarte Coelho, primeiro donatário da capitania de Pernambuco – ‘Oh, linda situação para se construir uma vila!’ Se a expressão é verdadeira, não se sabe, mas o fato é que a cidade vista do morro é uma pintura. Olinda é pura arte. Suas casas multicoloridas de um bom gosto bem brasileiro abrigam várias oficinas de pintura e música – pode-se ver pelas ruas pessoas circulando com violões nas costas. Futuros músicos tentando tirar notas de saxofones e ouvidos afinados dos mestres; barracas com artesões esculpindo em praça pública, que também é polo de alimentação; pode-se olhar as calçadas através das janelas antigas; dá para ver alunos pintando e professores com olhos atentos; caminhando ainda percebe-se em lojas os bonecos de Olinda dependurados, esperando o Carnaval.

A cidade é bela em qualquer época do ano, imagine então na mais tradicional festa popular do País? Fundada em 1535, Olinda é a mais antiga entre as cidades brasileiras declaradas Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela Unesco, e foi o segundo centro histórico do País a receber tal título, em 1982, após Ouro Preto.

Poesia&Arte
Recife é berço de grandes nomes. Além de Paulo Freire, ainda temos Manuel Bandeira, um dos maiores poetas brasileiros, e João Cabral de Melo Neto, integrante da Academia Brasileira de Letras e da Academia Pernambucana de Letras. E nesta última instituição, dona da 37ª cadeira, está uma das melhores poetisas de Pernambuco, Deborah Brennand, a primeira mulher do mestre das artes. Se o ex-marido emociona pela criatividade e formas exuberantes de sua arte, ela, com seus versos intrigantes e triste metáfora, comove e encanta.

Belas poesias que ficavam nas gavetas até ela ser convencida pelo ex-marido, pelo romancista Ariano Suassuana e pelo poeta César Leal a publicá-las. A crítica especializada a considera, desde então, uma das maiores poetisas nordestinas de sua geração. Deborah Brennand, natural de Nazaré da Mata, Zona da Mata Norte Pernambucana, estreou com O Punhal Tingido ou O Livros das Horas de Dona Rosa de Aragão, em 1965. Aos 80 anos, ela assumiu uma cadeira na Academia Pernambucana de Letras.

Seus livros publicados foram O Punhal Tingido ou O Livro das Horas de Dona Rosa de Aragão (1965), Noites de Sol ou As Viagens do Sonho (1966), O Cadeado Negro (1971), Pomar de Sombra (1995), Claridade (1996), Maçãs Negras (2001), Letras Verdes (2002), Tantas e Tantas Cartas (2003), Poesia Reunida (2007). A poeta morreu em 26 de abril de 2015, aos 86 anos, em Jaboatão dos Guararapes, onde morava.

Sobre sua poesia, ela mesma declarou: “Eu não sei por que comecei a escrever poesia. É uma questão de sobrevivência. O pássaro sabe por que voa? Não. Então também não sei por que escrevo”.

Humor Internacional no Recife
Até o dia 9 de dezembro o público poderá acompanhar exposição de cartuns, caricaturas e quadrinhos do 3° SIHG-PE (Salão Internacional de Humor Gráfico de Pernambuco), o maior evento do setor realizado no Nordeste do Brasil. Lançado em 2012, o evento reinseriu Pernambuco no calendário internacional das artes gráficas ao reunir trabalhos de excelência comprovada, provenientes dos mais diversos pontos do País e do mundo.

Os organizadores escolheram juri internacional para premiar os participantes em três categorias – cartum, quadrinhos e caricatura –, sob o tema ‘literatura’.

A edição deste ano contou com as participações do caricaturista brasileiro Luiz Carlos Fernandes, do Diário, do quadrinista paulista Rafael Coutinho, do cartunista cubano Aristídes Hernández (Ares), da chargista francesa Anne Derenne (Adene) e da ilustradora carioca Lorena Kaz (Lokás). Cada jurado tem uma exposição paralela no espaço do prédio da Caixa Cultura Recife, montada pelos organizadores do salão: o cartunista Samuca Andrade, o chargista e músico Clériston Andrade e a jornalista Mona Lisa Dourado.

Eis os grandes vencedores. Na categoria quadrinhos, o primeiro lugar foi para o brasileiro Evandro Alves e, o segundo, para o compatriota Rafael Corrêa. O colombiano Omar Figueroa Turcius subiu ao lugar mais alto do pódio entre os caricaturistas, enquanto o espanhol Joaquin Aldeguer acabou em segundo. E, no cartum, o mexicano Ángel Boligan sagrou-se vencedor, seguido por Galym Boranbayev, do Casaquistão.

ROTEIRO
Brennand Café
Lugar excelente para tomar aquele café da manhã ou da tarde. Fica na propriedade de Francisco Brennand, uma das cafetarias mais conhecidas de Recife. Nela é possível se alimentar e observar as belas esculturas. Apesar do principal foco do espaço ser café, muitas pessoas frequentam o local para almoçar. O visitante não pode deixar de ir pela manhã, após o café. Conheça a oficina de artes e aproveite para degustar o almoço neste lindo local. Entrada custa R$ 20.

Horário para visitação
Segunda a quinta, de 8h às 17h;
sexta, de 8h às 16h;
Feriado: consultar pelos telefones
(81) 3271-2466/3453-4656
9615-6891/9615-6893.

Cia do Chopp
Restaurante & Chopperia – Avenida Conselheiro Aguiar, 2.775, em Boa Viagem.
Excelente atendimento.
Ambiente Incrível, soft, aconchegante, supergostoso e boa comida.

Exposição 3º Salão Internacional
de Humor Gráfico de Pernambuco
Aberta ao público até 9 de dezembro.
Visitação: terça a sábado: das 10h às 20h; aos domingos, das 10h às 17h.
Caixa Cultural Recife – Avenida Alfredo Lisboa, 505.
Telefone: (81) 3425-1915.




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