Economia Titulo Após 20 anos
Acordo com UE deve beneficiar a indústria

Representantes do setor da região acreditam no fomento de negócios e aumento das exportações

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
29/06/2019 | 08:34
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 Após 20 anos de negociações, o governo federal anunciou ontem a conclusão do acordo comercial entre o Mercosul e a UE (União Europeia). A medida, que visa incrementar a competitividade da economia brasileira com a eliminação de tarifas de exportação, por exemplo, é vista com bons olhos pela indústria do Grande ABC. Para o setor regional, a expectativa é a de criação de parcerias comerciais e fomento de novos negócios.

Para o diretor titular do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de São Bernardo, Cláudio Barberini Junior, o acordo pode trazer benefícios à indústria automotiva. “Abre um bom caminho na exportação de veículos. Atualmente, nós vivemos briga dos Estados Unidos com a China e facilitar a entrada de mais países seria benéfica. Além disso, temos grande representatividade de montadoras com sede na Europa (das seis do Grande ABC, três são europeias: Volkswagen, Mercedes-Benz e Scania) e como as outras também têm filiais lá, podem fazer parcerias boas.”

Segundo ele, o acordo bilateral também traz oportunidades no setor metalmecânico. “Apesar de o segmento ter perdido bastante potencial competitivo, e do câmbio desvalorizado em relação ao euro (R$ 4,36), isso pode equiparar a competitividade. Alinhado à aprovação da reforma da Previdência, que tem previsão de ser aprovada em julho, (o acordo) propiciará um bom ambiente de negócios”, disse ele, ao citar também o setor petroquímico como beneficiado.

De acordo com o diretor do Ciesp Diadema, Anuar Dequech Júnior, a parceria “é extremamente benéfica”. “Temos empresas na cidade com foco na Europa, o que deve influenciar no fomento de negócios. Isso sem falar que, qualquer medida que influencie no aumento da produção, aumenta o volume de venda das empresas e, consequentemente, toda a cadeia acaba entrando nesse barco. Se for relacionado ao setor automotivo, estamos muito ligados às montadoras, então isso deve beneficiar diretamente essas empresas”, analisou.

Apesar disso, Dequech pontuou que é necessário haver redução de impostos para competir com os produtos que serão importados da Europa. “Também precisa ter queda de imposto aqui para competir com o mercado externo. É a única ressalva que temos de fazer.”

Barberini Junior afirma que o aumento nas exportações não deve acontecer imediatamente, mas que deverá ser feito trabalho de desenvolvimento de fornecedores. “Teremos um impacto real após o segundo semestre”, disse.

ENTENDA - Além da competitividade para os produtores nacionais, o governo cita como benefícios do acordo o acesso a insumos de elevado teor tecnológico e com preços mais baixos. As empresas brasileiras terão eliminação de 100% das tarifas na exportação de produtos industriais e, consequentemente, os consumidores também serão beneficiados com acesso a maior variedade de produtos a preços competitivos.

A parte comercial do acordo foi concluída em reuniões na quinta-feira e ontem, em Bruxelas (Bélgica). Juntos, Mercosul e UE representam cerca de 25% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial e mercado de 780 milhões de pessoas. Segundo estimativas do Ministério da Economia, com isso, haverá incremento do PIB brasileiro de US$ 87,5 bilhões em 15 anos, podendo chegar a US$ 125 bilhões.


Especialista alerta para riscos da medida

O coordenador de estudos do Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo, professor Sandro Maskio, afirmou que o acordo entre o Mercosul e a União Europeia pode impactar no processo de desindustrialização do Grande ABC. Segundo ele, mesmo com os benefícios tarifários, a indústria nacional ainda não consegue competir com outros países e, com produtos mais baratos no mercado, o setor pode ter que cortar custos. “Se realmente acabar ocorrendo a troca de produção local por importados, é quase que inevitável que os setores nacionais acabem perdendo espaço. E, atualmente, estamos na contramão de países que se desenvolveram e são líderes mundiais”, afirmou. Segundo ele, antes do acordo seria necessário aumento no investimento do “processo competitivo para incorporar tecnologia aos produtos.”

Ele cita que a abertura econômica no começo dos anos 1990, no governo de Fernando Collor de Mello e, posteriormente, durante a era Fernando Henrique Cardoso, não trouxe benefícios para a região. No período, houve mudança de unidades produtivas e, até mesmo, fechamento delas. “O Grande ABC sofreu muito durante esse período e perdeu grande parte da cadeia de fornecedores. Primeiro, se tornou mais vantajoso importar peças do que comprar do fornecedor local e, para essa empresa conseguir ter algo melhor, ela acabou fugindo para áreas que os custos são mais baratos.”

Já o coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero, acredita nos benefícios desde que o produto de fora não venha para prejudicar a indústria nacional. “Toda vez que a gente pensa em redução de tarifa aponta para cenários mais positivos do que temos atualmente.”




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