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A bordo do Volt
Wagner Oliveira
Enviado a Detroit
12/01/2011 | 07:00
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Divulgação




Tão silencioso quanto à neve que cai mansamente sobre Detroit e, ao mesmo tempo, tão forte quanto o vento gelado cortante, o Chevrolet Volt finalmente chegou às ruas dos Estados Unidos. E parece que veio para ficar. Depois de três anos de pesquisas, anúncios e críticas, o hatch compacto já esta à venda no mercado norte-americano e acaba de ser escolhido o Carro do Ano na América do Norte, em premiação entregue na abertura do Salão de Detroit. A seleção é feita por 49 jornalistas especializados dos Estados Unidos e Canadá.

O Diário teve a oportunidade de dirigir o carro que a GM chama de elétrico - definição da qual concorrentes debocham. As montadoras norte-americanas disputam intensamente a atenção do consumidor em todo o mundo pela primazia da tecnologia que pretende livrar o planeta da dependência dos combustíveis fósseis. A briga não é por menos. Quem desenvolver o sistema mais confiável tende a deixar a concorrência para trás.

Era manhã ensolarada de domingo quando a delegação brasileira posicionou-se em uma das salas do complexo de prédios de propriedade da GM, no centro de Detroit. Depois das explicações técnicas, era hora de dirigir o carro pela capital mundial do automóvel, que amanheceu com -10 ºC , apesar do sol brilhante e do céu sem nenhuma nuvem.

O hatch compacto Volt é tão confortável quanto qualquer bom automóvel. O motor responde e traciona bem ao menor esforço no acelerador. O acabamento do painel, portas e assentos é primoroso. O design exterior também é convincente, assim como a sua estrutura. O condutor só vai notar que está num carro elétrico pela quase ausência do ruído do motor e pelas informações holográficas no painel, que mostram o nível de carga da bateria de íon-lítio.

Essa era mesmo a intenção. A indústria busca desenvolver o veículo elétrico, híbrido-elétrico ou elétrico plug-in que não cause impactos para o consumidor, que, do contrário, não vai deixar de comprar um automóvel convencional, que ainda lhe dá liberdade e autonomia para ir e vir, seja em pequenas ou longas distâncias.

Ainda sem ter equacionado o fator preço, que deverá vir com a escala de produção, a GM informa ter solucionado parte da equação com o Volt, que conta com três motores. Dois deles são elétricos - um para tracionar e outro para geração de energia. O terceiro funciona à combustão, e serve para recarregar a bateria.

Para os técnicos que apresentaram o veículo em detalhes aos jornalistas brasileiros, essa tecnologia é o principal diferencial do modelo, que, ao contrário do híbrido, traciona só com o propulsor elétrico.

"No sistema híbrido, os motores à combustão e elétrico são integrados - um não opera sem o outro", afirmou o engenheiro brasileiro Carlos França, encarregado de projetos especiais na General Motors. "No Volt, nunca o motor a combustão é usado para tracionar, e o veículo, em trajetos curtos, só usa o modo elétrico."

Com a bateria carregada, o Volt tem autonomia entre 40 e 60 milhas - 60 a 80 quilômetros - dependendo do modo de direção. Após esgotada, a bateria pode ser alimentada pelo motor a combustão, que conta com tanque para 35 litros de gasolina. Assim, o Volt expande sua autonomia para 500 quilômetros. Também pode ser recarregada na tomada, levando entre quatro e 12 horas, dependendo da fonte.

Foi mais ou menos a distância que a bateria aguenta o percurso que fizemos pelas ruas de Detroit. Em cerca de 60 quilômetros, só guiamos no modo elétrico. O Volt respondeu bem em todas as situações. O modelo conta com três modos de condução, que podem ser acionados numa tecla do painel. A tradicional, a esportiva e uma reforçada para montanhas, que também pode ser utilizada no terreno plano. Em todas, o carro reagiu muito bem. O motor elétrico garante força para o Volt atingir 160 km/h. Para circuitos urbanos e mesmo na estrada, é mais do que suficiente.

A frenagem também produz energia, que é armazenada. Para melhorar a eficiência do sistema, o fabricante recomenda evitar frenagens bruscas. "É como dirigir um caminhão", diz um colega de test drive. "Não se pode deixar para frear em cima."

Por tudo o que o Volt demonstrou no teste, a GM pode ter encontrado o caminho da sustentabilidade. Sua aposta mercadológica, por enquanto, começa pelos Estados Unidos. Na Europa, sua subsidiária Opel prepara o Ampera. Se acertar, pode sonhar em reconquistar a liderança mundial, perdida pelos erros em apostar em carros grandes e gastões.

Segundo o diretor de comunicações, relações públicas e governamentais da General Motors do Brasil, Marcos Munhoz, a primeira geração do Volt está distante do mercado brasileiro. Ele acredita que o carro ainda tenha preço inviável para nossa realidade. Mas aposta na segunda geração, que deverá estar mais desenvolvida em dois ou três anos.

Nos Estados Unidos, o Volt está cotado a US$ 40 mil. Mas com incentivos do governo, o veículo pode custar US$ 33,5 mil. O Volt começou a ser vendido na semana do Natal. Até agora, apenas 350 unidades foram entregues. A GM estima vender 11 mil neste ano.

O repórter viajou a convite da Anfavea.




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