Turismo Titulo Maranhão
No maior oásis do Brasil
Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
01/10/2009 | 07:00
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Antes de embarcar para a Chapada das Mesas, o personagem Gustavo se vê perdido em um deserto fictício montado pela produção da Rede Globo nas dunas brancas do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses e nas areias amareladas dos chamados Pequenos Lençóis.

"Tivemos autorização do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) para chegar a alguns lugares com número reduzido de carros. Todos os dias encaramos muito sol e vento", conta o diretor artístico da trama, Ricardo Waddington.

Considerado o maior oásis brasileiro, o parque de Lençóis chama a atenção pelas centenas de lagoas formadas pela água da chuva em plena imensidão das dunas. Pelo menos, durante os seis primeiros meses do ano, época em que a chuva garante o aparecimento não só dos lagos como também de aves migratórias e nativos nômades que armam suas barracas de buriti às margens dos manguezais para garantir a subsistência por meio da pesca.

No chamado verão maranhense, entre os meses de julho e dezembro, tudo se transforma: a água evapora e cede lugar a paisagens áridas, que mais lembram o deserto do Saara. A vida vai-se embora, deixando como testemunho o sol escaldante e o céu sempre azul do período de seca. Momento de dar ouvidos ao silêncio e refletir.

Em qualquer época do ano, chegar ao parque exige boas doses de disposição à aventura. Principalmente se a estrada for o meio de transporte eleito para ir de São Luís a Barreirinhas, porta de entrada do parque. Ao todo, gasta-se cerca de sete horas para completar o trajeto, que alterna asfalto com trechos de terra batida.

Se o percurso for feito de barco, o tempo gasto será ainda maior: nada menos que 14 horas. Em compensação, também pode-se cumprir o caminho em aviões bimotores, que chegam a reduzir a viagem para apenas uma hora a preços, é claro, bem mais salgados.

Seja lá como for, a beleza do parque faz qualquer esforço valer a pena. As montanhas de areia chegam a até 15 metros de altura. Sem falar nas centenas de lagos. Alguns deles atingem dois quilômetros de extensão e cinco metros de profundidade durante o período de chuvas. Um irresistível convite ao banho em meio à aridez das dunas.

Aventura de Carolina a Riachão

Para potencializar o turismo na Chapada das Mesas, o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) tem feito trabalho sistemático de profissionalização, em parceria com governos locais e empresários do setor.

De acordo com pesquisa encomendada pela instituição para analisar o crescimento em Carolina, a oferta em número de unidades habitacionais saltou de 168 em 2005 para 225 apartamentos em 2007. A taxa de ocupação-cama também aumentou de 28% para 37% e a entrada de turistas teve crescimento de 31,5% no mesmo período.

Já o processo de consolidação do turismo na cidade de Riachão teve início praticamente no começo de 2009 e ainda tem muito trabalho pela frente. "Queremos lançar novos desafios e deixar mais recomendações para voltarmos aqui novamente daqui a três anos. Acredito que o crescimento do turismo na região será bem maior", prevê o diretor técnico do Sebrae Nacional, Luiz Carlos Barboza.

ECORESORT - Um dos empresários que mais investem no turismo da região é Pedro Iran, proprietário da Pipes, empresa do ramo metalmecânico e de transportes. Segundo o engenheiro de obras da Pipes, Augusto Lucena, está sendo construído em Pedra Caída, no município de Carolina, um ecoresort de 13 mil metros quadrados, composto de 36 chalés, 24 apartamentos e centro de convenções para 300 pessoas. O projeto custará R$ 14 milhões e ficará pronto em 2011.

Além disso, em Pedra Caída será construído um polo de asa-delta. "Pretendemos transformar o lugar num dos pontos mais visitados do País pelos amantes do esporte", informa Lucena. Um grande desafio na empreitada, no entanto, é enfrentar a queimada nas matas. Mas com apoio do Instituto Chico Mendes, os focos de incêndio têm diminuído.

DANÇA DO FOGO - Novas atrações já são estudadas para o ano que vem em Pedra Caída. "Eu creio que terei oportunidade de em breve mostrar aos turistas um pouco da nossa cultura, com demonstrações da Dança do Fogo e a Dança da Iniciação", antecipa o índio Fredson Krikati, que integra a equipe de monitores ambientais da região.

As apresentações devem acontecer a partir do início de 2010, em noites de lua cheia, com participação de oito índios. Cada espetáculo, iluminado por tochas, deve reunir grupos de, no máximo, 25 turistas.

RIACHÃO - Em Riachão, os trabalhos começaram só neste ano. "Estamos mobilizando toda a população para a importância das nossas belezas naturais e de como o turismo é fundamental para Riachão. Vamos promover até concurso de redação para o Ensino Fundamental tendo como tema o município", afirma o secretário de Turismo local, Beto Kelner.

Segundo ele, um cinema está sendo construído na cidade, que vai funcionar com entrada gratuita. Só serão cobrados a pipoca e o refrigerante. As projeções serão feitas pela Programadora Brasil, que distribui filmes nacionais para serem veiculados em espaços não comerciais. (da Agência Sebrae de Notícias)

Da Chapada às mesas

O Maranhão apresenta uma série de singularidades. A começar pelo guaraná Jesus, cor-de-rosa, produzido desde 1920 com a mesma fórmula. Manifestações folclóricas, como o tambor-de-crioula - ritmo envolvente, levado por três percussionistas - e o bumba-meu-boi formam a comissão-de-frente, revelando a comunhão de elementos africanos e indígenas.

À mesa também sentam-se saborosas peculiaridades. O arroz de cuxá - casamento perfeito entre gergelim, camarão seco e vinagreira - faz-se presente em quase todos os restaurantes, assim como as tortas de camarão e caranguejo.

Outro prato típico é o caldinho de ovo, encontrado até no café da manhã dos hotéis.Em Alcântara, do outro lado da Baía de São Marcos, o doce de espécie ganha lugar cativo na lista de comidas inesquecíveis. A combinação entre coco ralado, trigo, manteiga, ovo, folha de laranjeira e açúcar redunda numa joia gastronômica, perfeita para se degustar com guaraná Jesus, claro.

Falar em Jesus por lá, aliás, é se referir ao refrigerante. Caso o assunto seja o Filho de Deus, melhor usar a palavra Cristo.

Bom lugar para passear pelas iguarias locais é o Mercado da Praia Grande, também conhecido como Casa das Tulhas, em forma de círculo. Garrafas de tiquira - algumas, devido à infusão de folhas de laranjeira, são azuladas -, pingas com caranguejo, farinha de puba ... É uma festa!




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