Montar uma estratégia de visitas para estreitar o relacionamento do Porto de Santos com o setor empresarial do Grande ABC. Esse é um dos principais objetivos da Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo), que administra o principal porto do país. A estratégia se deve ao fato de a companhia ter identificado que os sete municípios ainda têm grande potencial a ser explorado para movimentação de cargas via Santos.

Por meio de um estudo encomendado ao Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), a Codesp constatou que anualmente deixam de passar pelo porto santista cerca de US$ 1 bilhão em cargas exportadas ou importadas pelo Grande ABC. Desse volume, US$ 689,8 milhões referem-se a itens exportados pela região e US$ 374,3 milhões em importações. Os dados são de 2003, portanto, depois dos recordes de exportações apurados em 2004 e neste ano, razão pela qual o total do comércio exterior do Grande ABC que não passa pelo Porto deve ser ainda maior.

Segundo o diretor comercial da Codesp, Fabrízio Pierdomênico, o trabalho pedido ao Ipea é um importante instrumento para as ações da companhia. “Sentíamos que faltava uma ferramenta para a busca de novos clientes. Para isso, queríamos saber o que não era movimentado. O estudo nos deu algumas informações interessantes.”

Dois critérios pesaram na avaliação do Grande ABC como uma das principais regiões potenciais para a empresa: o valor agregado dos produtos negociados e a proximidade (distância de 70 a 80 km). Em relação ao valor agregado, a pauta do comércio exterior da região está relacionada fortemente à indústria automotiva. E a distância, segundo o executivo, contribui para um custo mais competitivo de Santos em relação a outros portos. “Mas temos de ficar atentos para potencializar essa vantagem competitiva.”

A proximidade é um dos fatores que explicam a importância que o Grande ABC já tem na movimentação de cargas do porto santista. Anualmente, a região registra o total de US$ 3,5 bilhões em exportação e importação por meio das instalações portuárias do litoral Sul de São Paulo. “Poderiam ser US$ 4,5 bilhões na melhor das hipóteses”, afirma Pierdomênico.

O executivo não tem ilusões. Será difícil ganhar toda a movimentação da região, mas ele avalia que se for possível abocanhar uma parte dos negócios referentes ao US$ 1 bilhão que não é negociado via Santos já seria interessante. Segundo ele, dos US$ 690 milhões em cargas exportadas que não passam pelo Porto, uma pequena parte segue por via aérea, e outras por caminhão para países do Mercosul ou para outros portos brasileiros.

Além do comércio exterior, há potencial a ser explorado nas trocas comerciais no país efetuadas em distâncias acima de mil quilômetros, realizadas pelo sistema rodoviário, e que teriam valor agregado suficiente para serem operados via cabotagem marítima. O estudo do Ipea identificou que as potenciais cargas para Santos por cabotagem, das diferentes regiões do país, chegam a US$ 311 bilhões anuais.

Após a realização dos estudos, a Codesp se prepara atualmente para visitar os potenciais clientes, em conjunto com operadores portuários, terminais e outros segmentos ligados ao comércio marítimo de Santos.

Bem-vinda – Para o secretário executivo da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, Silvio Minciotti, é muito bem-vindo o interesse do Porto de Santos em se aproximar dos clientes. “A relação da região com o Porto sempre existiu de forma espontânea e individual. Colocamos a Agência à disposição para termos atividades planejadas e sinérgicas.”

Minciotti avalia que será possível melhorar a produção industrial dos sete municípios direcionada à exportação, por meio das pequenas empresas reunidas em clusters (os arranjos produtivos locais ou aglomerações de indústrias de um mesmo segmento que atuam de forma integrada). Ele destaca que fomentar o comércio exterior das pequenas indústrias é o papel da Agência. “Mas carecemos de recursos, e se o Porto está interessado, temos o casamento perfeito.”