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Reabilitado, Augusto vive dia de herói no Corinthians
Nelson Cilo
Especial para o Diário
29/01/2000 | 00:07
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Era como se Augusto ainda nao tivesse acordado do sonho. Um dia depois de iniciar a vitória do Corinthians em cima do Palmeiras, o lateral curtiu sexta o doce gostinho da badalaçao. Antes crucificado como um dos principais culpados pelos 4 a 1 que enfureceram a Fiel no Campeonato Brasileiro do ano passado, ele deu o troco no arquiinimigo ao marcar o primeiro gol da vingança consumada na noite de quinta-feira no Pacaembu praticamente vazio.

Poucas pessoas o aplaudiram, é verdade, mas lá estava a ruidosa Gavioes para representar os demais torcedores que o viram nas imagens da televisao, inclusive a filha Michele, 10 anos, solidária nos momentos de angústia vividos pelo pai, que, às vezes, treinava sozinho no clube para aliviar o trauma das críticas insuportáveis.

Ao chegar em casa, de madrugada, Augusto abraçou o filho César, 8 anos, que lia a Bíblia em voz alta para o primo Yuri. Depois, entrou no quarto de Michele, que começava a dormir. Mas, ao receber um beijo no rosto, acordou. "Papai, eu vi tudo e chorei...", disse, orgulhosa do pai herói.

Logo ela - quem diria? - que nao agüentava mais ouvir tantas ironias dos amiguinhos da escola. "A Michele estava engasgada. Sofreu demais, coitada", lembra Augusto.  Augusto também nao se esquece do apoio do técnico Oswaldo de Oliveira, do interino Edson Cegonha e dos raros amigos de verdade. Entre eles, os pastores Joaz e Zezinho, que freqüentemente transmitem palavras divinas ao craque evangélico. Os dois participaram ontem do almoço de confraternizaçao (e de comemoraçao, claro) entre Augusto e a mulher Elenice em um restaurante da cidade.

Alguns clientes o reconheceram e pediram autógrafos, como aquele senhor de uma perna só que, escorado nas muletas, chamou-o ao alambrado do Parque Sao Jorge, ontem à tarde, para falar um monte de elogios ao ídolo ressuscitado para o futebol. "Até parece coisa de Deus. Fui marcar um gol exatamente contra quem quase arruinou minha vida. Provei que posso vestir essa camisa. Agora, sei que vao me respeitar. Sempre confiei em mim, mas as pressoes me atrapalhavam. Eu só queria que nao desconfiassem tanto do Augusto."  

Nem a vergonha de constatar que a torcida nao gritava o nome dele na hora em que anunciavam a escalaçao do Corinthians no Pacaembu - aplausos para todos, menos para Augusto - sugeriu qualquer tipo de vingança. Nada disso. Ao começar a degola do rival, Augusto correu até o alambrado, levantou os braços e estendeu as duas maos para a Fiel para sugerir, quem sabe, o pacto definitivo da reconciliaçao.




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