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Marisa Orth quer se livrar de Magda
Renata Petrocelli
Da TV Press
15/06/2003 | 19:16
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As peruas da ficção sempre perseguiram Marisa Orth. Desde a estréia na TV, como a ninfomaníaca Nicinha, de Rainha da Sucata (1990), até a limítrofe Magda, de Sai de Baixo, passando pelo teatro, onde viveu uma tresloucada apresentadora de TV no espetáculo de sua banda, a Vexame. Talvez por isso a atriz de 40 anos jura que não teve medo de voltar às novelas com mais um exemplar da espécie. “No Brasil, somos pródigos neste tipo. Há muitas nuances a explorar”, diz.

A intérprete da exagerada Van Van, de Agora É que São Elas, faz graça até quando tenta entender por que criou esta galeria de mulheres exibicionistas. “Só pode ser reencarnação!”, afirma. “Até porque, na vida, sou tão pouco perua”. De fato, não fosse pela presença marcante e pelas falas pontuadas por tiradas irônicas, Marisa até que faria um tipo discreto. A postura realista e a forma simples de encarar a glamourizada profissão de estrela de TV são as mesmas que demonstra no programa Saia Justa, do GNT, canal Globosat. Ao lado de Mônica Waldvogel, Rita Lee e Fernanda Young, a atriz muitas vezes faz o papel de organizadora das emoções do grupo – embora o posto oficial seja da jornalista. “Acho que sou boa mediadora de conversas”, diz, sem falsa modéstia.

Longe das novelas desde Deus nos Acuda (1992), Marisa assume que hoje se sente insegura diante do formato. A ponto de se lembrar de sua estréia, quando caiu de pára-quedas num elenco com Marília Pêra, Regina Duarte e Antônio Fagundes, que vivia seu noivo. Mas, depois do Sai de Baixo, a situação é diferente. “Mudei de patamar”, afirma. Quanto à reedição da dupla com Miguel Falabella, que vive o prefeito Juca Tigre na novela das sete, a atriz reconhece pelo menos uma grande vantagem. “Fica mais fácil explicar para o meu filho: Olha, toda vez que a mamãe trabalha, é casada com este moço’”, diz a zelosa mãe de João, 4 anos.

TV PRESS - Você acha que conseguiu exorcizar a Magda ou ela ainda transparece sob a pele da Van Van?

MARISA ORTH - A Van Van me lembra muito mais a Maralu Menezes, a personagem que fiz com o Vexame. Acho a Magda muito característica. No começo do Sai de Baixo, era só uma tola, mas no final era uma deficiente mental. Precisaria andar de mãos dadas com alguém na rua.

TV PRESS - Mas nem a reedição da dupla com o Miguel Falabella trouxe o receio de repetir a Magda e o Caco?

MARISA - Quando topei fazer a novela, nem sabia que o personagem seria do Miguel. Aí soube que seria ele e pensei: “Caramba, o Miguel de novo!”. Mas acreditei mais no amigo, no conhecimento absurdo que tenho dele.

TV PRESS - Você teve algum cuidado especial para diferenciar as duas personagens?

MARISA - Só um pouco de sotaque e uma saia um pouquinho maior. Aliás, saias tão curtas quanto aquelas, nunca mais! Meu único cuidado é tentar fazer bem esta mulher. Se eu a fizer bem, passará longe da Magda. E isso não depende só de mim. Tem o Linhares escrevendo, o Talma dirigindo, outros atores contracenando comigo. Se a Van Van existe no papel e se eu for uma atriz razoável a ponto de traduzir o que está lá, ela será a Van Van. Afinal, nossa profissão é esta. Preciso fazer pelo menos mais de uma.

TV PRESS - Quais foram suas principais inspirações na composição da Van Van?

MARISA - Várias amigas de nomes não citáveis. Tem uma coisa de interior de São Paulo, um pedaço de interior rico, onde a cultura não necessariamente acompanha o dinheiro. E uma certa alienação muito atual. Em meio a este clima de queda do Império Romano que estamos vivendo, a festa vai tocando em frente. O mundo indo para o buraco e elas ali, suntuosas, loucas.

TV PRESS - Ficar tanto tempo longe das novelas fez falta?

MARISA - A novela é uma tremenda instituição brasileira. Até brinquei com minhas amigas dizendo que não posso mais sair com elas porque estou ‘alistada’. A gente se sente prestando um serviço à pátria. E é bom poder voltar a fazer novela com mais segurança, mais prestígio. Vejo um ator jovem falando: “Nossa, estou contracenando com a Marisa Orth!” e me lembro da minha estréia. Mas continuo me sentindo insegura, porque é um formato que não domino. Não só por estar muito tempo afastada, mas porque fico entregue nas mãos do autor, do diretor, do público.




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