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Exportações para a Argentina caem 74%

Operações movimentaram US$ 107,9 milhões a menos na região em relação a janeiro de 2018

Yara Ferraz
do Diário do Grande ABC
05/03/2019 | 07:12
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As exportações para a Argentina despencaram no Grande ABC no início deste ano. No total, as operações para o país vizinho movimentaram US$ 36,8 milhões em janeiro, montante 74,6% menor do que no mesmo período de 2018, quando foi de US$ 144,74 milhões. A crise econômica que o país enfrenta, principal motivo para a diminuição na demanda, também repercutiu negativamente no total exportado pelo Grande ABC, que passou de US$ 369,8 milhões para US$ 259,23 milhões no período, queda de 30%.

Para se ter noção do peso da Argentina, mesmo com a crise, ela continua a representar 14,1% do total exportado pela região. Porém, no ano passado, a fatia chegava a 39,14%. Os dados foram levantados pelo Diário, com base nas informações disponibilizadas pela Secretaria de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia.

Percentualmente, a cidade que sentiu a maior queda foi São Caetano (-80,6%), porém, se considerarmos valores, somente em São Bernardo houve perda de US$ 101,63 milhões na comparação com janeiro de 2018 (veja mais na arte ao lado).

“A Argentina é o nosso primeiro mercado. O que agrava ainda mais a situação é que toda a economia internacional está vivendo um momento de crise. Com o posicionamento da nova política brasileira, que se aproximou de Israel, e como nós temos um grande mercado árabe principalmente na alimentação, isso deve trazer impactos mais cedo ou mais tarde. Também temos a questão do mercado da China, que pode ser impactado porque o Brasil vem se posicionando mais a favor dos Estados Unidos, e não há sinais de que vamos vender para os norte-americanos porque eles estão com uma política de retomada da produção interna”, analisou o economista e professor coordenador do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Jefferson José da Conceição.

De acordo com o especialista, a região não deve sentir os efeitos da aproximação com estes mercados, já que eles dificilmente devem substituir os hermanos. “Como região, estamos entre os maiores exportadores (considerando as sete cidades, o Grande ABC só ficou atrás de São Paulo no ranking de exportações do Estado em janeiro) e este posicionamento que o Brasil tem no cenário internacional tem reflexos negativos para a nossa economia”, disse Da Conceição.

Segundo Ricardo Balistiero, coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, caso a situação se prolongue, o efeito argentina deve impactar fortemente no PIB (Produto Interno Bruto) da região de 2019. Isso ocorre por conta da indústria automotiva, o principal pilar econômico do Grande ABC, que atualmente concentra seis montadoras e toda uma cadeia de empresas do segmento.

“No ano passado, o setor automotivo reagiu por conta do mercado interno, porque o externo foi muito ruim, puxado pela Argentina. A expectativa é a de que a ajuda que o país conseguiu no ano passado possa se refletir na melhora do mercado de trabalho e reative as exportações. Do contrário, deve ter um impacto grande na economia da região e principalmente no PIB de 2019”, afirmou Balistiero.

País perde liderança em três cidades este ano

Além da perda no montante exportado do Grande ABC, o efeito Argentina também foi sentido no comércio exterior de pelo menos três cidades. O país vizinho deixou de ser o principal parceiro comercial de Santo André, São Bernardo e São Caetano, em janeiro.

Em Santo André, onde os principais produtos exportados são os pneumáticos, a Argentina cedeu espaço para os Estados Unidos, responsáveis por 35% (US$ 13,1 milhões) do total (US$ 37,57 milhões). Os argentinos ficam em segundo lugar, com 22% do mercado (US$ 8,3 milhões). Em janeiro de 2018, o país ocupava a liderança, com a mesma porcentagem (movimentação de US$ 9,18 milhões), porém, na frente dos norte-americanos.

Onde veículos ou acessórios relacionados ao setor são maioria na exportação também ocorreu a mudança. Em São Bernardo, os hermanos lideravam no ano passado, representando 45%, ou US$ 126,06 milhões, do total (US$ 280,16 milhões). Neste ano, caíram ao terceiro lugar, atrás de Chile (27%) e México (15%), com 14% de participação (US$ 24,43 milhões) de US$ 172,68 milhões exportados.

Em São Caetano, a Argentina passou do primeiro lugar em janeiro de 2018 para o sexto este ano, atrás de Gana, México, Estados Unidos, Nova Zelândia e Bangladesh, com apenas 2,9% (US$ 261,71 mil) do montante de US$ 8,9 milhões. No ano passado, o país era líder, com 29% do mercado, movimentando US$ 3,71 milhões.

De acordo com Balistiero, a expectativa é a de que o mercado tenha uma “melhora discreta em 2019. Tudo vai depender do programa de ajustes com o FMI (Fundo Monetário Internacional)”, disse.

Já o economista Jefferson José da Conceição acredita que a recuperação só acontecerá em 2020, já que neste ano há eleições presidenciais na Argentina. “É um cenário que deve demorar para mudar.”  




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