Maria Gabriella da Silva Sousa Santos tem gosto peculiar para os jovens de sua faixa etária: ela é apaixonada por poesias. Aos 16 anos, a estudante de Mauá admite que essa linha de texto dentro do universo literário não atrai seus amigos. “É um pouco tenso”, brinca. “Na minha idade e no meu círculo de conhecidos, não lembro de ninguém que goste. Já conversei com um pessoal na internet que tem o mesmo interesse, mas, entre os amigos e na escola, sou a única.”

A união entre a influência de ler obras do gênero desde pequena e a vontade de expressar sua observação sobre momentos, coisas e lugares fizeram com que começasse a desenvolver o próprio material. “A poesia é tudo para mim. Minha mãe lia quando eu era menor, desde bebê. Redescobri a arte aos 10 anos, com Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Clarice Lispector, e nunca mais me distanciei”, explica, contando sobre sua fascinação por Fernando Pessoa. “É um mestre! Tem uma forma de ver as coisas que me encanta. Quando você lê, há algo especial, como se os textos fossem escritos para mim.”

Já se passaram cinco anos desde que escreveu os primeiros textos e parte deles está reunida em Poesias de Maria (Rizoma Editorial, 96 páginas), disponível em versão convencional (R$ 16, em média) e e-book (10, em média). O projeto de levar suas ideias para outras pessoas nasceu quando a família visitou feira de livros na Vila de Paranapiacaba, em Santo André. A primeira ‘fornada’ foi completamente independente, até que firmou acordo com uma editora para nova produção. 

Maria irá divulgar a obra na 25ª edição da prestigiada Bienal Internacional do Livro de São Paulo, onde estará presente na abertura (sexta-feira). “Tinha sonhado em ter meu próprio livro, mas não imaginava que fosse tão rápido. Nunca fui e me acho muito jovem para ter esse tipo de oportunidade profissional. Você pode escrever em qualquer idade, mas conheço escritores mais velhos que nunca tiveram uma chance”, conta, ainda achando tudo “surreal”. O evento ocorre até dia 12, no Pavilhão do Anhembi, com ingressos entre R$ 10 e R$ 25.

Segundo a autora, os contos presentes em Poesias de Maria falam de tudo um pouco. Do que a encanta no dia a dia, lembranças alegres, situações tristes, exemplos de amor e até mesmo algumas mensagens de protesto.

O contato das palavras da moradora do Jardim Anchieta com o público ainda dá os primeiros passos. A adolescente espera que essa exposição de sensações e sentimentos cause impacto em prol da arte que tanta ama. “Quero que o livro seja um convite para o mundo da poesia. Se você chegar a uma pessoa que não está acostumada a esse tipo de leitura, a chance de ela não ter um olhar sensível é grande. Temos que apresentar com sutileza para, depois, falar de um material mais existencial. Desejo que todos sintam o que eu sinto. A poesia já existe nas coisas. Só é preciso enxergar”, diz.

TRECHO DE "A MARIA, DE POESIA"

Eu ando em um mar de gente,

de nuvens, de pensamentos.

Eu ando em um mar salgado de água doce, de sentimentos.

E nesse mar com esse verso,

eu tento fazer poesia.

Poesia livre, poesia solta,

poesia, pura poesia!

E como eu queria escrever,

para muita gente ler!

E como eu queria eternizar, meu poema.