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CPI senta a poeira para analisar documentos
Do Diário do Grande ABC
22/01/2000 | 12:58
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Longe dos holofotes, a comissao parlamentar de inquérito que mais barulho fez no ano passado, com métodos polêmicos de investigaçao e manchetes quase diárias na mídia, está recolhida para finalizar seu trabalho. Imersa em milhares de documentos envolvendo principalmente sigilos bancários, telefônicos e fiscais, a CPI do Narcotráfico já antecipa que o trabalho de investigaçao precisará prosseguir com as CPIs estaduais. "Tem muito ainda a avançar", justifica o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS), sub-relator dos trabalhos da comissao em Campinas, cidade apontada pela CPI como o centro de lavagem de dinheiro do crime organizado.

A CPI interrompeu seu trabalho de campo no final do ano passado, após ouvir dezenas de testemunhas e implicados e de reunir mais de 500 volumes, alguns com mais de mil páginas. Os sigilos quebrados sao cerca de 300 - de empresas e pessoas citadas nos depoimentos prestados à comissao - e é sobre eles que a comissao se debruça agora, nao sem reclamar da falta de técnicos especializados para analisar a papelada. Os deputados contam atualmente com a ajuda de funcionários da Receita Federal, do Banco Central e do Tribunal de Contas da Uniao, mas o atraso no envio de informaçoes pedidas a alguns órgaos públicos tem atrapalhado, reclama o presidente da comissao, Magno Malta (PTB-ES).

Ele calcula que até março, quando a comissao deve encerrar seus trabalhos, apenas 30% dos documentos serao analisados. O que ficar pendente será encaminhado às comissoes parlamentares dos Estados. Sao Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná e Maranhao já têm comissoes investigando as ramificaçoes do tráfico em seus Estados.

O atraso no recebimento dos documentos pedidos à Receita e BC pode respaldar um pedido de prorrogaçao da CPI. O relator da comissao, Moroni Torgan (PFL-CE), disse nesta semana que nao pretende fechar seu relatório sem antes analisar os sigilos já quebrados. "Enquanto nao forem analisados pelo menos 80% de toda esta documentaçao nao vamos terminar a CPI", declarou o relator na quarta-feira. A idéia dele é pedir a prorrogaçao dos trabalhos pelo menos até junho.

Campinas - Pompeo de Mattos, que está tratando dos documentos referentes a Campinas, diz que a cidade onde coordenou as investigaçoes é o centro de referência para o trabalho da comissao. "Ela merecia uma CPI própria tal a quantidade de envolvidos", afirma, lembrando que as investigaçoes mostraram a conexao com Estados como o Acre e Alagoas, na distribuiçao da droga e lavagem de dinheiro. Só lamenta o fato de os envolvidos no crime "nao terem aberto o bico".

Segundo ele, o "único erro" da CPI em Campinas foi nao ter negociado com o advogado Arthur Eugênio Mathias, apontado como braço-jurídico do crime organizado, para que desse nomes de envolvidos. O deputado conta que Mathias se propôs a revelar nomes, mas com a condiçao de isso fosse feito em segredo. "A CPI poderia ter fatos, ainda que em segredo, mas a proposta nao foi aceita porque foi considerada aética pelos deputados". Para Pompeo, Mathias "sabe tudo" sobre as ramificaçoes do crime organizado na cidade. "Tudo o envolve", afirma.

O advogado está preso desde o final de novembro em Campinas, após ter sido acusado pelo caminhoneiro Adilson Dias Luz de integrar quadrilha de roubo de carga. Adilson, porém, voltou atrás nas acusaçoes e agora acusa delegado, promotores e a própria CPI de tê-lo forçado a incriminar Mathias. O deputado Pompeo rebate as acusaçoes e minimiza o fato de o caminhoneiro ter recuado em suas denúncias contra Mathias. Segundo ele, o motorista Jorge Meres, atualmente a principal testemunha da comissao sobre as ramificaçoes do tráfico e crime organizado no país, reafirmou as denúncias de Adilson contra o advogado e deu ainda mais informaçoes.

Pompeo atribui a reviravolta na história de Adilson ao fato de ele nao ter recebido do governo a proteçao necessária após as denúncias. "Acredito que ele recuou muito menos pelo que contou e mais pelo que nao recebeu", disse. De acordo com o deputado, o governo nao cumpre seu dever de implantar com eficiência o programa de proteçao de testemunhas.




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