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Adoniran Barbosa é tema de documentário

Documentário que estreia quinta-feira mostra o homem por trás do personagem Adoniram Barbosa

Miriam Gimenes
Do Diário do Grande ABC
20/01/2020 | 07:09
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Divulgação


“Em Santo André eu fui encanador, de água e esgoto, hein. Abria valeta que cobria eu e você junto, na picareta. Tanta coisa que eu fui, rapaz. Fazia samba no caminho, andando. Eu já queria fazer samba.” É com este áudio e com uma tela preta que tem início o documentário Adoniran – Meu Nome é João Rubinato, que conta a história de um dos maiores artistas da música popular brasileira, o pai do sampa paulista, Adoniran Barbosa, que, como se pode notar, teve passagem significativa pelo Grande ABC. O longa entra em cartaz quinta-feira, dois dias antes do aniversário de São Paulo, transformada genialmente em versos por este paulista desvairado.

A obra é do cineasta Pedro Serrano, que relaciona a trajetória do artista, que teve início em 1910 e cessou em 1982, com o crescimento da cidade em questão. “Como todo paulistano, tive contato muito cedo com a obra dele e o que me fascinou, já mais velho, era como as músicas tinham narrativas visuais, tratavam muito bem da transformação de São Paulo nessa megalópole. Como alguém daqui e fã do trabalho dele, (fazer o filme) foi uma oportunidade de entender o meu próprio lugar, que ele retratou principalmente nos anos 1950, que observo e vejo todos os dias até hoje nas ruas da cidade”, explica.

Após o áudio já mencionado, dito com a sua reconhecível voz rouca – muito em razão do cigarro, seu fiel companheiro –, o longa passa em detalhes pelas suas composições, inclusive as várias versões do surgimento do Samba do Arnesto, entrevistas com pessoas próximas, entre elas o sobrinho e a única filha, Maria Helena Rubinato, além de artistas que trabalharam com ele ao longo desta jornada, como o grupo Demônios da Garoa, que gravou o seu maior sucesso, O Trem das Onze. Cada qual com suas histórias peculiares.

Arnesto, por exemplo, que na verdade era Ernesto, diz que jamais teria marcado com Adoniran e o deixado esperando, como dizem os versos da canção. “Mas ele me disse: ‘Arnesto, se não tem mancada, não tem samba’.” Este jeito irreverente e malandro foi a marca de João Rubinato, muito bem retratado no documentário. O longa também mostra as atuações de Adoniran em filmes, principalmente em O Cangaceiro (1953), produzido na Companhia Vera Cruz, de São Bernardo. “O documentário retrata o Adoniran já conhecido, uma pessoa brincalhona, mas traz um lado mais sensível, profundo, desse poeta tão atento às mazelas sociais do povo de São Paulo, cidade que foi o grande tema das crônicas sociais que ele trouxe para o samba”, analisa Serrano. A cidade, portanto, torna-se um personagem coadjuvante da história.

Além disso, ressalta o cineasta, é importante que as pessoas assistam até para ver que o João Rubinato foi além de Adoniran, embora tenha ficado conhecido apenas por esse personagem. “Ele fez muitos personagens de sucesso na rádio (só na Rádio Record eram 16), não fez apenas o Adoniran.” Um dos mais populares era Charutinho, do Programa História das Malocas. Adoniran era, a seu ver, a faceta que ele usava para chegar ao público. “João era mais profundo e um pouco amargurado de observar tanto as questões sociais, como também o próprio sofrimento que teve em Valinhos, em Santo André, quando chegou em São Paulo, inclusive por todas as dificuldades que teve para se estabelecer como artista. Acredito que em vida não teve o reconhecimento que gostaria.” Rubinato morreu pobre – tinha apenas uma casa –, mas deixou um legado artístico de valor inestimável. 




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