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Classe C ganha fôlego ao partilhar crédito
Alexandre Melo
Do Diário do Grande ABC
30/05/2010 | 07:06
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Ajudar familiares e amigos financiando o sonho deles é mais comum do que se pensa entra as famílias da chamada ‘nova classe média'. É difícil encontrar alguém que não tenha emprestado dinheiro, cheque ou cartão de crédito, tanto que pesquisa da consultoria Data Popular mostra que 22% da classe C e 25% da D confiam seu plástico aos outros, contra apenas 3% na AB.

Mais do que ser generoso com o próximo, o ato significa investir na relação social e garantir ajuda futura nas horas de dificuldade. Isso é o que afirmam especialistas e também a assistente administrativa Marcia Souza, 36 anos, moradora de São Bernardo.

"Empresto o cartão para as amigas, inclusive uma delas me deu cheques quando precisei. Sempre pagamos certinho, assim nossa amizade não é abalada", diz Marcia. Entretanto, nem sempre tudo acontece da forma certa, e a própria assistente já levou calote.

Ela detalha que a pessoa comprou um sapato no valor de R$ 150 parcelado em cinco vezes, mas pagou apenas até a terceira. "Tive que arcar com o prejuízo", lembra. Assim como empresta o cartão de crédito às amigas até para fazer a compra do mês, Marcia também solicita o da irmã para comprar calçados em cinco "leves" prestações.

Segundo o diretor de cartões do Itaú Unibanco, Marcos Magalhães, entre 40% e 50% das pessoas pertencentes à classe C concedem o cartão para amigos e familiares fazerem compras. "A atitude fortalece a rede social do indivíduo, é como fazer um churrasco em casa para os amigos", compara o executivo.

Partilha - Outra pesquisa, da agência de publicidade WMcCann, descobriu que 36% da população da classe C ainda não possui conta-corrente, fatia que os bancos consideram estratégica para fisgar por meio da oferta do plástico. Este é o caso da desempregada Marina Peres, 54, que foi ao banco duas vezes e não conseguiu abrir a sua. "É muita burocracia, por isso uso a conta do meu filho. Tinha até o cartão de crédito, que cancelei há pouco tempo", explica a mauaense.

Marina também é responsável pela conta que seu outro filho não movimentava. Ela deposita lá a aposentadoria do irmão, usando o cartão de débito para fazer compras.

Na mesma linha, a auxiliar de educação infantil Marcela Maria Cerqueira, 21, recorre à família para aumentar seu poder de compra. Nesta semana ela pegou o cartão da irmã para comprar o presente do namorado e parcelá-lo em três vezes. "Durante algum tempo tive cartão, mas o limite era pouco e a anuidade alta. Decidi cancelar", dispara. Quando estava com o plástico afirma que emprestava às amigas.

O sócio-diretor do Data Popular, Renato Meirelles, diz que mais de 70 milhões de brasileiros tem ao menos um cartão de crédito na carteira, sendo que 60% deles estão na classe C e outros 21% estão nas classes D e E. "Nas regiões que concentram a população de baixa renda é comum ter pequenos comércios que fazem caderneta para pagamento fiado. Essa lógica envolve noções de solidariedade, confiança e reciprocidade." Meirelles acrescenta que 14 milhões de pessoas que têm cartão o emprestam para compras de parentes, vizinhos ou amigos.




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