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CNBB convida eleitor a ‘varrer’ político corrupto
30/06/2006 | 00:06
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Um convite para varrer da vida pública os políticos envolvidos nos escândalos do mensalão e dos sanguessugas foi feito nesta quinta-feira pelo presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), cardeal Geraldo Majella Agnelo, arcebispo primaz do Brasil, responsável pela Arquidiocese de Salvador, para quem a corrupção é endêmica e histórica no país. “O eleitor precisa estar atento nestas eleições e analisar detidamente a conduta ética para que essa gente não retorne ao parlamento e também para não se deixar comprar por promessas e vantagens pessoais”, defendeu o religioso.

Numa referência à denúncia feita pela Procuradoria Geral da República contra 40 envolvidos no mensalão, vários deles candidatos nesta eleição, dom Geraldo acha que a justiça deveria vetar as candidaturas até que o STF (Supremo Tribunal Federal) os julgue.

“Talvez eles devessem ser impedidos de se apresentar nesta eleição”, defendeu o presidente da CNBB, referindo-se a mensaleiros e sanguessugas com indício de culpa bem fundamentado no processo. A entrevista foi concedida por ocasião do encerramento da reunião anual do Conselho Permanente da CNBB.

O cardeal defendeu uma profunda reforma política e eleitoral como a primeira tarefa do novo governo. Apesar de ver raízes históricas na corrupção há quase 500 anos no país, o primaz do Brasil acha que isso não absolve o atual governo, que tem usado esse argumento em seu favor. “Nada justifica que a corrupção continue e que o governo e a classe política cruzem os braços. É urgente que a corrupção seja truncada, vencida, para o bem geral do país”, enfatizou.

Mas, segundo o religioso, o Congressso – e não o governo – é o principal responsável pela manutenção do sistema político propício à corrupção. “Não é um problema exclusivo do governo, mas da sociedade e da classe política em geral, que sempre obstruiu as tentativas de moralização”, enfatizou.

O vice-presidente da entidade, dom Antônio Celso de Queirós, bispo de Catanduva (SP) completou o raciocínio com uma observação curiosa. “Se todo o dinheiro roubado no país fosse esse (o dos mensaleiros e de outros acusados em escândalos no governo Lula), o Brasil seria o país menos corrupto do mundo”. Ele sugeriu que se somasse tudo e se contextualizasse o valor com os saques promovidos no Brasil ao longo da história.

Para dom Antônio, de vez em quando, em momentos como o atual, o Brasil vive “surtos de moralidade” apenas porque interessa a alguém denunciar. “Se a corrupção tivesse começado no governo Lula, seríamos o país que menos desviou dinheiro”, disse ele, insistindo que “a corrupção é endêmica no Brasil e não há vontade efetiva na classe política em estabelecer a ética pública”.

Os dois prelados criticaram também o sistema representativo brasileiro, no qual a população é excluída das decisões. “O governo é dominado por uma pequena elite que manda, tem dinheiro e o controla dos meios de comunicação, constatou dom Geraldo”. Para ele, o governo Lula errou por não rompeu essa lógica.

Dom Geraldo disse que a CNBB não recomendará o voto em favor de algum candidato em detrimento do outro e negou que, em 2002, a instituição tenha feito opção por Lula. Ele admitiu, porém, que parte expressiva do clero tenha feito opção pessoal pelo petista, mas não sabe se isso se repetirá.

O cardeal aproveitou para puxar a orelha dos candidatos que, como Lula, estão apelando para a fé do eleitorado para tirar vantagens eleitorais, mediante o uso de slogans com citações de Deus. “Não usem o santo nome de deus em vão”, disse o cardeal, numa referência ao segundo mandamento da lei divina.




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